Relação entre cintura e estatura pode indicar risco cardiovascular
O acúmulo excessivo de gordura na região abdominal já é um conhecido indicador de risco para doenças cardiovasculares
A obesidade é considerada uma epidemia global pela OMS. No Brasil, pesquisa da Vigitel de 2017, que 18,9% dos brasileiros estão obesos. Foto: Ginecomastia.org/ABr |
Camila Maciel/Agência Brasil
A medida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não deve ultrapassar 94 centímetros (cm) nos homens e 90 cm nas mulheres. Um novo estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no entanto, identificou que pessoas fisicamente ativas e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura (RCE) próximos ao limite do risco, também têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios no coração.
O RCE é obtido pela divisão da circunferência da cintura pela estatura. “Até então, os valores acima de 0.5 indicavam alto risco de desenvolver alguma doença cardiovascular ou metabólica. Os valores abaixo de 0.5 indicavam que a pessoa tinha aparentemente menor risco”, explicou Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp de Marília e coordenador da pesquisa. Para o estudo foram selecionados 52 homens saudáveis e fisicamente ativos, com idade entre 18 e 30 anos. Segundo Valenti, estudos recentes sugerem que a RCE fornece informações mais precisas de riscos cardiovasculares do que o Índice de Massa Corporal (IMC), que avalia a distribuição de gordura pelo corpo.
“O resultado que encontramos chama a atenção daquelas pessoas que acham que [estão fora dos grupos de risco] por não ter barriga, mas não fazem atividade física ou mantêm hábito alimentar saudável. Mesmo sem barriga, pode ser um risco”, alertou o professor com base no trabalho. O estudo, que tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi feito em colaboração com a Oxford Brookes University, na Inglaterra, e publicada na revista Scientific Reports.
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Avaliação
Os participantes do trabalho foram divididos em três grupos: o primeiro, composto por homens com menor percentual de gordura corporal e com RCE entre 0,40 e 0,449; o segundo, formado por homens com RCE entre 0,45 e 0,50, próximo ao limiar de risco; e o terceiro, por homens com RCE acima do limite de risco, entre 0,5 e 0,56. “Nós avaliamos parâmetros fisiológicos do sistema nervoso autônomo, por meio do ritmo do coração, antes e durante uma hora após a recuperação do exercício”, explicou Valenti.
Eles foram avaliados durante dois dias. No primeiro exercício, os participantes tiveram que permanecer 15 minutos sentados e em repouso e, em seguida, fizeram uma corrida com esforço máximo em uma esteira ergométrica. O objetivo era constatar que todos eram fisicamente ativos. Embora não fossem atletas, mantinham atividades regulares. Em seguida, teriam que ficar em repouso por 60 minutos.
No segundo dia, foram submetidos a um exercício físico moderado: uma caminhada de 30 minutos em uma esteira. A intensidade seria de aproximadamente 60% do esforço máximo. A intenção era observar, durante o repouso e a primeira hora após os exercícios, a velocidade de recuperação cardíaca autonômica. “Quanto mais tempo o organismo demora para se recuperar após o exercício, isso é indicativo de que essa pessoa tem probabilidade maior de desenvolver doença cardiovascular, como hipertensão, infarto, AVC”, disse o pesquisador.
Os resultados mostraram que os grupos com RCE próximo e acima do limite de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas apresentaram recuperação cardíaca autonômica mais lenta, tanto no esforço máximo quanto no moderado. “Mesmo aqueles saudáveis e fisicamente ativos, que não tinham sobrepeso e nem obesidade, mas que tinham valores de normalidade mais próximos dos valores de risco, tinham risco maior do que aquele grupo que era composto por indivíduos com menor tamanho de cintura e estatura”, destacou Valenti.
O pesquisador explicou que este é um estudo inicial, mas com “fortes evidências” da necessidade de rever os valores de referência. “Vamos sugerir agora que ele seja feito em outros países, com outra população, em outras condições. Aqui verificamos na população brasileira. Se pensarmos na população da China, do Japão, que tem cultura diferente, costumes diferentes, não podemos generalizar com base nos resultados apenas dos brasileiros”, advertiu.
Obesidade
A obesidade é considerada uma epidemia global pela OMS. Estima-se que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso, dos quais 600 milhões estão obesos. No Brasil, a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2017, do Ministério da Saúde, mostrou que 18,9% dos brasileiros estão obesos. Além disso, mais da metade da população das capitais brasileiras (54%) têm excesso de peso.
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Estudo sugere ‘dieta universal’ para salvar o planeta
Um estudo conduzido pela organização EAT-Lancet comprovou que maus hábitos à mesa provocam mais riscos para a saúde do que tabaco, sexo sem proteção e álcool juntos. O relatório aponta que, para salvar as pessoas e o planeta, deve-se dobrar o consumo de frutas, verduras, legumes e nozes, além de reduzir pela metade a ingestão de açúcares e carne vermelha até 2050.
O estudo foi apresentado na quinta-feira (17), em Oslo, na Noruega, e publicado na revista científica Lancet. A comissão de estudiosos, financiada pela Fundação EAT, do casal norueguês Petter e Gunhild Stordalen, reúne autores considerados dentre os mais renomados da nutrição e da sustentabilidade, desde o professor de Harvard Walter Willett ao inventor do “km zero” Tim Lang, provenientes de universidades de todo o mundo e de organizações como FAO e OMS.
O objetivo da publicação é propor uma dieta saudável universal de referência, baseada em critérios científicos, para nutrir uma população mundial de 10 bilhões de pessoas em 2050 de modo sustentável, evitando a morte de mais de 11 milhões de indivíduos por ano por doenças ligadas a maus hábitos alimentares. A proposta da comissão tem como referência a dieta mediterrânea, em sua versão usada na Grécia da metade do século passado, em um regime que prevê a ingestão de 2,5 mil quilocalorias por dia.
Além de mudar o consumo, a comissão sugere ainda limites no uso de terra, água e nutrientes, para a produção de uma agricultura sustentável. Para atingir esses resultados, a pesquisa indica uma variedade de áreas de intervenção, envolvendo governos, indústrias e sociedade. Entretanto, segundo a Associação Europeia dos Transformadores de Carne (Clitravi), o estudo da Lancet propõe velhos argumentos antizootecnia e distorce dados para fins ideológicos.
“Um voo de ida e volta de Roma a Bruxelas gera emissões mais elevadas que o consumo anual de carne de uma pessoa”, diz a Clitravi. Segundo a associação, a EAT ignora o impacto ambiental de outros setores. “Uma dieta equilibrada e exercícios físicos regulares podem fazer a diferença. Esperamos que a comissão perceba isso e veja todas as inovações em que o setor investe para reduzir o impacto ambiental”, conclui a associação (ANSA).