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Mitos e verdades sobre a Inteligência Artificial

em Manchete Principal
domingo, 23 de julho de 2023

Francisco Gomes Junior (*)

Uma das consequências da era digital e das mídias sociais foi a de criar especialistas instantâneos nos mais variados assuntos, além de vários modismos sem significativa utilidade. Um exemplo, que se tornou um clichê é a publicação de textos sobre IA (Inteligência Artificial) e ao final mencionar que o conteúdo foi escrito pelo ChatGPT ou outro tipo de boot, isso para demonstrar que já nos confundimos entre a produção humana e a da IA. Pois bem, este texto tem autor, é original, e não tem nenhuma contribuição de IA, é um texto à moda antiga, como faziam incas e maias. Também é dotado de forma antiga o conceito de especialista, como sendo alguém que estudou, graduou-se em determinada matéria, aperfeiçoou-se até se especializar no tema. Necessário esclarecer tal ponto, em um momento em que, em uma semana temos milhares de especialistas em julgamentos judiciais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou do STF (Supremo Tribunal Federal) e na semana seguinte esses mesmos opinadores se tornam especialistas em geopolítica do Leste Europeu. 

Nada contra opiniões aleatórias, todos têm o direito de se expressar. Mas, que não se dê o peso de especialista a uma opinião baseada em achismos ou paixões. Nesse contexto, é importante esclarecer pontos importantes sobre a inteligência artificial, desfazendo mitos que vêm sendo repetidos à exaustão e confirmando aspectos verídicos.

Já vivemos a era da inteligência artificial, ela está presente em nosso dia a dia, seja quando realizamos uma pesquisa no Google, quando fazemos compras na Amazon, quando usamos Smart TVs, entre tantos outros exemplos que poderíamos mencionar. Ou seja, quando falamos que a IA irá ocupar nossos espaços no futuro, estamos diante da primeira inverdade, ela já está entre nós e se desenvolvendo rapidamente para termos em pouco tempo, por exemplo, carros autônomos e Metaverso.

Com ela presente, vamos analisar os pontos mais mencionados a seu respeito:  

  • A IA irá gerar desemprego, substituindo em muitos ramos a atividade humana por robôs. Essa afirmação é verdadeira, haverá tal substituição e há uma necessidade urgente de que todos que puderem se qualifiquem ao máximo na utilização da IA e desenvolvam habilidades que os tornem não substituíveis em suas atividades;
  • A IA pode gerar fake news e difundir inverdades que causem prejuízo à sociedade. É uma frase genérica e que necessita de melhor explicação. Quando o rádio era o grande veículo de comunicação, Orson Wells, o famoso diretor de cinema de filmes como Cidadão Kane, fez uma transmissão por meio da CBS em 1938 anunciando uma invasão alienígena. A notícia obviamente era falsa, mas gerou um grande tumulto e comoção social. A culpa pela fake news seria do veículo de transmissão, da rádio? Ou da forma como ele foi utilizado? E seguindo o progresso da tecnologia, inverdades foram divulgadas pela televisão, pela internet e mais recentemente pelas mídias sociais. A IA é mais um avanço tecnológico que permitirá uma série de benefícios para nossas vidas, mas como todos os outros meios, estará sujeito ao uso indevido, que deverá ser combatido. Mas não é correto gerar um pânico social com a informação de que a IA será uma fábrica de fake News;
  • A IA possibilitará que golpistas desenvolvam novos tipos de fraude. Outra afirmativa capciosa. Golpistas sempre se aperfeiçoam e acompanham a evolução da tecnologia, não é a IA que criará novas fraudes;
  • Deve-se paralisar o desenvolvimento da IA para que possamos estabelecer regras para sua evolução. Quando se está diante de tal afirmação, deve-se sempre verificar quem defende tal postura e se há isenção ou interesse próprio. Um grande magnata defendeu a suspensão por seis meses e pretendia na realidade que sua empresa, atrasada em relação a outras e se igualasse a elas no estágio de desenvolvimento. Dificilmente, qualquer declaração de suspensão seria algo além de mera formalidade. 

Resta evidente que a IA é uma realidade e estará cada vez mais presente na vida de todos. Em um cenário como este, a melhor resposta que se pode dar é estudar, usando as ferramentas de que se dispuser (desde vídeos gratuitos no Youtube e outras plataformas até cursos específicos para quem tenha condição) e se preparar. A informação educativa sempre é a melhor arma contra profecias exageradas de especialistas de fim de semana e contra golpistas. 

(*) Advogado Especialista em Direito Digital. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor da obra “Justiça sem Limites”. Instagram: @franciscogomesadv