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Black Friday enfrenta desafios de credibilidade e adesão do consumidor

em Negócios
quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Roberto James (*)

A Black Friday, evento de descontos criado nos Estados Unidos, surgiu como uma ação estratégica de varejistas norte-americanos para esvaziar estoques e abrir espaço para as vendas de Natal. Nos EUA, a data mantém sua essência, impulsionada por consumidores ávidos por boas ofertas logo após o Dia de Ação de Graças.

Já no Brasil, embora a Black Friday também seja um sucesso, o evento adquiriu contornos diferentes, desde a confiança dos consumidores até o modo como os lojistas oferecem os descontos. A edição de 2024, marcada para 29 de novembro, promete um faturamento robusto de R$ 9,3 bilhões no Brasil, de acordo com o Panorama do Consumo Black Friday 2024, realizado pelo grupo Globo.

Mas, apesar da expectativa positiva, o evento ainda enfrenta desafios, onde o consumidor é cauteloso e fica em alerta para as práticas da famosa “Black Fraude”. Nos Estados Unidos, o intuito da Black Friday é claro: limpar estoques antigos para abrir espaço aos produtos que dominam as vendas de final de ano. Com poder aquisitivo alto, os americanos veem a data como uma oportunidade estratégica para aproveitar grandes descontos, comprando itens como eletrônicos, roupas e eletrodomésticos a preços reduzidos.

No Brasil, o contexto é diferente. Por aqui, com uma cultura inflacionária mais marcada e um histórico de altas taxas de juros, a Black Friday acaba sendo uma chance de aliviar o bolso do consumidor, ainda que o apelo seja mais disperso devido à proximidade com o Natal. No Brasil, o período ideal para renovação de estoques geralmente acontece em janeiro, após as compras natalinas. Esse deslocamento temporal faz com que a Black Friday brasileira assuma um caráter menor de “limpeza de estoques” e maior de incentivo de consumo imediato.

Enquanto nos EUA a data é sinônimo de “ofertas únicas”, no Brasil, a expansão para a “Semana Black Friday” e até “Novembro Black Friday” enfraquece a sensação de urgência. O consumidor se vê diante de promoções que se prolongam e que, frequentemente, levantam suspeitas sobre a veracidade dos descontos. No Brasil, a Black Friday enfrenta uma barreira de confiança: cerca de 60% dos consumidores acreditam que os descontos não são reais, segundo pesquisas do setor.

Isso se deve em parte à prática de alguns comerciantes que elevam os preços antes do evento para criar a falsa impressão de desconto. Esse cenário ressalta a importância de uma estratégia de marketing mais séria e direcionada no Brasil. Com o avanço da tecnologia e a facilidade de pesquisa, os consumidores estão mais atentos e informados, o que obriga as empresas a seguirem políticas de preço transparentes para não perderem credibilidade.

Desde 2023, o mercado brasileiro começou a explorar outro artifício: a criação de listas VIP e grupos exclusivos em plataformas como WhatsApp. Ao oferecer acesso antecipado a promoções, essas estratégias aumentam o apelo de exclusividade e confiança entre os consumidores. Essa tática, porém, só é eficaz se realmente houver vantagens antecipadas para os inscritos; caso contrário, torna-se apenas mais um exemplo de manipulação promocional, minando a confiança.

Para os varejistas, a dica é clara: adotar padrões de precificação e ofertas inteligentes pode ser o diferencial que fortalece a Black Friday brasileira. Estratégias que estimulam o giro de estoque e aumentam o volume de vendas, além de atrair novos consumidores, são essenciais. Em uma era de conectividade e acesso fácil à informação, ações promocionais genuínas são o caminho para manter a credibilidade e aproveitar ao máximo o potencial da Black

Com o crescimento do comércio digital e a adaptação do consumidor a novas formas de compra, a Black Friday segue como um dos principais eventos do calendário brasileiro, mas ainda com muito a aprender com o modelo norte-americano, onde a data não só movimenta bilhões, mas também é sinônimo de confiança e oportunidades reais de compra.

(*) – É mestre em psicologia, especialista em comportamento de consumo e em criação de estratégias de vendas (https://robertojames.com.br/).