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Usinas centralizadas de energia renovável  movimentam mais de R$ 64 BI no Brasil

em Manchete Principal
sexta-feira, 04 de outubro de 2024

Setor só projeta crescimento, com destaque ao sistema fotovoltaico

Redação

Referência na produção de energia limpa, o Brasil avança na oferta de energias renováveis. Ano passado só perdeu para China (263 GW) e Estados Unidos (32,4 GW) em investimentos, para produzir mais de 15 GW – estando bem próximo da Alemanha e acima de Índia, Espanha, Japão e Itália, por exemplo. Em 2023, a matriz elétrica brasileira foi de 89,2% de fontes renováveis, contra 28,7% da média de outros países; e na matriz energética alcançou 47,4%, contra 14,1% da média dos demais países. Desde 2012 o setor atraiu R$ 64,3 bilhões em investimentos, gerando 452 mil empregos e arrecadando R$ 21,3 bilhões aos cofres públicos, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que reporta crescimento de 68% da energia solar (em 2023), representando atuais 7% da matriz energética nacional com 15 GW de potência operacional.

Todo crescimento econômico pressupõe condições ideais de infraestrutura. E esta sustentação começa pela energia, daí a importância do Fórum Brasileiro de Geração Centralizada com fontes renováveis, este ano em segunda edição, apoiado pelo Jornal Empresas&Negócios e o POD+ Empresas (podcast patrocinado pelo jornal). Organizado pelo Grupo FRG Mídias & Eventos, o Fórum aconteceu nos últimos dias 2 e 3, em São Paulo, recebendo os principais players deste mercado.

Sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o Banco Central projeta índice de 3,2% para este ano e de 2% para 2025. Com isto, é possível se calcular a demanda de energia. Em 2001 o país produzia 81 GW (gigawatts) e em 2023 encerrou o ano com 234 GW. Nas considerações atuais, a hidrelétrica perdeu força na geração mas ainda com alto índice de participação (responde hoje por 84% do total), enquanto a eólica se mantém tímida (colaborando com 30 GW do total) e a solar cresce extraordinariamente, saltando de 4,4% para 7% da matriz.

“O Brasil precisa de potência. Eólica e solar têm baixa potência, ao contrário da hidrelétrica que é alta”, pondera Hélvio Neves Guerra, consultor e ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), um dos palestrantes mais esperados do Fórum GC, como também é conhecido o evento. Valendo-se da experiência e dados do Balanço Energético Nacional, produzido pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia), Guerra diz que a infraestrutura nacional ainda é carente e requer mais investimentos. “A Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, em Goiás, foi o último reservatório que construímos e isso faz pelo menos duas décadas”, pontua ele, sugerindo que o Brasil traz grandes oportunidades de investimento mas que é preciso “rever pontos da legislação ambiental”.

A capacidade de geração de energia do Brasil é de 207 mil MW (megawatt). Para este ano espera-se mais 18 MW, oriundos principalmente de energias eólica e fotovoltaica e, futuramente, outros 148 MW, já contratados mas ainda a ser construídos (praticamente 2/3 da capacidade atual). A melhoria da oferta e infraestrutura servirão para coibir “novos sustos” como os que ocorreram em 2001, 2014 e 2020, anos em que se rezou muito para São Pedro dar uma forcinha para o regime hidrológico.

ARMAZENAMENTO

Que a energia é necessária não resta dúvida. Como há picos e sazonalidades no consumo, pode-se ter menos demanda que produção em alguns períodos. Então, o que fazer? Jogar fora é que não dá, uma vez que tratamos de algo precioso e caro. Assim, é factível recorrer ao armazenamento. E foi sobre isso que falou Raul Beck, da Fundação CPqD. Criado em 1976, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento tem como continuidade a fundação desde 1998, a partir da privatização do setor.

“Armazenamento de Energia por Baterias” foi o tema de sua palestra. Ele destaca que o Brasil armazena de 2% a 3% de energia residencial, enquanto Estados Unidos atingem 15% e Alemanha 80%. Baterias de lítio-íon são utilizadas para a tarefa. Com picos mundiais de consumo, o material (lítio) subiu em seis vezes seu preço no ano passado. Já neste 2024 reduziu, ajustando-se ao mercado. Os automóveis elétricos, por exemplo, usam bateria de lítio em 90% dos casos e esta demanda pressiona preços. Outro fator são os impostos. Para se importar o produto, o Brasil taxa em 74% o preço. “O governo poderia olhar mais pra isso, porque não temos mais espaço para hidrelétricas”, sugeriu Beck. “Ou se muda a legislação ambiental, ou vamos trabalhar com armazenamento”, decretou.

Alternativamente ao lítio (que trabalha a 300ºC e existe um único fabricante de cerâmica para viabilizar o processo, a NGK) tem o sódio-íon sendo testado, como na China que já construiu um grande laboratório. Segundo o representante do CPqD, o sódio é mais barato e o produto à base deste dura 20 anos, enquanto o lítio esgota-se em 15 anos. Em parceria com empresas brasileiras, a Fundação também começa a se movimentar nesta área, realizando a pesquisa e o desenvolvimento para que a empresa coloque os resultados – incorporados em produtos – no mercado.  

Fórum Brasileiro de Geração Centralizada com fontes renováveis, este ano em segunda edição

DRONES / IA

O uso de drones para fotografar e monitorar subestações de energia já está sendo utilizado “de forma mais rápida e eficiente”, segundo Rafael Loureiro, da Pix Force. Startup voltada à inovação, foca no uso da IA (Inteligência Artificial) para tarefas repetitivas, seguras e mais econômicas.

Para o representante da companhia, IA elimina acidentes de trabalho e protege ativos, antevendo apagões, do lado dos Riscos, e agiliza operação e manutenção, no aspecto Custos. 

Pelo aplicativo Pix Flight é possível movimentar um drone a custo menor e com precisão. “Vamos ponto a ponto e, se necessário, diariamente, como as abelhas fazem com as flores”, compara ele, adiantando que a startup tem 720 horas de trabalhos realizados até aqui.

Enquanto rolavam as apresentações no palco, uma Feira de Serviços estava posicionada no espaço. Entre os expositores, a Solis, uma das patrocinadoras do evento. Maior empresa do mundo em inversores de pequeno porte (utilizado em telhados residenciais), trabalha com Geração Distribuída (GD1). 

Responsável pela área de projetos da Solis, o gerente Henry Quege atendeu o Jornal Empresas&Negócios e explicou todo o funcionamento deste mercado. Chinesa (a exemplo de 98,9% das empresas deste segmento), a Solis foca na fabricação de equipamentos e projetos. Cabe destacar que além dos inversores existem no mercado os Módulos , que captam energia solar; Trackers, em formato girassol, acompanhando os movimentos do sol; Cabeamento, para Estação de Média Tensão.

No Brasil, a Solis tem 23% de market share com seus inversores que custam a média de US$ 7.000. Por aqui trabalham 60 pessoas e no mundo o total é de 4.500 colaboradores espalhados em 50 países. Como a mão-de-obra chinesa é sete vezes mais barata, logo a maioria dos equipamentos é importada.   

“O setor e as demandas por usinas de grande porte estão crescendo e, junto, crescem as necessidades de encontros voltados ao network e negócios entre as empresas que estão no topo da cadeia de geração centralizada no Brasil”, conclui Claudio Fraga, diretor-geral do evento.