Margareth Artur (*)
Em quê e em quem acreditar quando recebemos notícias, pelas redes sociais, telejornais, celular, Facebook e Whatsapp além das informações passadas boca a boca ? O que é verdade? As informações nos chegam desencontradas, descabidas, contraditórias, absurdas e fantasiosas para caluniar, disseminar preconceitos, confundir pessoas, pensamentos, inferir julgamentos.
Convivemos com o acesso total aos meios que envolvem a comunicação. Estamos rodeados de notícias falsas, conhecidas como fake news, que nos espreitam a cada minuto no cotidiano. Em artigo publicado na revista Organicom, as pesquisadoras Pollyana Ferrari e Margareth Boarini trazem reflexões sobre os fenômenos apontados, a partir de resultados de pesquisas e relatos de casos reais.
Um antídoto para nos imunizar minimamente contra as chamadas fake news é estimular o pensamento crítico, na busca de leituras comparativas, desconfiar, à primeira vista, daquilo que se vê, escuta, lê, enfim, desenvolver, criar possibilidades de a população procurar informações sérias, reais, comprovadas, baseadas na ciência e na verdade dos fatos.
Aliado da aceitação cega, das mentiras e da desinformação, temos o fenômeno do negacionismo, quando se quer escapar de uma verdade incontestável, “empregado como recurso para evidenciar temas que chamem atenção da opinião pública ao mesmo tempo que minimiza outros para servir a interesses políticos”.
As notícias falsas, o negacionismo e a desinformação, de acordo com as autoras, não são novas na história. Como exemplo, relatam o negacionismo após a Segunda Guerra Mundial, em que se tentou reduzir o número de judeus mortos no Holocausto, negando-se até a existência das câmaras de gás. O artigo relata também o início das fake news em âmbito mundial, além das falsas indicações e receitas caseiras de Donald Trump para curar a covid-19.
Os fenômenos da desinformação, das fake news e do negacionismo adquirem maior força pela disponibilidade poderosa de “ferramentas comunicacionais que a tecnologia atual oferece”, que se alastram indiscriminadamente pelo mundo todo como raízes de árvores que se expandem pelo solo propício.
Isso gera o excesso de informação não confiável que gerou a desinformação, na confusão propositada às populações em um mundo que gira em torno do consumismo e do descaso dos poderosos: “Basta o emprego correto de ferramentas tecnológicas disponíveis e um bom plano de ação, para que a opinião do público corra o risco de ser ‘trabalhada’”.
As autoras chamam a atenção para o entendimento real das chamadas “bolhas”, conceito difundido e praticado na pandemia de covid-19, uma espécie de isolamento para a dita “proteção de famílias”.
Acontece que “as bolhas e, respectivamente, seus membros, têm suas preferências e conexões facilmente escaneadas”, estabelecem-se como uma forma de controle exercido pelas informações que concedemos pelo Facebook, pelo celular, pelos sites que acessamos, causando uma completa falta de privacidade do indivíduo que, dessa maneira, fica exposto a todo o tipo de manipulação.
A pandemia veio agravar essa situação, pois evidenciou a “crise de confiança vivida por instituições como a imprensa e a ciência, entre outras”.
O pensamento crítico é fundamental para se buscar a verdade de um fato, de uma notícia, de uma situação, junto do desenvolvimento e do estímulo à educação dos indivíduos, os quais, neste momento, já estão inteirados na questão, visto que, segundo alguns estudos, “o termo fake news já está disseminado, […] 85% das pessoas se preocupam com isso”.
Destaca-se que o exercício do pensamento crítico precisa ser um processo permanente, abrangendo as populações sem discriminação de raça, idade, nível econômico e/ou social, criando-se “ações inclusivas e permanentes”, promovendo-se reflexões e iniciativas capazes de combater a desinformação.
A pandemia, nesse sentido, contribuiu para isso porque as pessoas estão mais atentas quanto às informações recebidas pelos diversos canais de comunicação – um avanço para “tornar cada cidadão responsável pela disseminação da informação checada e combatente no processo da desinformação”.
(*) – Jornal da USP.