Clientes de bancos, concessionárias de serviços públicos e de outros segmentos recebem, regularmente, mensagens em suas faturas estimulando o uso de faturas digitais para pagamento de contas, obtenção de extratos e outras informações eletrônicas.
A ressalva é que essas mensagens vêm acompanhadas de afirmações equivocadas de que a adoção dos documentos eletrônicos necessariamente é melhor para o meio ambiente por evitar o uso e a impressão de papel, sem levar em conta os impactos ambientais da comunicação eletrônica.
O alerta contra esta prática, conhecida como greenwashing, é de Two Sides, organização global sem fins lucrativos cuja atuação promove a produção e o uso responsável da impressão e do papel, e que vem ampliando as ações de esclarecimento junto às grandes organizações.
A iniciativa tem contribuído para a produção de campanhas mais precisas e corretas na abordagem e com a mudança ou remoção de mensagens que continham equívocos acerca da sustentabilidade do papel e da comunicação impressa. Mas ainda há muitas empresas que seguem praticando greenwashing.
“Grandes organizações, inclusive aquelas que buscam disseminar os conceitos de ESG, têm praticado greenwashing em seus comunicados aos clientes, contrariando inclusive as orientações de órgãos que orientam a conduta dos anunciantes”, observa Fábio Mortara, presidente de Two Sides. O greenwashing é definido como a apropriação injustificada de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas.
“No greenwashing, uma empresa busca mostrar que está engajada com o meio ambiente a partir de alegações não comprovadas e que, inclusive, podem induzir as pessoas a erro”, explica Mortara. Segundo constata Two Sides, esta prática segue bastante disseminada junto a empresas que prestam diferentes serviços aos consumidores, como concessionárias de serviços públicos e instituições financeiras.
Por isso, a entidade tem buscado desenvolver um trabalho de esclarecimento junto a essas corporações. “O apelo baseado em greenwashing busca convencer os clientes a utilizarem apenas faturas, extratos e documentos digitais, e muitas vezes falta entendimento aos responsáveis pela comunicação de que aquela é uma prática indevida”, observa Heloísa Vidigal, diretora de comunicação de Two Sides.
“Nossa atuação é justamente a de mostrar que há um equívoco nisso, e que essa prática consiste em greenwashing”. Ela lembra que, de acordo com o Guia Global sobre Claims de Sustentabilidade em Marketing e Comunicação, publicado pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) e pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), as informações publicitárias devem ser claras e inequívocas, e devem possuir referências e fontes passíveis de comprovação.
. Papel vem de fonte renovável e sustentável – Diferentemente do que se acredita, a produção de papel, cartão e papelão não prejudica florestas nativas, ou florestas naturais. No Brasil, 100% da celulose produzida para essa finalidade vêm exclusivamente de árvores cultivadas. Usa-se, também, uma parcela grande de fibras recicladas.
O diretor técnico de Two Sides, Manoel Manteigas de Oliveira, observa que produzir papel com árvores de matas nativas, além de prejudicial ao meio ambiente, seria tecnicamente inviável. “Devido às variações na composição das madeiras nativas, haveria grande redução da produtividade do processo industrial e da competitividade, tornando o negócio economicamente insustentável”, explica. “Portanto, é um engano afirmar que reduzir o consumo de papel salva árvores.”
Manteigas lembra que, além das plantações de árvores, a indústria brasileira de base florestal, que inclui o segmento de celulose, papel, cartão e papelão, é responsável pela preservação de 0,6 hectare de matas nativas para cada hectare de árvores cultivadas. Além disso, é necessário observar que a área utilizada no cultivo de árvores para celulose e papel — 3,6 milhões de hectares — corresponde a apenas 1,4% das áreas já utilizadas pela agricultura e pecuária no Brasil.
. A mídia eletrônica também causa impactos ambientais – O diretor técnico de Two Sides observa ainda que não há nenhum estudo conclusivo sobre as mídias eletrônicas serem mais benéficas para o meio ambiente do que as mídias impressas. Toda atividade econômica tem algum impacto ambiental.
“O lixo eletrônico quando descartado incorretamente, prejudica o meio ambiente e oferece riscos à saúde da população, por conterem componentes que vão de plástico, metal, vidro, a substâncias químicas que podem ser tóxicas, como ouro, prata, mercúrio, chumbo e outros”, ressalta Manteigas. Ele observa ainda que, devido à dificuldade de descartar e reciclar esses materiais, muitas vezes, as carcaças de eletrônicos são destinadas aos aterros sanitários, e os compostos químicos presentes nesses materiais contaminam o solo e lençóis freáticos.
Além disso, os centros de processamento de dados — a famosa “nuvem” — consomem enormes quantidades de energia. Segundo relatório do Greenpeace, se a indústria de comunicação eletrônica fosse um país, apenas gigantes como China e Estados Unidos o superariam no consumo de energia. Estudos recentes apontam que, em 2025, a indústria de comunicação eletrônica consumirá 20% de toda a eletricidade e será responsável por cerca de 5,5% de todas as emissões de carbono.
. Indústria do papel: produção de energia limpa – Outro ponto a favor da indústria de árvores plantadas é que ela é um dos poucos setores brasileiros que gera a maior parte da energia elétrica consumida nos seus processos produtivos. As empresas do setor utilizam quase que exclusivamente subprodutos de seus processos para a geração de energia térmica e elétrica.
O licor preto, proveniente da produção da celulose e a biomassa florestal, juntos, representam mais de 88% da energia produzida. Com fábricas modernas, além de energeticamente autossuficientes, a indústria gerou, em 2021, 14,2 milhões GJ de energia excedentes para comercialização para a rede pública.
. Árvores cultivadas: estoque de carbono – O cultivo de florestas para a produção de celulose, papel e outros produtos industriais contribui para a redução do efeito estufa, uma vez que as árvores, ao crescerem, capturam CO2 da atmosfera.
Os 10 milhões de hectares de cultivos florestais no Brasil, junto com os 6 milhões de matas nativas preservadas pelo setor, são responsáveis pelo estoque de aproximadamente 4,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq). Isso corresponde a mais que o dobro de toda a emissão de carbono no Brasil, em um ano. Portanto, o setor dá uma enorme contribuição no combate às mudanças climáticas.
“Qualquer desperdício deve ser evitado, inclusive de papel, mas aumentar o consumo de papel, cartão e papelão significa ampliar o cultivo de árvores para sustentar o crescimento da demanda. Portanto, um acréscimo no consumo de papel significa que mais árvores vão existir, e mais CO2 será sequestrado da atmosfera”, completa o presidente de Two Sides, Fábio Mortara, ao explicar que entidade defende o consumo consciente de todos os recursos, sem desperdícios. – Fonte e outras observações, acesse: (https://twosides.org.br/).