Nathan Thompson (*)
Tudo o que você precisa saber sobre Ethereum e “The Merge”
O blockchain entrará para a história em breve, quando a Ethereum colocar em prática uma atualização crítica que trará consequências para todo o espaço cripto. Conhecida como “The Merge” (a Fusão, em português), espera-se que a atualização mude o mecanismo de consenso da rede para um sistema mais rápido e ecologicamente correto, conhecido como proof of stake.
A Ethereum tentará fazer a fusão de sua Mainnet, juntamente com a capacidade de executar contratos inteligentes e registrar o histórico completo do blockchain, com sua Beacon Chain proof-of-stake. Essa é a primeira vez que alguém tenta algo desse tipo, e muitos acreditam que o sucesso da Ethereum é essencial para o ecossistema cripto.
Depois de enfrentar muitos atrasos e retrocessos durante o processo, os desenvolvedores da Ethereum agora estão cautelosos em definir uma data certa para a atualização. Mas eles confirmaram que agora estão testando o processo em várias testnets antes de fazer o lançamento na cadeia principal.
Já nos acostumamos a ver a Ethereum fazer inovações ousadas. Seu lançamento, em 2015, criou blockchains programáveis que permitiram que os desenvolvedores criassem programas ou aplicativos descentralizados (dApps), na blockchain da Ethereum sem precisar usar servidores centralizados na nuvem.
O ether (ETH), token nativo da Ethereum, é um dos ativos com melhor desempenho em qualquer classe. Desde o seu lançamento, seu preço aumentou em aproximadamente 12.500%. Isso porque a rede criou valor com o vasto número de dApps e outros projetos que usam o token, em especial tokens não fungíveis (NFTs), que ganharam destaque nos últimos anos.
“A principal proposta de valor do ether aumenta conforme o número de tokens, contratos inteligentes e desenvolvedores que escolhem interagir com a rede Ethereum aumenta”, conforme afirma a Fidelity Digital Asset Management em um relatório recente. O poder desse tipo de crescimento de rede já foi visto com o crescimento de empresas de redes sociais, como o Facebook, que aumentava de valor à medida que sua rede expandia.
A atualização “The Merge” acabará com a dependência da Ethereum na tecnologia proof of work (prova de trabalho, em português). O usuário mais famoso do proof-of-work é o Bitcoin e os defensores do meio ambiente não perdem tempo em criticar a grande quantidade de energia gasta com a tecnologia proof of work.
No entanto, o Bitcoin na verdade usa mais energia renovável ou energia desperdiçada do que qualquer outro setor. E o sistema proof of work pode ser visto como mais igualitário, já que todo computador de mineração tem direitos iguais de validar uma transação.
O proof of stake, por outro lado, cria uma rede ao fazer com que os validadores bloqueiem seu ETH para participar da rede. Isso demanda muito menos energia do que o proof of work.
Para se tornar um validador da Ethereum, você precisa fazer um staking de 32 ETH (atualmente, mais de $34.000), o que significa uma grande barreira de entrada. Isso faz com que as pessoas que têm pouca quantidade de ETH criem um pool com seus recursos usando ferramentas como Lido e Rocketpool, dando a esses protocolos uma chance desproporcional de influenciar a rede.
Esse risco é mitigado pelo fato de que qualquer comportamento tido como inconveniente é penalizado e o direito de validar uma transação é atribuído de forma aleatória. Embora isso possa colocar em risco alguns aspectos da descentralização, Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, acredita que a nova rede proof of stake será mais segura e mais eficiente.
Se a atualização The Merge tiver sucesso, o próximo passo da Ethereum será o lançamento de 64 cadeias de fragmentos que diminuirão o congestionamento na rede. Pense nisso como uma área de superfície. Os fragmentos aumentarão a área de superfície do blockchain, permitindo que ele absorva mais atividades cobrando “taxas de gás” menores.
E as taxas de gás são importantes. O congestionamento na Ethereum é famoso, com taxas médias que chegaram a atingir até US$ 55 no final do ano passado. As taxas médias estão atualmente em cerca de US$ 10, o que ainda é alto considerando que concorrentes como Solana possuem taxas inferiores a US$ 0,1 (embora, para sermos justos, eles possuam menos tráfego).
Outra coisa importante é o tempo. Com o mercado de cripto em meio a uma tendência de baixa feroz e reguladores agressivos no horizonte, se a atualização The Merge falhar, isso pode ter um grande impacto na confiança do investidor, prejudicando ainda mais a ação de preço do ether e, consequentemente, outros projetos de cripto.
Enquanto isso, as chamadas soluções de segunda camada, como Optimism e Arbitrum, estão oferecendo outras formas de acessar a rede Ethereum com taxas muito baixas. Embora pareça que essas redes têm um futuro promissor, acessar protocolos de segunda camada significa usar pontes para transferir tokens entre camadas de blockchain, o que não é das tarefas mais simples para um iniciante.
Se a The Merge for um sucesso, a Ethereum terá dado um passo importante para se tornar não só a casa da segunda maior criptomoeda, mas também para criar um negócio de tecnologia blue chip.
(*) – É redator líder de Tecnologia da Bybit, exchanges de criptomoedas. Antes disso, trabalhou como jornalista por mais de dez anos cobrindo o Sudeste Asiático.