A inflação esperada pelos consumidores nos próximos 12 meses ficou em 11,3% em janeiro, o maior patamar já registrado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) desde que a série da pesquisa começou, em 2005. Depois de sentirem no bolso um aumento de preços de dois dígitos no ano passado, as famílias começaram 2016 com o orçamento comprimido pelos reajustes em tarifas de ônibus, o que contribuiu para o maior pessimismo.
Os consumidores também estão de olho na opinião de economistas, que acham que o IPCA ficará novamente acima do teto da meta do governo (6,5%) em 2016. “É muito difícil saber como a população em geral recebe as notícias. Mas o fato é que a expectativa de inflação está aumentando. O consumidor começa a perder renda, e os preços em seu dia a dia estão subindo. Isso piora a perspectiva”, disse o economista da FGV, Pedro Costa Ferreira.
O maior problema é que, diante de uma expectativa de inflação nessa magnitude, os trabalhadores devem pressionar por reajustes salariais que ao menos reponham essa perda no poder de compra. Uma preocupação adicional para o Banco Central, que tenta reduzir o passo do aumento de preços. “Isso gera mais inflação, realimentando os resultados”, disse Ferreira. Um ajuste pelo mercado de trabalho, com mais desemprego e queda real nos rendimentos (ou seja, reajustes nominais abaixo da inflação), tem sido defendido por especialistas para aliviar a pressão sobre os preços.
As famílias de baixa renda são as mais assustadas com o ritmo da inflação – também são elas as mais afetadas pelos reajustes em preços administrados, uma vez que o peso deles em seu orçamento é maior. Entre as famílias com ganhos mensais de até R$ 2,1 mil, a expectativa para os aumentos de preços saltou de 11,6% em dezembro para 12,2% em janeiro. A piora na percepção sobre a inflação, porém, ocorreu em todas as faixas de renda, inclusive na visão de quem ganha mais. Ao todo, 61,5% dos consumidores preveem uma inflação acima de dois dígitos nos 12 meses a partir de janeiro – sendo um terço deste contingente apostando em taxas acima de 12%.
De acordo com a FGV, apenas 3% acreditam em uma inflação que se restrinja à meta perseguida pelo governo, cujo teto é 6,5% ao ano. O Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores é obtido com base na Sondagem do Consumidor da FGV, que coleta mensalmente informações de mais de 2,1 mil brasileiros em sete das principais capitais do País. Cerca de 75% destes entrevistados respondem aos quesitos relacionados às expectativas de inflação (AE).
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