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Rádio Nacional 80 anos – De criadora de um novo padrão radiofônico à atual emissora pública

em Especial
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
Acervo/Rádio Nacional do Rio de Janeiro

Rádio Nacional 80 anos – De criadora de um novo padrão radiofônico à atual emissora pública

Presente na memória afetiva da população como emissora que mostrou o Brasil aos brasileiros, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi inaugurada em 12 de setembro de 1936, ao som de “Lua do Sertão”, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. Do surgimento até os anos 1960, a Nacional se firmou como grande fenômeno de expressão da cultura popular brasileira, tornando-se uma das cinco maiores rádios do mundo

Acervo/Rádio Nacional do Rio de Janeiro

Auditório da Rádio Nacional nos anos 50.

A Nacional criou formatos que passariam a se estabelecer como padrões comerciais para a comunicação de massa, como os programas de auditório, que contavam com presença do público no histórico Edifício A Noite – primeiro arranha-céu da América Latina, instalado na Praça Mauá, centro do Rio Janeiro. Grandes maestros, músicos, cantores, cantoras, locutores, radioatores, radioatrizes, apresentadores e repórteres fizeram a história da emissora.

Em 2008, a rádio passou a ser integrante da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e teve uma ampla reformulação estrutural, técnica e de programação. Ajustes feitos com os olhos no futuro, porém sem esquecer das suas características históricas. Se antes a Nacional tinha como filosofia uma programação patrocinada e comercial, atualmente ela tem caráter cidadão, musical, cultural, noticioso e esportivo.

Se em 1936, a Rádio entrava no ar, o projeto da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande teve início três anos antes, em 1933, quando foi constituída a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional. O grupo adquiriu a sede do grupo que editava o jornal A Noite, que abrigou a emissora por 77 anos. O edifício histórico tem até hoje o nome do antigo jornal e é tombado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A Nacional abriu a programação esportiva com a transmissão do seu primeiro Fla x Flu, narrado por Oduvaldo Cozzi.

O apresentador César de Alencar, com as cantoras Emilinha Borba, Marlene, Carmelia Alves, Linda Batista, Heleninha Costa e o locutor Afrânio Rodrigues.O primeiro time da Rádio Nacional era composto por nomes como o maestro Radamés Gnatalli, o professor de ginástica Osvaldo Diniz Magalhães, a locutora Ismênia dos Santos, as cantoras de samba Marília Batista e Aracy de Almeida, o compositor Lamartine Babo, e intérpretes de canções brasileiras como Orlando Silva e Nuno Roland, entre outros. Passaram por lá ainda outros músico como Caubi Peixoto, Herivelto Martins, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Marlene.

A emissora também seria o berço de grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Paulo Gracindo, Henriquieta Brieba, Virginia Lane, Rodolfo Maia, Mario Lago, Isis de Oliveira e Janete Clair. A Nacional deu início às transmissões de radioteatro três meses após a inauguração.

Segundo o livro “Por trás das ondas da Rádio Nacional”, de Miriam Goldfeder, a incorporação da emissora ao patrimônio da União em 8 de março de 1940 – durante o governo de Getúlio Vargas – deu condições que a levaram a ser o grande fenômeno de expressão da cultura popular brasileira e uma das cinco maiores rádios do mundo à época.

Em 1941, foi lançada a primeira história-seriada do rádio brasileiro chamada “Em busca da felicidade”, de autoria do cubano Leandro Blanco. No elenco estavam nomes como Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo Maier, Isis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint Clair Lopes e Brandão Filho.

No mesmo ano, em 28 de agosto, surge o Repórter Esso. Com o slogan “O primeiro a dar as últimas”, o programa inicialmente não tinha um apresentador exclusivo. Mais tarde, em 1944, Heron Domingues se tornou sua voz oficial. Havia tanta credibilidade do público que considerava-se que a informações só eram de fato legitimadas quando iam ao ar no Repórter Esso.

Com seis estúdios e uma agenda de programação ao vivo, em 1942 o famoso auditório com 496 lugares da emissora foi inaugurado. Era ali que programas, apresentadores, cantores e artistas podiam sentir a vibração do público que lotava o lugar.

Carlos Carrier, Paulo Gracindo e Ari Barroso.Em entrevista recente à emissora, o compositor João Roberto Kelly, autor de inúmeras marchinhas carnavalescas, contou que “o auditório da Nacional era o verdadeiro termômetro das marchinhas. Se o público aprovasse a música lá, com certeza ela ganharia as ruas”.

Cauby Peixoto, ao lado de Ellen de Lima, cantora que integrava o cast da emissora.A Nacional tinha hegemonia na radiodifusão brasileira e imprimiu um novo jeito de comunicar com o povo por meio de programas esportivos, humorísticos, noticiários e novelas; além de consolidar e influenciar a formação de grandes artistas brasileiros. No fim dos anos 1950, no entanto, a Rádio – que perdia força desde a morte de Getúlio Vargas (1954) – teve sua estrutura fragilizada com o impacto do surgimento da televisão, que gerou a fuga das verbas publicitárias para emissoras de TV. No início dos anos 1960, a falta de apoio ao projeto ficou clara no governo de Juscelino Kubitschek, que negou a criação de um canal de TV vinculado à Nacional. Enfraquecida, a Rádio teria deixado de responder às necessidades do público para o qual se dirigia.

Outra razão para diminuir a Rádio perante a concorrência foi a expulsão de diversos artistas, que saíram do quadro da emissora em razão da ditadura militar. Considerados “subversivos”, os comunicadores foram delatados por radialistas da própria casa, que assim passou por um processo de esvaziamento. Anos mais tarde, na década de 1980, alguns dos artistas demitidos foram reintegrados (ABr).