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Em casa onde falta o pão (e sensatez), todos brigam e…

em Mercado
sexta-feira, 24 de abril de 2020

José Pena (*)

Ao longo da semana, vários indicadores reforçaram a perspectiva de uma enorme contração econômica global na esteira da pandemia da Covid-19. Longe de excepcionais em relação a tantos outros, dois deles já bastam para ilustrar a magnitude do choque econômico atual

De um lado, o volume de pedidos de auxílio desemprego nos EUA no período de quatro semanas encerrado em 10/04 atingiu a impressionante marca de 22 milhões. Para acumular montante similar, seria necessário somar os pedidos das 101 semanas anteriores! De outro lado, a China registrou uma queda no PIB do 1T20 de 6,8% em relação a igual período do ano anterior. Diante do elevado custo econômico da pandemia, sinais, ainda que tênues, de uma possível retomada da normalidade ajudam a animar os ativos financeiros globais.

Alguns países europeus começaram a suavizar medidas mais severas de distanciamento social, ao mesmo tempo em que o governo dos EUA definiu parâmetros que deveriam ser seguidos para, gradualmente, retomar a atividade econômica e social ao longo das próximas semanas. Resta saber se o avanço ainda expressivo da pandemia permitirá esse recomeço no futuro próximo.

Numa semana em que (1) o Banco Mundial e o FMI divulgaram estimativas de uma queda de 5% do PIB brasileiro neste ano, (2) o Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, sinalizou que o déficit público primário de 2020 pode alcançar R$ 600 bilhões – ou cerca de 8% do PIB e que, (3) o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) projeta a manutenção de déficits primários até pelo menos 2023 – o que representaria uma década ininterrupta de resultados fiscais negativos, a crise política entre o Executivo e boa parte do Legislativo federal subiu vários graus numa escala que já se mostrava longe de positiva.

Diante do desafio de combater a pandemia, seu impacto econômico de curto prazo, bem como seus efeitos deletérios de longo prazo, é preocupante a atual falta de coordenação e cooperação que se assiste nesse momento entre os poderes da República. Já seria suficientemente desafiador superar esse quadro havendo uma maior harmonia. Sem ela, o custo da crise certamente se mostrará maior e a velocidade/intensidade da recuperação será bem mais modesta do que seria desejável, com inevitáveis efeitos sobre os preços dos principais ativos brasileiros.

(*) – É economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.