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Do trabalho remoto à colaboração distribuída: não é de onde você trabalha, é como você trabalha

em Manchete Principal
terça-feira, 11 de agosto de 2020

Daniel Bardusco (*)

Passamos meses de isolamento social. Longe de mim querer dizer que alguém já se acostumou com a situação, mas acho que todos podemos concordar que, com mais de 100 dias de vivência, uma grande parte de nós já se sente um pouco mais estável e adaptado de corpo e mente às condições impostas pela crise da COVID-19. Até mesmo a ponto de pensar se não é hora de buscar desafios maiores.

Muita calma nessa hora. Não estou falando que é o momento de buscar um aumento na produtividade ou finalmente voltar a perseguir os famosos 110% no dia a dia de trabalho. Mas, de certa forma, a rotina que adotamos de março para cá já parece mais natural – isso porque a medida que o cenário começa a estabilizar, surge o espaço para a reflexão.

Por enquanto, ainda não temos previsão de quando o isolamento social chegará ao fim. De quando o tal do “novo normal” irá finalmente se estabelecer, mas já conseguimos identificar algumas práticas que estão sendo reforçadas durante esse período de confinamento e que irão, invariavelmente, compor a definição desse novo contexto.

É importante que comecemos a refletir sobre essas práticas e como são aplicadas, pois tentar reproduzir no on-line o mesmo contexto que tínhamos no presencial, será frustrante e antiprodutivo. Em tempos onde novos casos da COVID-19 começam a surgir na China (onde o cenário parecia estar se estabilizando), não há como negar que a prática do trabalho remoto, por exemplo, será parte indispensável desse “novo normal”.

Mas será que estamos praticando o trabalho remoto em todo o seu potencial? Agora que já “pilotamos” essa prática por pelo menos dois meses em uma escala e intensidade bem maiores do que o normal (para a maioria de nós) e a estabilidade começa a permear o contexto do isolamento social, surge o espaço para a reflexão sobre esse modelo de trabalho e a maneira como ele deve ser encarado daqui para frente.

Ao buscar uma nova definição para o que entendemos por “local de trabalho”, devemos também rever práticas e processos. Neste novo modo de trabalho, completamente digital, vale a reflexão: estamos trabalhando de forma realmente colaborativa?

Muitas empresas tiveram que permitir o trabalho remoto – mas e capacitar esses funcionários para se adaptarem a esse novo formato? É só continuar fazendo o que sempre fiz, com a diferença que estarei de casa, me comunicando e enviando arquivos via internet?

A questão é que, de fato, trabalho remoto é um novo skill. Para a maioria de nós. Uma nova habilidade que só atinge seu potencial se passarmos a trabalhar de forma colaborativa – e isso não é tão simples quanto parece. Quando falamos de trabalho remoto, estamos apenas nos referindo ao fato de que o colaborador não precisa se deslocar até um local central de trabalho.

Trabalho remoto é um novo skill. Para a maioria de nós. Uma nova habilidade que só atinge seu potencial se passarmos a trabalhar de forma colaborativa – e isso não é tão simples quanto parece. Quando falamos de trabalho remoto, estamos apenas nos referindo ao fato de que o colaborador não precisa se deslocar até um local central de trabalho.

Já o trabalho distribuído comtempla a capacidade de um time, mesmo distribuído por diversas localidades, colaborar para atingir seus objetivos com agilidade e excelência, ao trabalhar em um mesmo projeto ou produto. Minha dica para ajudar equipes a trabalhar no modelo distribuído é saber planejar e alternar momentos síncronos e assíncronos de forma precisa. Esse é um insight que pude conferir e exercitar na prática.

Durante esse período, uma coisa ficou clara: na passagem do trabalho presencial para o remoto, os “valores” de cada um desses momento de trabalho foram evidenciados. Trabalhar de forma síncrona por meio on-line é muito mais taxativo do que momentos síncronos presenciais.
Não conseguimos ser produtivos por tantas horas seguidas nesse modo digital de colaboração em real time.

Sendo assim, esses momentos têm de ser cuidadosamente planejados para que durem menos horas, mas de um modo que consigamos extrair deles resultados tão ricos quanto os que tínhamos no presencial. Os momentos síncronos são mais taxativos e por isso devem ser usados com economia. Se estiverem juntos, por um período maior, dê preferência com uma ferramenta de colaboração em real time.

De forma alternada, use os momentos assíncronos para dar mais tempo para si mesmo. Seja para focar e realizar uma atividade que requer concentração e tempo, lidar com as interrupções do dia a dia para em seguida retomar o trabalho, ou ainda planejar cuidadosamente o próximo momento síncrono do time.

Por fim, em um momento delicado como esse, aprenda a dosar o esforço. Cuide de quem você ama. Cuide-se. Não trabalhe mais (horas). Trabalhe da forma mais eficiente possível e otimize os recursos – o tempo é um deles. Isso tudo vai passar e você ainda vai sair dessa com um novo repertório.

(*) – Consultor de inovação e especialista em user experience (UX) no Unboxlab (laboratório de inovação da Afferolab), onde investiga questões relativas a design de experiências de aprendizagem, service design, product design e systems thinking.