Daniel Schwebel (*)
A transformação do mercado de trabalho se intensifica e se molda a cada revolução industrial. Basta observar que, entre a Primeira e a Segunda – na metade do século XVIII -, os campos e a atividade agrícola deram lugar às fábricas tornando-as os principais espaços produtivos do capital humano. Mais adiante, a Terceira Revolução Industrial – pós II Guerra, apresentou ao mundo as grandes multinacionais que conhecemos atualmente e os seres humanos passaram por profundas transformações tecnológicas desde então.
Atualmente, a revolução é outra, as relações físicas no âmbito do mercado de trabalho são intangíveis perto do conhecimento agregado do profissional. A partir do momento em que máquinas substituem homens, inteligência artificial e big data são protagonistas, a variável “distância” deixou de ter valor e é neste timing que vivemos: a Revolução 4.0 no mercado de trabalho.
As habilidades humanas não deixarão de existir, muito pelo contrário, as “Soft Skills” serão ainda mais evidenciadas e valorizadas. Competências socioemocionais, criatividade, autogestão e perfil empreendedor são características do profissional capaz de compreender o que o mercado de trabalho espera no futuro.
A construção da carreira e conceito de ter um emprego deixou de ser o local para onde vamos. Explico: acordar todos os dias, passar 2 horas no trânsito para se deslocar até o escritório, inserir a impressão digital com tolerância máxima de 5 minutos e trabalhar 8 horas consecutivas com 1 hora de almoço deixou de fazer sentido para muitas pessoas, mesmo que essa descrição de rotina seja o verdadeiro significado de “ir ao trabalho” para muitos.
O senso comum é que todas as empresas devem reter os melhores talentos para si. Mas fixam o entrave e limitante de que o funcionário deve morar até 15 km do seu escritório. Já em empresas híbridas – que entendem o trabalho remoto como uma porta aberta a uma infinidade de profissionais excelentes em qualquer lugar do mundo – possuem essa fronteira regional de mil ou dez mil quilômetros, porque não importa onde você está, mas sim o que você agrega e produz.
Por esse motivo, daqui em diante, as empresas que não entenderem isso estarão competindo a nível internacional por talentos locais. Um efeito contingencial imediato da pandemia de coronavírus foi o grande aumento no número de brasileiros trabalhando em suas casas. Quantos deles conseguirão descontinuar esse hábito quando a crise da COVID-19 não existir mais?
Ainda que ninguém tenha essa resposta, pesquisas apontam que profissionais que podem trabalhar onde quiserem tendem a produzir mais, e a produtividade é apenas uma das vantagens que o trabalho remoto proporciona. O fato é que, antes mesmo da pandemia global surgir, o trabalho remoto já era uma tendência pela flexibilidade e liberdade que proporcionam, muito associadas ao lifestyle e propósitos de futuro dos millennials, principalmente.
O coronavírus foi um catalisador desse movimento por impulsionar obrigatoriamente as empresas a fazerem algo que elas já estavam ensaiando há muito tempo, mas não concretizavam porque muitos gestores ainda não desconstruíram a ideia de que é possível liderar uma equipe à distância com ferramentas e comunicação assertivas. Ou melhor, algumas startups brasileiras já permitiam “home office” uma vez na semana como um benefício e, claro, chamava atenção de muitos.
Mas a pandemia está forçando investimentos por parte das empresas em setores onde o teletrabalho é possível, com mais pessoas aprendendo a usar a tecnologia remota. Como desdobramento, é possível sentir uma mudança mais permanente em direção ao trabalho remoto porque as pessoas estão mudando seus hábitos. Muitos experimentaram o que nunca tinham tido a oportunidade e, portanto, podem passar a gostar mais.
Decidir em qual empresa trabalhar não é resultado somente do avanço tecnológico ou do capricho dos millennials, e sim uma esfera que vem responder perguntas mais profundas sobre nós mesmos: Você já parou pra pensar o que seu trabalho significa para você? O trabalho precisa ter um alto grau de liberdade. Porque se não tivermos liberdade e autonomia, como seremos o melhor de nós mesmos?
Ainda que seja impossível prever numericamente quantas empresas e pessoas vão aderir ao trabalho remoto futuramente, entendemos que as relações de trabalho foram altamente impactadas com a pandemia e que o resultado disso será o avanço do teletrabalho nas esferas globais, que aproximará grandes talentos e corporações.
(*) – Com formação em marketing e pós graduação em Gestão de Negócios e Valorização de Empresas pela FIA, é Country Manager da Workana no Brasil.