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A dívida como solução positiva

em Opinião
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Henrique Tarasiuk (*)

Começo com uma pergunta: o que é Dívida? Generalizando e buscando sair de uma linguagem técnica, dívida é toda forma de financiar algo.

No caso de uma empresa, todos os “dinheiros” que são usados para a sua operação e que no momento que são utilizados não saíram do seu caixa, podem ser tidos como financiamento.

Sabe quando seu fornecedor lhe dá um prazo para pagar (você tem a mercadoria, mas só vai tirar dinheiro do seu caixa depois de um tempo) ou quando um sócio aporta dinheiro na empresa (você tem o dinheiro na empresa, mas eventualmente vai precisar devolver este para o sócio – via dividendos em geral)? Então, são dois exemplos de dívidas.

Agora que sabemos o que é uma dívida ou financiamento, vamos entender como fazer dela um ponto positivo e quais cuidados devemos tomar para que ela não se transforme em um grande pesadelo.

Apesar de parecer óbvio, todo dinheiro dentro da empresa deve gerar mais dinheiro, ou seja, se um dinheiro entra como dívida ele deve ser utilizado para gerar mais dinheiro. Isso acontece por exemplo quando financiamos equipamentos, quando criamos uma dívida para expansão, quando em um futuro a empresa irá gerar mais caixa do que no momento em que contrai a dívida.

Por outro lado, “cobertor curto” é o pior pesadelo, quando a empresa contrai uma dívida para pagar outra dívida, e outra dívida, e outra dívida… Os juros acabam se acumulando, a pouca geração de caixa fica cada vez menor e o pior, mais comprometida aos pagamentos das dívidas.

Outros pontos que devemos ter muita atenção se referem aos prazos e custos (juros). Quando se contrai, por exemplo, uma dívida para uma expansão ou para a compra de equipamentos, espera-se que isso aconteça em um determinado período. Seu endividamento deve ser contraído em um prazo adequado com o seu fim, por este motivo geralmente prazos de financiamentos de equipamentos são longos, enquanto capital de giro é curto.

Quanto ao custo, seguimos o mesmo raciocínio, o custo de uma dívida nunca deve ser analisado por si só, mas sim comparando-o com o retorno do investimento para o qual será destinado, se a sua expansão irá gerar uma rentabilidade alta sobre o investimento, este necessariamente deve ser maior do que o custo da sua dívida, caso contrário estará pagando para expandir.

Um último item, que normalmente gera muita confusão na cabeça dos empresários, “devo contrair dívida ou investir o meu dinheiro como pessoa física na empresa?”.

Levando em consideração que a Selic hoje está na casa dos 7% (a.a.) e que geralmente os bancos adotam uma taxa um pouco mais alta do que esta, vamos dizer “O DOBRO”, 14% (a.a.), ainda, que o empresário irá querer o seu capital de volta, com retorno, caso faça o investimento como pessoa física, se o retorno que ele espera for menor do que o custo da dívida (14% a.a. neste exemplo), sim ele deve investir, caso contrário, o que ocorre na grande maioria dos casos, não. Ele deve buscar outras formas de financiar sua operação.

Vale lembrar que estes pontos foram expostos de maneira superficial e que existem limites ideais de endividamento, não se deve pegar todo o dinheiro que está à disposição simplesmente porque “eu posso”. Existe uma ciência por trás das escolhas financeiras e todos os pontos podem ser otimizados. O papel do gestor é fazer estas escolhas da maneira mais adequada para a sua capacidade e apetite ao risco.

Com muito cuidado e conhecimento, uma dívida pode sim ser positiva para uma empresa.

(*) – É consultor financeiro e fundador da Legacy Partners (www.legacypartners.com.br).