Clemente Ganz Lúcio (*)
Mas não é fácil fazer a roda da economia girar a fim de dinamizar empregos e salários.
Mais uma vez, neste final de ano, a economia brasileira recebe a injeção de mais de R$ 200 bilhões decorrentes do pagamento do 13º salário, recebido por 83 milhões de pessoas, trabalhadores assalariados e beneficiários da previdência social (aposentados e pensionistas). Essas e outras estimativas estão na Nota à Imprensa divulgada pelo Dieese, disponível em (www.dieese.org.br).
O pagamento do 13º salario já se incorporou à economia nacional, ampliando o mercado de consumo interno, com o aumento dos gastos das famílias, e movimentando boa parte do setor produtivo. As empresas programam a produção para atender o que o 13º salário criará de demanda adicional. Assim, o gasto do empregador, ao pagar os salários, retorna imediatamente como lucro, com o consumo de produtos ou serviços.
O empregador investe na produção, contratando trabalhadores, gerando empregos e pagando salários, porque aposta e confia que terá retorno (lucro) a partir do consumo, que é resultado da soma dos salários pagos por toda a economia. Mas não é fácil fazer a roda da economia girar a fim de dinamizar empregos e salários.
No geral, são os próprios trabalhadores que, ao lutar por empregos e pela melhora dos salários, estimulam a economia. E mais: com essas lutas e as conquistas obtidas, conseguem melhorar a distribuição de renda e enfrentar o problema da desigualdade. Muitas condições e benefícios que existem no cotidiano de todos nós e aparentam ser simplesmente “direitos naturais”, perenes, são, na realidade, resultado de muita luta.
O 13º salário é um exemplo. Implementado em 13 de julho de 1962 pelo presidente João Goulart, surgiu da gratificação natalina que muitos trabalhadores conquistaram durante a década de 1950 e só se transformou em lei, num direito de todos, com longa luta institucional – da mesma forma, é consequência das lutas dos trabalhadores o direito às férias, às indenizações por demissões, à jornada de trabalho de 44 horas, entre tantos outros.
As reações contrárias existiram sempre, como as manifestações de empresários que afirmavam que a implantação do 13º salário seria desastrosa para o Brasil, inviabilizaria as empresas etc. Hoje todo o meio empresarial incorporou a lei e compreende a importância do pagamento do 13º salário para a dinâmica econômica.
As mudanças distributivas são resultado de lutas sociais realizadas para vencer resistências e conquistar adeptos. Nessas disputas, sempre foi e será fundamental esclarecer detalhadamente o objetivo do projeto que se quer construir e no que o projeto consiste. É importante lembrar e conhecer as histórias de tudo o que está no cotidiano atual e que, muitas vezes, aparece como situação natural, ou ainda como dádiva.
Não se pode esquecer jamais que a base de todos os direitos tem como lastro a vida e o sangue de muita gente, que lutou arduamente e que, nem sempre, chegou a usufruir daquilo que ajudou a conquistar. As lutas dos trabalhadores, ao longo da história, são responsáveis pela conquista de importantes avanços, não apenas trabalhistas, mas também sociais, em todo o mundo.
É preciso lembrar sempre e fazer com que todos saibam disso.
(*) – É sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização.