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O papel do hedge cambial no mercado

em Manchete Principal
sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Felipe Schuckar (*)

O hedge cambial é uma estratégia financeira fundamental no mercado internacional, proporcionando proteção para transações, acordos comerciais, importações e exportações. Essa ferramenta é essencial para mitigar riscos em economias globalizadas e no comércio internacional, em que as empresas enfrentam a constante flutuação das moedas. Quando uma companhia brasileira vende um produto para os Estados Unidos, por exemplo, o valor da venda é convertido em dólares.

A taxa de câmbio, que define quanto um real vale em dólares (ou vice-versa), está em constante movimento. Esse movimento é influenciado por diversos fatores, como as taxas de juros de cada país, a inflação, as expectativas dos investidores e eventos geopolíticos. Na prática, essa volatilidade da taxa de câmbio cria um cenário de incerteza, e oportunidades, para as empresas que atuam no comércio internacional.

Se o dólar se aprecia em relação ao real, por exemplo, as empresas brasileiras exportadoras podem aumentar suas vendas para os Estados Unidos, pois seus produtos ficam mais competitivos. No entanto, ao converter os dólares em reais, elas receberão menos dinheiro do que esperavam inicialmente. Ainda, as empresas brasileiras que importam produtos dos Estados Unidos terão que pagar mais caro, reduzindo suas margens de lucro.

Em 2024, por exemplo, o real teve uma desvalorização de praticamente 18%. É uma oscilação alta que pressiona os custos das empresas brasileiras.

. Hedge cambial no mercado – O hedge cambial é empregado por essas empresas mencionadas para controlar os efeitos da flutuação de preços em seu negócio. O objetivo dessa ferramenta é reduzir os riscos financeiros decorrentes da volatilidade no câmbio. Os produtos de hedge cambial são utilizados para travar uma taxa de câmbio fixa para uma determinada data futura. Desta forma, mesmo que o poder de compra da moeda utilizada na transação mude, a companhia garantirá a estabilidade de seus custos ou receitas.

É comum confundir hedge com especulação, mas são conceitos opostos. O hedge cambial é uma ferramenta essencial para a gestão de riscos nas operações internacionais. Ao eliminar a incerteza sobre as futuras taxas de câmbio, as empresas podem se concentrar em seus negócios core, permitindo maior planejamento e diminuição dos impactos das flutuações cambiais.

. Estratégias de hedge cambial – O hedge cambial pode ser aplicado de diversas maneiras, mas há quatro produtos que são os mais comuns para esse mercado:

  • Contratos a termo – É um instrumento de hedge que utiliza o contrato personalizado para comprar ou vender uma commodity. Ambas as partes acordam uma taxa de câmbio que será utilizada na hora do pagamento. Geralmente, o contrato a termo é negociado em dólar no mercado de balcão (OTC – Over The Counter). O objetivo é eliminar a incerteza das oscilações de câmbio e aumentar a previsibilidade dos valores recebidos.
  • Contratos futuros – Um acordo firmado entre comprador e vendedor para determinar o valor da moeda estrangeira em uma data futura. Diferente dos contratos a termo, esse é negociado em bolsas de valores conforme as expectativas de valorização ou possível queda da moeda. Nestes contratados, as margens de câmbio são ajustadas com base nas variações da taxa cambial.
  • Opções cambiais – As opções cambiais diferem de outros produtos financeiros porque permitem a compra ou venda de uma mercadoria a uma taxa de câmbio predeterminada, sem a obrigação de seguir essa taxa. Isso oferece maior flexibilidade ao comprador, que pode optar pela taxa de câmbio vigente no momento do pagamento, caso seja mais vantajosa. No entanto, para obter essa flexibilidade, o comprador deve pagar um prêmio ao vendedor.
  • Swaps cambiais – São acordos financeiros em que duas partes trocam fluxos de caixa em diferentes moedas. Esses instrumentos de mercado são utilizados para proteger empresas contra a volatilidade das taxas de câmbio e as flutuações das taxas de juros.

. Entenda as etapas do hedge cambial – O hedge cambial precisa de 3 etapas para ser elaborado de forma segura. Ao seguir os passos, uma empresa exposta ao câmbio encontrará as ferramentas necessárias para se proteger da volatilidade do mercado:

  • Etapa 1: Identificar o risco – O primeiro passo é entender quais os riscos de mercado aos quais a empresa está exposta. Ela pode ser relacionada às oscilações do dólar, ao preço do real no Brasil ou flutuações da moeda do país em que você negocia.

A volatilidade do mercado é influenciada por diversos fatores. No Brasil, a agricultura exerce um papel crucial. Eventos climáticos extremos, como secas ou fortes chuvas, podem afetar a produção agrícola, impactando a economia e, por consequência, a taxa de câmbio.

Além disso, as políticas econômicas do governo, as decisões do Banco Central e o cenário político internacional também contribuem para a instabilidade do mercado. Ao monitorar esses fatores, é possível prever tendências que fazem parte do mercado financeiro.

  • Etapa 2: mensurar o risco – Em um cenário econômico volátil, a gestão de riscos se torna ainda mais crucial. É fundamental entender o potencial de perdas financeiras em cada negócio. Ao analisar os dados, podemos identificar os pontos vulneráveis e quantificar as probabilidades de eventos adversos.

Essa análise proativa permite que as empresas se preparem para enfrentar desafios inesperados e tomar decisões mais estratégicas, alinhadas com seus objetivos de longo prazo.

  • Etapa 3: controlar o risco – O controle de riscos financeiros exige uma abordagem dinâmica e adaptativa. Conhecer profundamente as ferramentas de hedge é fundamental para uma gestão de riscos eficaz, já que cada negócio possui características e necessidades únicas, exigindo uma estratégia personalizada.

Ao dominar as diversas opções disponíveis, é possível identificar a combinação ideal de ferramentas para proteger a empresa contra os riscos específicos a que está exposta. Dessa forma, a gestão de riscos se torna um processo mais preciso e eficiente.

(*) – É Head de FX na Hedgepoint Global Markets (https://hedgepointglobal.com/).