Fernando Scheffer (*)
A Inteligência Artificial (IA) está revolucionando diversos setores da economia global, e a expectativa é de que a construção civil seja um dos mais impactados pelo recurso a longo prazo. Embora sua implementação ainda esteja em estágio inicial, e com poucos resultados concretos, seu potencial para transformar a indústria é imenso.
Uma das principais promessas a partir desta junção mais intensa é o fornecimento de insights valiosos e otimização de processos por meio da coleta, análise e interpretação de grandes volumes de dados, o que possibilita a redução de custos e melhora da qualidade nas construções. Através de algoritmos de aprendizado de máquina, a IA é capaz de identificar padrões, prever resultados e tomar decisões mais assertivas, superando as limitações da análise humana.
Com isso, finalmente será possível concluir uma imputação de dados mais precisa ao setor, o que deve assegurar previsões mais certeiras para custos e prazos, redução no desperdício de materiais, além da otimização da logística e segurança nos canteiros de obras. Mais do que isso, a tecnologia deverá ser importante também para auxiliar na criação de modelos de construção mais eficientes, sustentáveis e de menor impacto ambiental.
A principal prova desses benefícios pode ser observada nos ambientes em que este imput de dados já tradicionalmente acontece, como é o caso das chamadas construções industrializadas, como o Light Steel Frame. Reconhecido pelo uso contínuo da tecnologia, esses sistemas construtivos apresentam como principal diferencial a previsibilidade da entrega e do custo final das edificações.
Vale ressaltar que, segundo o estudo Produtividade e Oportunidades para a Cadeia da Construção Civil, elaborado pela Deloitte, a imprevisibilidade das obras é o principal desafio enfrentado pelo setor, levando em conta as construções em alvenaria. Além disso, a IA se consolida como uma aliada importante contra o principal desafio atrelado às obras em Steel Frame: a percepção de ser mais cara em comparação aos modelos tradicionais de alvenaria.
Isso porque a tecnologia pode baratear os componentes estruturais, uma vez que será capaz de tornar todo o processo de estruturação e construção muito mais preciso. Apesar dos benefícios evidentes, a inserção da IA na construção civil enfrenta desafios. Um dos mais significativos é o conservadorismo da área. Embora justificável diante da alta complexidade dos cálculos e a exigência de níveis altíssimos de segurança, essa noção ainda representa um obstáculo significativo para a sua adoção em massa.
Outro grande entrave encontra-se na pulverização da construção civil brasileira e na informalidade do setor. Hoje há inúmeras empresas atuando de forma independente, o que dificulta a implementação generalizada de novas tecnologias. Em relação a informalidade, isso dificulta o input dos dados para que possam ser analisados futuramente.
Para superar essas barreiras, é fundamental investir em educação dos consumidores e treinamento dos profissionais da área, além de promover a colaboração entre empresas, universidades e centros de pesquisa. Junto a isso, a criação de plataformas e ferramentas de IA específicas para o setor da construção civil também podem acelerar a sua adoção no cenário nacional.
A verdade é que a Inteligência Artificial representa uma oportunidade importante para modernizar a construção civil. Embora sua aplicação ainda esteja em um ciclo inicial, o potencial de transformação é inegável. Ao superar a informalidade e melhorar a gestão dos dados nas obras, a IA pode levar a uma revolução na eficiência das obras, tanto para as empresas como principalmente para os consumidores finais.
A virada de chave passa muito pela disposição do setor em abraçar a inovação e superar os desafios inerentes à sua estrutura atual. A minha expectativa é de que isso se concretize dentro dos próximos cinco anos.
(*) – É fundador da Espaço Smart (https://www.espacosmart.com.br/).