Caê Coelho (*)
Nos últimos anos, temos presenciado uma significativa mudança nos padrões de consumo, impulsionada pelo surgimento e crescimento dos “canais fast” (ou “fast channels”). Com o avanço da tecnologia e a fácil disponibilidade de acesso à internet, os consumidores estão cada vez mais optando por serviços e produtos que oferecem rapidez, conveniência e eficiência. No contexto, o termo “FAST” refere-se à “Televisão Grátis Suportada por Streaming e Publicidade” (Free Ad-Supported Streaming TV), em que não há custo de assinatura e o acesso ocorre por meio de dispositivos conectados, como as Smart TVs.
Um dos principais fatores que impulsionam essa mudança de consumo em direção aos canais fast é a ausência de custos mensais. Com o crescimento das diversas plataformas de streaming, como Netflix, Disney +, HBO MAX, Globoplay e outras, o custo de assinar múltiplos serviços se torna elevado ao final do mês. O FAST surge justamente para atender essa demanda.
Diversas pesquisas têm mostrado que os consumidores estão cada vez mais dispostos a aceitar publicidade nas plataformas, desde que isso resulte em economia de dinheiro. Um estudo realizado em 2022 pela empresa de monitoramento de mercado e consumo Hibou, revelou que 71% dos brasileiros são assinantes ou já foram assinantes de alguma plataforma de streaming, e 52% deles já cancelaram algum serviço de streaming.
Com a possibilidade de uma potencial disrupção no mercado, as grandes empresas estão estudando esse movimento. No caso do Brasil, ainda é um conceito embrionário, mas a Globo já lançou dois canais, o Ge FAST e o Receitas Fast, disponíveis no Globoplay e no Samsung Plus.
O mercado levanta algumas questões: caso o modelo FAST se sobreponha ao modelo de assinatura, a receita advinda da publicidade será suficiente? Será um modelo sustentável a longo prazo, especialmente em países com infraestrutura em desenvolvimento como o Brasil? Essas são dúvidas básicas, mas existem outras relacionadas a direitos de eventos ao vivo, legislação de cada país e diversos outros fatores. Respostas adequadas exigirão tempo e estudos aprofundados.
A chegada do conceito FAST certamente impactou os principais fabricantes de Smart TVs, que decidiram aderir totalmente a essa tendência. A Samsung Plus e a LG Channels têm sido fortes nesse mercado, oferecendo conteúdo de qualidade. Por outro lado, os principais players do setor estão entendendo esse novo movimento. Assim como aconteceu com a chegada do Netflix, grandes empresas como Disney, Paramount, HBO, Globo e outras criaram suas próprias plataformas de streaming. Nada impede que, no futuro, eles também ofereçam conteúdos sem assinatura, suportados por anúncios em suas próprias plataformas. Esse debate vem ganhando cada vez mais espaço.
No contexto do FAST, pequenos negócios e empreendedores independentes têm a tendência de programar campanhas publicitárias a um custo acessível, direcionando-as para um público específico. Basicamente, isso traz para o ambiente da TV o que já é feito nas principais plataformas digitais.
Hoje, o FAST é mais uma opção de plataforma e não exclui outras formas de consumo. Observamos o surgimento de inúmeros canais de diversos temas, ampliando a facilidade do modelo e da tecnologia. A indústria de mídia passa por um momento de reestruturação, mas essa mudança está mais relacionada às dificuldades econômicas globais do que a uma suposta nova forma de consumir conteúdo.
É importante desmistificar o conceito de que o tradicional é retrógrado. As grandes indústrias de mídia têm a capacidade de se adaptar, principalmente pela relevância de seu conteúdo. Todos buscam um modelo sustentável. Ao longo do tempo, testemunhamos diversas mudanças de mercado, desde a TV aberta para a TV fechada, passando pelo surgimento do streaming com a Netflix, e agora o advento do FAST.
Em suma, fica evidente que os consumidores desejam uma alternativa, já que muitos não podem arcar com tantas assinaturas. Esse é um momento interessante no mercado, onde a tecnologia continua trazendo transformações em ciclos cada vez mais rápidos, desafiando toda a indústria.
(*) É CEO da PlayTV.