Marcello Carvalho (*)
Quais setores econômicos você acredita que serão mais promissores no próximo ano? – Em 2025 ainda teremos um cenário macroeconômico complicado para as empresas brasileiras, onde devemos ter uma inflação elevada e um dólar elevado.
Porém, isso não é de mal para todas as empresas brasileiras. Aquelas empresas que têm sua receita dolarizada terão melhoras de margem simplesmente pela melhora (em reais) dos preços de seus produtos vendidos.
- Como você enxerga o papel dos ativos digitais, como criptomoedas, no portfólio de investidores em 2025? – Como o mercado de criptomoedas é lastreado em moeda forte, como o dólar, ele pode servir como um tipo de diversificação de risco no Brasil, auxiliando nas carteiras dos investidores brasileiros. Porém, não devemos esquecer de se tratar de um segmento volátil.
- Com a alta inflação em alguns mercados, como proteger investimentos contra perda de valor? – A melhor forma é atrelar parte de seus investimentos em ativos IPCA+, dessa forma, parte de sua carteira sempre renderá acima da inflação. E nesse segmento temos investimentos em diversas categorias de ativos, desde ativos bancários até governamentais e atrelado às dívidas das empresas, algumas dessas isentas de imposto de renda.
- Existe algum tipo de investimento que você considere indispensável para compor o portfólio no próximo ano? – Faz muitos anos que não vemos taxas de retorno atrelados ao IPCA pagando mais de 6% de juros real. Como são taxas que sempre irão te remunerar acima da inflação, acabam sendo indispensáveis para a carteira do investidor.
- Quais mercados internacionais apresentam as melhores oportunidades para investidores brasileiros em 2025? – Devido às políticas protecionistas norte-americanas, devemos ver as empresas americanas, que possuem grande parte de sua receita vinda do próprio país, aumentando a performance ao longo do mandato de Trump.
Com isso, montar sua posição logo no início de seu mandato pode ajudar a surfar as altas de preços das ações no decorrer do primeiro ano de mandato, onde muitas das principais alterações são propostas.
- Quais são os principais riscos que os investidores devem considerar em 2025, e como podem se preparar? – Temos três grandes riscos que os investidores não podem deixar de observar em 2025. O primeiro e principal seria o risco de inflação, onde perder o poder de compra do seu dinheiro pode frustrar sonhos futuros de consumo ou aposentadoria. O segundo seria o risco do dólar elevado, fazendo com que seja mais difícil consumir produtos importados, mesmo os vindos da China, e prejudica diversos negócios que dependem de importações.
E, por fim, o risco de reinvestimento, é cultural que os brasileiros invistam no curto prazo, devido às incertezas do mercado brasileiro, porém, devido às taxas elevadas que temos atualmente, ter muito de seu capital atrelado ao curto prazo pode fazer com que você perca oportunidades de manter seu rendimento alto por até uma década com receio de que ano que vem esteja mais elevado ainda.
- Como eventos geopolíticos, como o conflito entre Ucrânia e Rússia e a posse do Trump, podem impactar investimentos em commodities e moedas? – Conflitos mundiais tendem a elevar o preço de alguns commodities que tendem a se tornar mais escassos nesses momentos, como é o caso do petróleo, devido à demanda militar, e do ouro, impulsionado pela busca por proteção.
Da mesma forma, conflitos tendem a gerar uma corrida pelas moedas mais estáveis da economia, entre elas, vemos o dólar, que é favorecido pelo efeito Trump, e o euro, pela quantidade de países que utilizam essa moeda.
- Que dicas você daria para quem está começando a investir em um momento de maior volatilidade? – Se você está começando a investir, o primeiro passo a dar é buscar fazer uma reserva de emergência de pelo menos 12 meses de gastos, incluindo lazer.
A volatilidade não afeta somente o mercado financeiro, mas a estabilidade de diversos empregos e empresas brasileiras, e não podemos depender de auxílios para nos sustentar. Os investidores iniciantes devem primeiramente formar suas reservas e depois pensar em proteger contra inflação e os demais tipos de investimento.
- Como os investidores podem identificar tendências ou ativos que podem ter um bom desempenho em 2025? – O mercado financeiro acaba sendo um reflexo da economia real. Manter-se atualizado acompanhando diversas fontes de jornais confiáveis, priorizando sempre ver mais de um ponto de vista, auxilia demais. Além disso, ler as cartas de gestores de fundos, que têm anos e às vezes até décadas de experiência, auxilia quando não se sabe interpretar as fontes de jornais.
- Como a política fiscal do governo brasileiro pode afetar o mercado de capitais e o ambiente de negócios em 2025? – Atualmente o governo está cada vez mais com falta de recursos, e as vias de endividamento não são uma alternativa dado os riscos internos. Com uma política fiscal mais expansionista, teremos uma inflação sem controle e um ambiente sangrento na bolsa de valores brasileira.
- A política monetária dos EUA continua influente. Quais são os possíveis reflexos no Brasil e no investimento de investidores locais? – O risco dos EUA é infinitamente menor que o risco Brasil. Por conta disso, caso a taxa de juros se mantenha acima de 3,5%, o que parece ser uma tendência, não teremos um fluxo de dólares tão grande vindo do estrangeiro.
Apesar de nossas taxas de juros serem bem mais elevadas, o risco Brasil pode acabar não compensando para diversos players do mercado internacional. Outros emergentes, como a Índia, podem brilhar mais os olhos dos estrangeiros.
(*) – É economista da WIT Invest (https://www.wit.com.br/).