Rafael Mafra (*)
Ao longo dos anos, a contabilidade tem sido vista como uma área essencialmente burocrática, marcada por pilhas de papéis aparentemente intermináveis. Embora o mundo tenha avançado tecnologicamente em ritmo acelerado, muitos profissionais e escritórios contábeis ainda resistem a incorporar plenamente as inovações disponíveis.
Essa resistência não é apenas cultural, mas reflexo da própria dinâmica da profissão, que depende da colaboração entre contador e empresário. Afinal, a contabilidade é uma via de mão dupla: sem a cooperação e o entendimento de ambas as partes, os processos tecnológicos ficam subutilizados.
Os números falam por si. No Brasil, por exemplo, são 89.969 contabilidades registradas no Conselho Federal de Contabilidade (CFC), além de 529.168 profissionais com registro ativo. Entretanto, o uso massivo de tecnologias ainda é tímido.
Muitos contadores limitam-se às ferramentas oferecidas pelos softwares contábeis tradicionais, sem explorar soluções mais avançadas que poderiam alavancar a eficiência do setor. Poucos ousam ir além.
A tecnologia já dispõe de ferramentas poderosas que podem transformar a forma como lidamos com dados e processos contábeis, como a Inteligência artificial (IA), que trata grandes volumes de dados, identificando padrões e mitigando riscos fiscais; soluções em nuvem, que eliminam a necessidade de servidores locais, oferecendo segurança e flexibilidade, além de possibilitar trabalho remoto; automação de processos, que reduz tarefas manuais e repetitivas, permitindo que os profissionais se concentrem em análises estratégicas.
Também temos softwares especializados, como algumas ferramentas que cruzam informações, analisam indicadores de qualidade e auxiliam no compliance com legislações, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Um exemplo é o Business Intelligence (BI), que possibilita análises aprofundadas de indicadores financeiros e operacionais. Na Digiwork, por exemplo, somos 100% baseados em nuvem há mais de 15 anos.
Essa decisão nos permitiu trabalhar remotamente com eficiência mesmo em momentos críticos, como durante a pandemia. Até nossa telefonia é online, o que elimina custos e otimiza a comunicação com os clientes. Além disso, investimos em mapeamento e registro de todos os processos contábeis, garantindo um nível elevado de controle e compliance, especialmente no que diz respeito à proteção de dados sensíveis conforme a LGPD.
A adoção de tecnologias não é apenas uma questão de acompanhar tendências, mas de ganhar tempo, otimizar recursos e entregar mais valor. Ferramentas modernas permitem que contadores saiam do trabalho “braçal” e se concentrem em análises profundas, como: diagnósticos de custos e rentabilidade, consultorias estratégicas em recursos humanos.
Da mesma forma, planejamentos tributários mais robustos e eficazes e integração com outros profissionais do cliente, como advogados e consultores de negócios. Isso não apenas agrega valor ao serviço prestado, mas também fortalece a parceria com os clientes, que passam a enxergar o contador como um verdadeiro aliado estratégico.
Para quem está entrando na profissão, o momento é oportuno: o ambiente já é mais digital e integrado. Mas, mesmo assim, vale o lembrete: tecnologia é ferramenta, e quem transforma dados em soluções é o profissional. Investir em conhecimento contínuo é indispensável.
Para os profissionais mais experientes, o caminho começa pela busca de referências (benchmarking). Muitos escritórios de ponta estão abertos à troca de ideias e experiências. Outro ponto importante é revisar constantemente as tecnologias utilizadas.
Parcerias com ERPs online, integração de sistemas e a busca por soluções abrangentes que conversem entre si são estratégias fundamentais. A cada seis meses, é recomendável revisar as opções disponíveis no mercado para evitar redundâncias e manter a competitividade.
O futuro da contabilidade é agora. Modernizar-se na contabilidade não é mais uma escolha; é uma necessidade para sobreviver e prosperar em um mercado cada vez mais exigente. Ainda há desafios, como a escassez de mão de obra qualificada e o alto custo inicial de algumas tecnologias. No entanto, as vantagens de investir em inovação superam qualquer obstáculo.
Estamos diante de uma revolução silenciosa no setor contábil. Cabe a cada profissional decidir se vai apenas observar ou liderar essa transformação.
(*) – É CEO da Digiwork Inteligência Contábil (https://www.instagram.com/digiworkcontabil/).