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A arte de educar engenheiros

em Opinião
quarta-feira, 09 de setembro de 2015

Mauro Andreassa (*)

Todos nós, engenheiros e técnicos, somos filhos da revolução industrial.

Antes tudo era manual. Aliás, desta palavra surge o termo manufatura. A transição dos processos manuais para a produção por máquinas em algum momento do século XVIII foi um divisor de águas no mundo. Artesãos cuidavam de todo o processo, da matéria-prima até a venda do produto final nas suas próprias casas.

A máquina a vapor permitiu a construção de trens que alcançavam a incrível velocidade para a época de 45 km/h substituíndo as carruagens que viajavam a 12. A Revolução Industrial nada seria sem o carvão e o ferro. O carvão para a energia e assim acionar as máquinas a vapor, e o ferro para construir as máquinas. As minas de carvão e o minério de ferro da Inglaterra foram importantes para converter o país na primeira nação industrial do mundo.

Caminhando um pouco mais no tempo, chegamos em 1911 em que Frederick W. Taylor publica o livro “Os princípios da administração” onde expõe seu método de racionalização da produção, economia de mão-de-obra, aumento da produtividade no trabalho, corte de gastos desnecessários e comportamentos supérfluos por parte do trabalhador. Essa filosofia ainda permeia o ensino, pela fragmentação do conhecimento, competição e hierarquização, organização do tempo, das disciplinas e a linearidade artificial da aprendizagem.

Mas se por um lado a educação para a engenharia tem demonstrado pouca vitalidade para mudanças, por outro o mundo real se mostra visceralmente radical. Podemos claramente traçar um paralelo com a Internet. A comunicação e a democracia da informação têm ares de uma nova revolução industrial. A internet é o ferro e o carvão de quase 250 anos atrás. Mas a marcha da civilização sugerida por Alvin Toffler, economista e futurólogo, chegou à sua terceira onda: A informação e o capital intelectual.

Na academia os alunos ainda são vistos como seres caminhando por uma esteira de produção e parando de estação em estação, de sala de aula em sala de aula. Então os professores, operadores do conhecimento, depositam em suas cabeças pacotes de conhecimento padronizados como “primeiro ano”, “segundo ano” etc. E as avaliações seguem uma mera forma de classificar e rotular estudantes.

Entretanto, a marca do mundo atual é a complexidade. Mesmo com os esforços incessantes dos professores – entre os quais me incluo – em dinamizar as salas de aula com trabalhos, monografias de conclusão de curso, projetos, relatórios de laboratórios etc., ainda estamos longe de preparar os alunos para a realidade do mercado. Todos os dias uma conversa informal, uma caminhada na linha de produção, uma visita ao laboratório. Quando nos levantamos de manhã não sabemos qual será o fenômeno da física que enfrentaremos, o fragmento e a profundidade do conhecimento que nos desafiará. E assim, de certa forma, o engenheiro se torna um artesão do conhecimento.

A questão que se coloca é que tem ficado para a indústria a tarefa de continuar a construir no jovem engenheiro o conhecimento necessário para o atendimento às novas demandas.

É impossível galgar os degraus do conhecimento sem a interação da educação formal com o mundo real, por meio de parcerias que aproximem universidade e indústria. A SAE Brasil acredita e tem apostado nesse caminho por meio de seus programas estudantis, e de seus cursos de educação continuada. Por isso convidamos especialistas e um estudante para esse debate no Painel Educação de Engenharia do Congresso 2015.

Esperamos com essa iniciativa suscitar reflexão e, quem sabe, novos conceitos. Como cita o pensador Toffler, precisamos de um espaço para desaprender e aprender. “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e reaprender” (Alvin Toffler).

(*) – É membro do Comitê Educação de Engenharia do Congresso SAE Brasil, South America STA Senior Manager Site da Ford, e professor no Instituto Mauá de Tecnologia.