Vivaldo José Breternitz (*)
Talvez ainda não tenhamos percebido os impactos que o crescimento da Amazon trará à nossa vida diária, provavelmente porque a empresa ainda não está muito presente no Brasil. Alguns desses impactos serão positivos, ao permitir-nos comprar com mais conforto e muitas vezes gastando menos, em função da economia de escala obtida pela Amazon ao negociar grandes quantidades com produtores, além de seu refinado sistema logístico.
Também haverá impactos negativos, com muitos pequenos varejistas fechando as portas, por não conseguirem concorrer com a gigante, por exemplo. Para termos uma ideia da proporção que as operações da Amazon estão tomando, vamos analisar o que ela faz em termos de aumento de seu quadro de pessoal, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá, onde está contratando mais 100 mil trabalhadores para seus centros de distribuição, altamente automatizados com o uso intensivo de robôs e inteligência artificial; 100 novos centros foram abertos neste mês.
A empresa já havia contratado 175 mil novos funcionários em março e abril, dentre os quais 50 mil temporários – atingindo assim 1 milhão de funcionários em todo o mundo. A título de comparação, os grandes bancos brasileiros, Bradesco, Brasil e Itaú, tinham, cada um, por volta de 100 mil funcionários no início de 2019. O menor salário pago a esses trabalhadores é de US$ 15 por hora, mas em determinados locais, onde a mão de obra é mais escassa, há um bônus de mil dólares na assinatura do contrato.
A empresa tenta preencher outras 33 mil vagas nas áreas administrativa e de tecnologia, com salário médio anual de US? 150 mil, incluídos benefícios. Esse exército ajudou a empresa a lucrar 5,2 bilhões de dólares no segundo trimestre deste ano, mesmo tendo gastado cerca de 4 bilhões em iniciativas ligadas ao combate à covid-19. É assustador pensar no poder de uma empresa desse porte e que segue crescendo.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.