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Impactos climáticos e a complexidade no mercado de seguros

em Mercado
quinta-feira, 07 de novembro de 2024

Fernando Martinez (*)

O aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos está trazendo desafios cada vez mais complexos para o mercado de seguros.

Ainda que acontecimentos como o Furacão Milton tenham sido ignorados por parte dos gestores brasileiros do meio, considerando o distanciamento entre o Brasil e os Estados Unidos, esses mesmos líderes se esqueceram de que as seguradoras brasileiras andam enfrentando uma pressão crescente, que se reflete nos custos de resseguro e, consequentemente, nas taxas aplicadas aos consumidores.

Esse cenário de eventos catastróficos antes era uma exceção. Agora, está se tornando cada vez mais comum. De acordo com um estudo do Banco Mundial, de 2021, a mudança climática custa cerca de 1,3% do PIB a cada ano para as corporações do país – algo considerado raro há alguns anos atrás, considerando o contexto da indústria de seguros.

Com o agravamento dos riscos climáticos, os prêmios de seguros estão subindo globalmente. O cálculo de riscos, que orienta o preço dos planos, está sendo constantemente ajustado para refletir a realidade cada vez mais incerta. Além disso, algumas seguradoras estão reduzindo as coberturas em algumas regiões ou para determinados tipos de riscos, como uma forma de mitigar prejuízos futuros.

Em paralelo, a demanda por seguros também está em alta, já que as empresas e pessoas estão se dando conta da importância de proteger operações e bens diante de um cenário climático imprevisível. Contudo, a complexidade para calcular e oferecer alternativas de qualidade está resultando em uma variante intensa nos preços e, por consequência, impactos negativos na percepção do consumidor sobre o assunto.

Essa e outras inconstâncias, como recusa da contratação e queixas relacionadas ao sinistro, fizeram com que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) registrasse 558 mil reclamações entre 2020 e 2023.
Diante desse desafio e da urgência por caminhos emergentes, o setor está começando a adotar medidas voltadas para a sustentabilidade.

Um exemplo importante é a criação dos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), formado por 22 seguradoras em 2020. Essa iniciativa busca incorporar aspectos Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) na área, alinhando-se às recomendações da Força Tarefa para Divulgações Relacionadas ao Clima (TCFD).

No Brasil, a Susep está implementando uma Norma de Sustentabilidade que exigirá que as seguradoras considerem os riscos climáticos e ambientais durante a estabilização das atividades. Esse movimento é essencial para ajudar o setor a se adaptar às mudanças climáticas, criando oportunidades e gerenciando os novos riscos que surgem, sem deixar o consumidor na mão.

Embora o Brasil não enfrente desastres naturais de grande escala, como furacões ou terremotos, o país também está sofrendo com eventos extremos, como chuvas intensas, inundações, secas e vendavais, que já causam prejuízos significativos. O desafio para o setor no país é justamente se preparar para essas mudanças climáticas e encontrar novas formas de atender às demandas, protegendo tanto empresas quanto pessoas.

O futuro do mercado de seguros será cada vez mais influenciado pelas condições naturais e pelas ações a serem tomadas para reduzir os efeitos de possíveis ocorrências. Para se destacar em uma área complexa e instável, a adaptação das organizações do setor é uma arma poderosa no quesito vantagem competitiva. É preciso buscar, cada vez mais, novas formas de atuar e fazer negócios.

(*) – É CEO da Beyond Seguros (https://beyondseguros.com.br/).