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Coaching: contra a banalização da profissão, a seriedade

em Mais
quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Bianca Aichinger e Susana Azevedo (*)

Imagine um profissional bastante experiente, demitido aos 50 anos de idade e sem o tão falado “plano B”. Outro caso: uma colaboradora é promovida a líder da equipe e se vê repleta de dúvidas com relação à atuação que precisa ter no novo cargo. São apenas dois exemplos de pessoas que, com o apoio de um coach, podem se desenvolver profissionalmente e crescer pessoalmente.

Mas é preciso ressaltar que o coaching vem sendo banalizado no Brasil, o que causa prejuízos de diversas ordens para os profissionais da área e para quem poderia se beneficiar do serviço. Observamos que, infelizmente, pessoas mal intencionadas ou sem informação pegam para si um título que, para tê-lo, é preciso de preparação e muito estudo.

O que poucos sabem, é que a seriedade permeia o coaching. Entendemos que, para que uma atuação séria e sólida possa acontecer, dada a velocidade das mudanças atuais, o profissional que trabalha com coaching necessita realmente viver a mentalidade de abertura e de busca de renovação e aprendizado constante, investindo tempo e dinheiro em formações e outras formas de aperfeiçoamento.

A seriedade e a capacidade do profissional serão um reflexo desta vivência, que é a base da abordagem. Não basta fazer coaching, é necessário ser coach. E, a esta altura, você deve estar se perguntando como escolher, portanto, um coach com segurança. Basta uma medida: saber se ele faz parte da Federação Internacional do Coaching (ICF).

Fundada em 1995, até hoje esta é a maior instituição global sem fins lucrativos que promove o profissionalismo e a excelência no coaching. A ICF possui mais de 60 mil membros em mais de 150 países. Estima-se que o mercado atual global de coaching beire os US$ 5 bilhões, valor 60% superior ao visto na pré-pandemia (2019).

Segundo relatório da ICF, este mercado, na América Latina e Caribe, totaliza US$ 332 milhões. Nesta região, estima-se que operem quase 15 mil profissionais. Segundo a definição atual da ICF (International Coaching Federation), “coaching é uma parceria com o cliente em um processo criativo, que o instiga à reflexão e o inspira a maximizar seu potencial pessoal e profissional”.

Ao olhar como a profissão surgiu, percebemos que ela sempre esteve no contexto de desenvolvimento de pessoas, desde o século passado. O coaching é uma palavra que ganhou notoriedade nos últimos anos e virou até uma “moda”.

No início, professores e tutores particulares eram chamados de coaches. Algumas décadas depois, em meados do século passado, o “título” passou a designar treinadores esportivos. Em 1980, ele passou a ser adotado no contexto empresarial, e, somente na década de 90, se tornou uma metodologia reconhecida e difundida no meio empresarial.

Futuro
Em agosto passado nós estivemos na Converge 23, evento bianual global da ICF, que aconteceu na Flórida, nos Estados Unidos (o primeiro presencial após a pandemia), e observamos algumas tendências neste mercado. O coaching, cada vez mais, poderá apoiar os profissionais nos desafios que se mostram a cada dia.

O que mais impressionou, durante este encontro, foi a força e intensidade com que os temas associados à diversidade foram abordados. Para começar, o termo Diversidade e Inclusão, muito difundido, foi expandido para Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento. Não basta mais trazer pessoas diversas para as organizações – é necessário criar um ambiente colaborativo que permita que todos sejam, de fato, ouvidos e valorizados. O termo em si “cresceu”, e agora traz consigo temas como liderança inclusiva e cultura de colaboração – ambos campos que podem se beneficiar do apoio de um profissional qualificado.

Neste tema ainda se observa uma expansão em relação ao que é diversidade para além das bandeiras tradicionais – há até pouco tempo falávamos de raça, etnia, gênero e orientação sexual. Passamos agora também a incluir nesta discussão e visão questões relativas à neurodiversidade e a um melhor entendimento da questão geracional. É preciso que líderes e profissionais da área de desenvolvimento busquem se aprimorar e se aprofundar nestes dois temas adicionais, cuja relevância é crescente.

Outro assunto importante que ascendeu neste encontro se refere à tecnologia. Foram discutidas formas de integrar, tanto metodologias de desenvolvimento de produtos digitais como as metodologia Ágil e o Design Thinking, quanto a Inteligência Artificial. Entendemos que esta é uma conversa inicial – já sabemos que o coaching e a tecnologia em algum momento encontrarão pontos de intersecção, mas ainda existem muitas dúvidas em relação a como fazer isso de forma ética e que beneficie o cliente e a profissão.

Por fim, observamos uma expansão ou diversificação das metodologias e escopos de trabalho. Se considerarmos o coaching individual voltado para resultados como a base ou o ponto de partida, agora falamos também de criatividade e saúde mental neste contexto, assim como sobre o trabalho com equipes por meio do coaching de equipes, e, em casos de maturidade corporativa mais elevada, do fomento de uma cultura de coaching, em que todos os colaboradores, independentemente do nível, têm acesso a um coach e na qual líderes recebem treinamento para trabalhar, utilizando a abordagem em seu dia-a-dia.

Ao olhar o todo, observamos, em 30 anos, uma grande mudança de paradigma no cenário de desenvolvimento humano e organizacional. Partimos de um cenário em que o coaching era para poucos, e chegamos em um momento em que, provado seu benefício, se expande sua atuação. O termo “da vez” é coaching para todos. A profissão aporta diferentes conhecimentos e metodologias, de forma a atingir e gerar valor em todos os níveis e em resposta a diferentes necessidades.

Com esta expansão, observa-se uma necessidade ainda maior de que se certifique que a profissão, que não é regulamentada por órgãos governamentais, reforce ainda mais seus altos padrões em termos de ética e competência técnica. De um lado, temos ainda que reforçar os conceitos do coaching e defender a profissão dos aventureiros. De outro, percebemos as grandes mudanças trazidas pela tecnologia, por exemplo, que precisam ser entendidas no universo coaching.

Observamos que a ICF está muito atenta a esta grande mudança e respondendo de acordo. Além de uma revisão do processo de credenciamento de profissionais, que agora se mostra mais exigente e diligente, observamos também um enorme fortalecimento e presença dos comitês de ética e DEIP (Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento).

O coach é uma peça importante que “azeita” o funcionamento de equipes e o desenvolvimento individual. Para que isso possa acontecer, o preparo tem que começar no próprio profissional, que precisa “viver” o que acredita e acompanhar as diversas e dinâmicas mudanças, que englobam diversidade, sustentabilidade e inteligência artificial, só para citar algumas.

A banalização do coaching não interessa a ninguém. Nem aos coaches e muito menos aos profissionais que necessitam do treinamento e das orientações. Quando as pessoas se desenvolvem e alcançam metas, fazem uma sociedade que constrói um mundo melhor. O desrespeito ao coaching é um desserviço ao mundo.

(*) São ex-executivas, coaches e sócias-proprietárias da Quantum Development.