Karin Neves (*)
Um programa executivo, que acontece em uma das mais renomadas escolas de negócios da França, reuniu cerca de 35 alunos, representantes de altas lideranças de grandes empresas de vários países e setores. O objetivo foi aproximar esses líderes das práticas e das ferramentas para construção, implementação e mensuração de estratégias eficazes de sustentabilidade, tanto para as organizações quanto para o planeta.
O treinamento reforçou o conceito de que, para maximizar o impacto das iniciativas sustentáveis, o ideal é construir uma abordagem focada em nichos. Também abordou como é possível desenvolver produtos e serviços sustentáveis que garantam à empresa um retorno financeiro competitivo, um desafio cada vez mais presente com novos índices de sustentabilidade.
Contrariando o mito de que a sustentabilidade exige altos investimentos, o programa demonstrou que é possível atuar de forma sustentável com planejamento cuidadoso e sem grandes despesas. Focar em nichos específicos e realizar investimentos bem direcionados são chaves para a implementação eficaz de práticas sustentáveis.
No Brasil, a adoção de práticas exemplares de sustentabilidade está em crescimento. Índices de sustentabilidade ganham cada vez mais importância. Eles oferecem uma avaliação objetiva das práticas das empresas, assegurando a eficácia e a credibilidade das ações realizadas. Esta é uma tendência que deve se consolidar à medida que a conscientização e regulamentação no país se aceleram.
Apesar da riqueza de recursos naturais que o país oferece, como poucos lugares no mundo, a energia e o combustível ainda são gargalos significativos. Além disso, o comércio de créditos de carbono ainda carece de regulamentação nacional. Acelerar a regulamentação contribuiria para estimular ações de reflorestamento e poderia beneficiar nossos diferentes biomas que vão além da Amazônia e Cerrado.
Regras mais seguras e justas podem unir empresas, governo e sociedade em prol da sustentabilidade. Na Europa, por exemplo, normas rigorosas e frequentemente atualizadas servem de referência e acabam influenciado a cadeia de fornecimento global. Empresas europeias consultam regularmente rankings de ESG para a contratação de fornecedores e análise de parcerias, prática que ainda não é comum no Brasil. E, como sabemos, a tendência é que muitas das regulamentações e práticas adotadas na Europa cheguem em breve por aqui.
Outra ferramenta para impulsionar práticas sustentáveis e regenerativas e que pode ajudar na análise de dados complexos é a inteligência artificial (IA). Essa tecnologia permite que as empresas identifiquem áreas de melhoria, otimizem processos e reduzam desperdícios de forma eficiente e precisa. Exemplos incluem a otimização de cadeias de suprimentos e a redução de emissões de carbono através de sistemas inteligentes de gestão de energia.
A importância das práticas de sustentabilidade conectadas ao negócio é indiscutível. Para garantir a sustentabilidade a longo prazo, as empresas devem integrar essas práticas em seus objetivos estratégicos, adotar abordagens focadas em nichos e utilizar a inteligência artificial como aliada.
Além disso, a conscientização e a regulamentação são essenciais para impulsionar essas práticas. Mas, antes mesmo de desejarmos as inovações criadas em prol da sustentabilidade para os países europeus, por exemplo, precisamos olhar para os recursos naturais brasileiros e pensar na nossa capacidade de extrair deles as inovações que vão ajudar a prever e minimizar tragédias causadas pelos efeitos das mudanças do clima.
O Brasil tem um potencial de inovação natural focado na sustentabilidade, mas que ainda está subutilizado. Nesse contexto, a grama de nenhum vizinho é mais verde do que a nossa. Precisamos valorizar nossos recursos e nosso potencial para liderar o caminho rumo a um futuro mais sustentável.
(*) – É Diretora Jurídica, de Sustentabilidade e de Pessoas da Melhoramentos (www.melhoramentos.com.br).