O open finance abriu oportunidades com a coleta de dados de clientes de instituições financeiras e seguradoras. Gerar valor e diferenciação a partir do uso desses dados e criar produtos, serviços e modelos de negócio são alguns dos benefícios e desafios apontados por executivos.
No Brasil, há atualmente 6,5 milhões de consentimentos de clientes de bancos para o compartilhamento de dados, segundo o Banco Central. Para a sócia da EY em Data e Analytics, Telma Luchetta, a aplicação de inteligência analítica aos dados cria estratégias às empresas de “ataque e defesa”, com base na importância da agilidade e da qualidade das informações.
“As empresas já asseguram que os dados são recursos cruciais para evolução de seus negócios. Por exemplo: não dá para fazer o open finance sem dados, não dá para pensar em metaverso sem dados”. Ao processar dados sob demanda, as instituições financeiras podem entender sua clientela para oferecer o que for mais adequado a ela.
“O contexto agora é baseado em dois pilares fundamentais para a sociedade: o pilar da privacidade e o da experiência. A maneira pela qual a gente vai pensar na geração de valor sai da visão tradicional de pegar o dado e fazer o modelo para ganhar dinheiro para uma visão da necessidade do cliente. Há uma mudança de paradigma fundamental que culminou com a LGPD e o open finance”, explicou Rafael Cavalcanti, head de Dados & Analytics do Bradesco.
“Essa evolução é algo novo para todos os bancos. Quando pensamos na entrega de valor, temos de nos enxergar como parte do processo”, afirmou Gabriel Arruda, superintendente de TI e Dados do Safra, que também esteve no Febraban Tech. “É sempre um desafio. Temos de pensar: como entregamos mais valor para o cliente? Numa concepção de produtos de dados, é preciso pensar no quanto vamos conseguir agregar de valor ao cliente”.
Telma explica que ainda há algumas barreiras para alavancar a monetização de dados, como a LGPD, o desconhecimento dos dados por parte das instituições e a capacitação das equipes técnicas para criar produtos. “Pensando em uma instituição financeira, ela precisa continuar trabalhando seu portfólio e, ao mesmo tempo, gerar e pensar novos produtos. A partir daí, treinar a força de venda para vender esses produtos”, afirma.
Além da monetização por parte das instituições, Telma diz que, em alguns anos, os consumidores poderão monetizar e decidir para quem vender suas informações. “Eles vão poder ganhar com isso. Ainda não se sabe como isso será feito. Poderá ser por meio de um produto, incentivo ou até mesmo dinheiro. Cada empresa vai definir o seu modelo”.
O Open Finance proporciona grande quantidade de dados. Mas não adianta a instituição captar essa grande quantidade de dados se não souber usá-la para sua estratégia. “Isso é normal acontecer porque o volume que se captura é muito maior do que o que se consegue analisar”. Com isso, grandes empresas passaram a não fazer uso devido desses dados.
De acordo com Telma, já se discute o conceito de “small date”. “Isso não significa que a empresa não vai coletar essa quantidade enorme de dados. Mas, se eu tiver esses dados em silos menores, consigo facilmente tratá-los. Delega-se responsabilidades e as áreas de negócios trazem ideias para que se consiga criar produtos a partir desses pequenos silos de dados”, completa (Agência EY).