Ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que está preso desde 2016. Foto: Valter Campanato/ABr |
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral admitiu ontem (26), pela primeira vez oficialmente, o recebimento de propina ao longo de sua carreira política. Ele prestou depoimento perante o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. Perguntado por Bretas por que havia mudado de ideia, Cabral respondeu que a decisão foi fruto de reflexões feitas durante todo o tempo em que está preso. “Em nome da minha família e da história, resolvi falar a verdade”.
Em seguida, Bretas perguntou sobre a Operação Fatura Exposta, que investigou o pagamento de propinas na área da saúde, quando o médico Sergio Côrtes foi secretário estadual de Saúde de 2007 a 2013, no governo de Cabral. “Antes de assumir, eu fiz a primeira ação grave para um chefe de Estado. Apresentei o [empresário] Arthur Soares. Ele havia me ajudado em campanhas em caixa 2. Eu disse ao Côrtes que íamos combinar uma propina: ‘3% para mim e 2% para você’. O Côrtes se sentiu muito à vontade para me apresentar o Miguel Iskin [empresário da área de equipamentos médicos, também condenado por corrupção].”
O juiz Marcelo Bretas pediu a Cabral que detalhasse como funcionava o grupo político em sua administração, e o ex- governador citou ainda o então vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, entre os que recebiam propinas. “Para o Pezão, eram cerca de R$ 150 mil por mês. O Eduardo Paes, como meu secretário de Esportes, jamais recebeu benefícios. Mas recebeu doações do Iskin e do Arthur Soares para sua campanha”. Segundo Cabral, a campanha de Pezão ao governo do estado custou R$ 400 milhões. Ao ser lembrado por Bretas de que, anteriormente, tinha negado esses fatos, Cabral declarou que havia faltado com a verdade: “Eu peço desculpas, porque eu menti.”
Questionado por Bretas por que ele sempre havia dito que o dinheiro de propina era caixa 2, Cabral respondeu que era difícil admitir, dizer que havia roubado. “Dói muito. Hoje não me dói mais”. Sobre a participação de sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, no esquema de pagamento de propina, o ex-governador negou”. A mudança de postura de Cabral reflete a troca dos responsáveis por sua defesa, que era feita pelo advogado Rodrigo Roca, substituído por Marcio Delambert, com objetivo de diminuir o total das penas impostas a ele, que já chega a 200 anos de prisão (ABr).