São Paulo – Mesmo com o esforço das famílias para gastar menos e pagar suas dívidas, a inadimplência deve continuar subindo entre aqueles de menor renda, apostam economistas especialistas em crédito. Segundo eles, as classes mais baixas estão recorrendo ao cheque especial e ao cartão de crédito para manter o padrão de vida adquirido nos últimos anos e com isso acabam se endividando ainda mais.
No Estado de São Paulo, por exemplo, a proporção de famílias que somam renda de até 10 salários mínimos e estão com contas em atraso era de 14,6% em setembro do ano passado e saltou para 21,8% em setembro deste ano, de acordo com a FecomercioSP. Enquanto isso, entre as famílias com renda superior a 10 salários mínimos, a taxa pouco variou, de 5,2% para 5,8%.
Levando em consideração as famílias que afirmam que não terão condições de pagar suas dívidas, a proporção sobe de 5,0% para 9,5% na faixa de renda até dez salários mínimos, e praticamente se mantém estável entre os mais ricos, passando de 1,9% para 2,0%. “Os mais pobres estão fazendo um esforço para consumir menos e pagar suas dívidas, mas essa desalavancagem tem um limite, porque eles são muito dependentes do crédito”, explicou Vítor França, assessor econômico da FecomercioSP.
Essa dependência do crédito, continua França, se manifesta na combinação entre a alta dos preços, que eleva o custo de itens básicos, e o baixo nível de poupança dos que ganham menos. A saída é recorrer a modalidades emergenciais de crédito, como o cheque especial e o cartão de crédito, para manter o padrão de vida conquistado nos últimos anos.
De acordo com dados do Banco de Central, a participação do cheque especial na inadimplência no Brasil saltou de 14,1% em setembro do ano passado para 15,3% em setembro de 2015. E o cartão de crédito avançou de 7,2% para 8,0%. “Qual a mensagem, então? Enquanto o nível de inadimplência de pessoa física se mantém estável no resultado geral, apesar da piora da economia; a demanda por modalidades emergentes de crédito, que são as de risco mais alto, está crescendo, pois é para elas que as famílias correm no momento de desespero, para ter alguma sobra de renda”, explicou França.
O economista Flávio Calife, da Boa Vista SCPC, concorda que as perspectivas são piores para os mais pobres e acrescenta: “Quem tinha algum recurso na poupança está usando e transferindo para a conta corrente”. Para ele, uma pista desse movimento é o saldo da caderneta e poupança em 2015. No acumulado do ano até setembro, o volume retirado da poupança, descontando os depósitos, foi de R$ 53,8 bilhões. “Enquanto isso, as outras aplicações estão se mantendo em níveis estáveis”, comparou o economista (AE).
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