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Redes neutras ampliam conectividade e possibilitam crescimento econômico

em Manchete Principal
quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Célio Mello (*)

O modelo de negócio de rede neutra no Brasil tem sido bastante discutido atualmente. Apesar de não ser inédito, uma vez que há empresas trabalhando com esse modelo há mais de 20 anos no mercado brasileiro, o debate tem se intensificado recentemente com a eminente implantação do 5G no país e a alta necessidade por infraestrutura de rede que a tecnologia demanda.

A tendência, que está começando a ser adotada por grandes operadoras, amplia as possibilidades e oferta de conectividade no país. Podemos identificar como motivação para ampliação das redes neutras, dois imperativos: o primeiro é a enorme demanda de investimentos em acessos locais por fibra óptica para suportar o 5G e o IoT, pois segundo estimativa da Anatel serão investidos entre
R$ 33 a R$ 35 bilhões nas redes 5G.

O segundo imperativo é a necessidade de otimização dos investimentos e alocações de recursos em redes, que em alguma medida sofre com o esgotamento da infraestrutura necessária para o lançamento de novas redes, como espaço em postes, congestionamento de uso do solo, espaços de torre, dentre outros.

O modelo de negócios de redes neutras considera o compartilhamento de uma mesma infraestrutura entre várias operadoras, onde cada uma a utiliza para atender seus clientes, permitindo a existência de concorrência entre eles na prestação dos serviços de telecomunicações e serviços de valor agregado, mesmo com a utilização de uma infraestrutura comum a todos.

Imagem: wideonet_CANVA

Dessa forma, a adesão às redes neutras por grandes operadoras e provedores de internet mostra-se positiva para o avanço da conectividade e evolução da internet no Brasil por viabilizar uma forma de conectar cada vez mais cidades e lugares remotos que carecem de tecnologia para crescer economicamente.

Aliado a isso, temos o potencial do setor de telecomunicações com o aumento de conexões em banda larga que ultrapassou os 134 milhões de usuários de internet, segundo a última pesquisa TIC Domicílios 2019, feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que aponta para um crescimento contínuo deste setor de telecomunicações.

Para se ter uma ideia do potencial, o setor também lidera o ranking de fusões e aquisições no primeiro trimestre de 2021, conforme pesquisa da KPMG, representando mais da metade do total das operações registradas na pesquisa, para o primeiro trimestre. A rede neutra traz importantes vantagens para o desenvolvimento do país, uma vez que atua em um dos pilares críticos do desenvolvimento, que é o financiamento da infraestrutura.

Na medida em que otimiza o fluxo de investimentos, criam-se as condições para as ofertas competitivas de internet banda larga e expansão da conectividade, democratizando o acesso à informação. Nesta linha, os provedores de internet, atuando ora como fornecedores de rede neutra, ora como clientes das operadoras de redes neutras, podem evitar ou otimizar o investimento em infraestrutura possibilitando um foco maior, inclusive em termos de alocação de recursos financeiros, na sua competência prioritária que é o atendimento com excelência aos clientes finais.

Outra grande vantagem é a capacidade de expansão geográfica e escalabilidade dos serviços que fica muito facilitada com a utilização dos operadores neutros pelo provedor. A demanda criada pelas redes 5G, com sua necessidade superlativa de conexões entre seus vários elementos de rede, obrigatoriamente em conexão óptica, é o grande motivador deste rearranjo que são as operadoras neutras.

O funcionamento e a entrega de toda a potencialidade da rede 5G, em termos de througput – capacidade de tráfego de dados – além de uma latência ou tempo de resposta e conexão diferenciada em relação a todas as soluções de conexões em uso atualmente, passam obrigatoriamente pela disponibilidade de interligações ópticas entre seus vários elementos de rede.

Imagem: Burcak Gozcu_CANVA

Para isto, será necessário termos uma infraestrutura abrangente e disponível nos vários pontos onde se pretende implantar o 5G e, considerando a disponibilidade de redes implantadas pelos provedores, majoritariamente ópticas, temos um equacionamento adequado entre a oferta de infraestrutura, redes ópticas dos provedores, e a demanda, de interligação dos vários equipamentos das novas redes 5G, criando oportunidades de negócios para aqueles provedores que tenham competência e maturidade para atuar nesta modalidade.

Diante desse cenário, o grande desafio do modelo de redes neutras para o mercado brasileiro refere-se à construção de confiança no segmento de conectividade e Telecom, que tem um histórico de poucos competidores e uma cultura de propriedade de rede como elemento diferencial de competitividade nos negócios.
Como tem sido a regra na evolução de mercados, a ampliação da competição e o amadurecimento do modelo regulatório são caminhos fundamentais para esta construção de confiança e desenvolvimento sustentável desta modalidade, no mercado nacional.

Para mitigar esta situação e acelerar a criação de confiança, acredito na adoção de um modelo híbrido, com parte da solução de conectividade sendo implantada por meio de rede própria e parte utilizando uma solução de rede neutra, de forma a se beneficiar das duas modalidades, rede própria e rede neutra, e por intermédio de uma exposição parcial, se exercita a utilização de rede de terceiros, se desenvolve a criação de confiança e o amadurecimento empresarial.

Além disso, é necessário também o amadurecimento regulatório para que as operadoras de rede neutras operem com neutralidade e isonomia, de forma que os provedores de internet que utilizem essas redes possam ter tratamento equitativo e possam competir de forma saudável no mercado, mantendo a competitividade e a qualidade da conectividade para todos.

(*) – É gerente de Produto da Eletronet (https://www.eletronet.com/).