Wagner Moraes (*)
O Brasil assumiu o 7º lugar na lista de países com o maior uso de criptos do mundo, segundo estudo da Chainanalysis. Este é um feito inédito para o país, que passa a ocupar um lugar considerável em volume de transações com crypto currencies.
Esse mercado está em franca ascensão, onde uma moeda que existe de forma digital, ou virtual, e usa bases de criptografia para proteger as transações, tende a estar cada vez mais presente na cultura econômica dos países.
Como este é um mercado que, apesar de não ser novo, ainda é desconhecido por muitos, deixe-me explicar como funciona, as criptomoedas não possuem uma autoridade central de emissão ou regulação, em vez disso usam um sistema descentralizado para registrar transações e emitir novas unidades, usando a tecnologia blockchain (“cadeia de blocos”) que permite um nível de segurança bastante elevado para suportar as transações e controles de saldos em carteiras digitais.
Essas operações ainda não possuem um sistema centralizado de gestão, bem como ainda não passam diretamente pelos órgãos reguladores e emissores de moedas nos países. Com isso, os Bancos Centrais dos principais países estão se movimentando de forma consistente e rápida para também fazerem a virtualização de suas moedas.
A exemplo do Nubank, que lançou a Nucoin, uma criptomoeda própria que servirá de base para um novo programa de fidelidade do banco digital, ainda veremos que esta iniciativa deverá ser seguida muito rapidamente por outras instituições. Isso porque o mercado de criptos tende a ter um crescimento mais significativo daqui para a frente, complementando diversas transações existentes nos ativos financeiros atuais.
Todavia, a tendência é que deverá substituir as moedas oficiais, pois os grandes países acordaram para essa realidade e estão caminhando para a digitalização. Este é um caminho irreversível para que possam fazer frente às criptos bem como facilitar o seu uso.
O papel moeda custa muito para os países em função de altos custo envolvidos no controle, emissão e reposição do dinheiro em circulação, e a tendência é acabar, ou ter o seu uso muito reduzido nos países, ao longo dos próximos 10 anos, pois não faz mais sentido usar o papel moeda.
É realidade que o mercado de criptos tem ganhado uma relevância muito grande nos diversos países, em função de sua ainda relativa baixa regulação, quando comparado às outras moedas, e a tendência é de se fortalecer ainda mais frente às alternativas de investimentos.
É fato que já está influenciando e, ainda, deverá influenciar muito mais as economias dos países, pois as transações não geram os mesmos retornos em arrecadações que os outros ativos, além de possibilitar a troca de reservas (evasão de recursos ou troca de posições financeiras entre os diferentes mercados) de uma forma muito rápida entre investidores de diferentes localidades, pois é possível comprar ativos em criptomoedas de outros países e localidades de uma forma muito rápida e relativamente fácil.
É claro que é preciso ter muito cuidado na hora de escolher os parceiros e plataformas para se realizar transações, porém a tendência é de aumento forte no volume financeiro daqui para a frente.
Temos que levar em consideração que os desafios são vários, é preciso desenvolver plataformas sistêmicas confiáveis, suficientes e com ótimo nível de controle de transações para poder dar segurança aos investidores e mercados.
No campo político, os desafios também são inúmeros, mas podemos destacar os principais: velocidade na tomada de decisões e controles; velocidade no sentido de que os países precisam acompanhar as constantes mudanças tecnológicas e disruptura do mercado de criptos para nortear as decisões relacionadas ao arcabouço regulatório e sistema de controles transacionais feitos, além da remessa e repatriação de capitais, desvio de finalidades, dentre diversos outros.
A grande maioria dos sistemas políticos dos países ainda não estão preparados para isso e não possuem cultura suficiente para entender os impactos desse novo mercado, bem como o processo disruptivo que isso traz.
No ponto de vista empresas: vai demandar um pensamento cada mais vez disruptivo para gerir a sua base de clientes daqui para a frente; é necessário entender bem o processo de digitalização da jornada dos clientes; ampliar muito rapidamente os seus meios de pagamentos aceitos em transações financeiras e comerciais; diversificar a sua gestão de caixa; entender bem o seu ecossistema e o quanto está exposto a concorrência; pensar em ter a sua própria criptomoeda, se tiver envergadura para isso.
Para o mercado financeiro, é vantajoso abrir novas possibilidades de investimentos e alternativas frente às possibilidade atuais, porém isso demandará uma agilidade muito grande por parte das instituições reguladoras do mercado para manter a qualidade das instituições e ativos, bem como inibir a incidência de fraudes.
Em relação às transformações: podemos esperar com o crescimento das criptos, a digitalização cada vez mais intensa na jornada do cliente (UX – User Experience); a flutuação mais forte de divisas entre os países; maior volatilidade em todos os mercados em função do aumento do risco.
Quando falamos em investimentos, é necessário ter atenção redobrada na escolha das instituições e qualidade dos ativos onde está investindo, pois a incidência de fraudes tende a aumentar de maneira muito forte daqui para a frente.
É preciso ter uma disciplina muito grande na gestão dos seus investimentos e diversificação do seu portfólio, o ideal é não apostar, ou aportar, mais que 20% do seu capital em mercados de riscos, pois a volatilidade é elevada.
Mais que isso: não aplicar o dinheiro que você poderá precisar amanhã para honrar com as suas obrigações ou manter seus investimentos, pois poderá precisar resgatar em um instante desfavorável, gerando perdas. Resumindo, aquela velha “máxima” ainda valerá por muito tempo: “Cautela e Canja de galinha não fazem mal a ninguém!”
Para quem deseja entrar nesse mercado, é preciso entender que para se investir nesses ativos, é preciso calcular bem os riscos intrínsecos, por serem ativos especulativos e com elevada volatilidade, poderá gerar perdas significativas no capital investido frente aos prazos de retornos esperados.
(*) – É especialista em mercado financeiro, bancos digitais e macroeconomia.