Leandro Leis (*)
O mundo tem se tornado mais digital, ano após ano, e a pandemia acelerou muito esse processo de digitalização. Muitas pessoas se depararam com alguma limitação de acessibilidade que impedia o uso adequado de sistemas, páginas na internet ou aplicativos no celular, ficando impossibilitadas de fazer parte da digitalização de maneira completa.
A acessibilidade digital tem por objetivo “quebrar” barreiras digitais, com o conceito de criar um ambiente favorável para pessoas com deficiência, idosos, pessoas com baixo letramento, dislexia, TDAH e, até mesmo, estrangeiros que não estejam habituados com as linguagens das plataformas.
O Censo Demográfico do IBGE de 2010 apontou que há, aproximadamente, 45 milhões de pessoas que apresentam pelo menos uma deficiência, algo em torno de quase 24% da população brasileira, índice bastante expressivo. Devido à grande importância do tema foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), com o objetivo de assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos das pessoas com deficiência, entre os quais a acessibilidade digital, bem como estimular práticas e conscientizar a sociedade.
Cada vez mais as empresas começam a entender a necessidade de tornar seus conteúdos, além de aplicações, mais acessíveis ao público. Iniciativas de inclusão e diversidade, atreladas a ações de cunho ambiental, social e de governança (ESG), presentes na pauta de grandes empresas, também passam a ganhar importância em diferentes segmentos, devido ao crescimento do tema e a conteúdos publicados e compartilhados que ajudam a população a compreender melhor a relevância da acessibilidade digital para as pessoas, em primeiro lugar, mas, também, para a economia. Equipes e áreas empresariais, bem como, organizações que trabalham em prol da acessibilidade e, até mesmo, empresas dedicadas a esse segmento têm contribuído e alavancado o tema, que ainda precisa de muito incentivo e investimento para crescer e impactar positivamente um número maior de pessoas.
Acessibilidade não é um diferencial competitivo ou algo a mais a oferecer, mas sim uma necessidade de usuários e públicos ávidos por consumir serviços e informações que orientam a digitalização. O tema tem teor estratégico nas organizações que passam a entender e a buscar maneiras de ampliar seus serviços e conteúdos para atender às necessidades de quem quer ou precisa dessa inclusão para ter acesso a serviços e informações.
Esse grande movimento estratégico frente à acessibilidade digital permite impactar de forma positiva tanto a vida dos profissionais, com mais e melhores oportunidades no mercado, quanto dos usuários finais. Há anos atrás, as pessoas com deficiência, muitas vezes, entravam nas empresas para cumprir cotas e, atualmente, vêm adquirindo notoriedade para ocupar diferentes posições e cargos de liderança, como, por exemplo, na condução de iniciativas corporativas sobre o tema, atuando de forma consultiva e colaborativa em equipes multidisciplinares, compartilhando experiências e orientando os caminhos que pessoas e empresas precisam seguir para se adequar, criando novas oportunidades de carreira para pessoas com deficiência e com maior valorização de seu perfil profissional.
No entanto, o processo de acessibilidade digital deve estar inserido não apenas numa estrutura organizacional, mas, também, na criação das aplicações. Projetos que utilizam os princípios de acessibilidade desde a sua concepção se tornam mais lucrativos e otimizam o tempo da equipe ao longo da jornada de criação. Ao incorporar a acessibilidade desde a prototipação até as etapas de desenvolvimento e testes, o projeto consegue ser acessível até a experiência final aprovada pelo público.
No mercado da tecnologia existe uma alta demanda por profissionais capacitados a trabalhar com acessibilidade, que possam identificar as necessidades dos usuários e trabalhar na aculturação de equipes sobre o tema, contribuindo para que projetos se tornem acessíveis desde a concepção e para a adequação de sistemas e aplicações já existentes.
A acessibilidade é um aspecto estratégico, quando pensamos em crescimento. Ela favorece um público-alvo mais abrangente para as empresas e, consequentemente, maior rentabilidade, aumento do ranqueamento em plataformas de busca e, principalmente, maiores reconhecimento e identificação do público com a marca.
(*) É Head of QA Engineering Brazil do Grupo GFT