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O coronavírus de 2020 e suas comparações com a Febre Amarela no Brasil-Colônia

em Especial
sexta-feira, 27 de março de 2020

Todas as vezes que falamos sobre epidemias, devemos levar em consideração o estágio da ciência e da medicina na época em que tudo aconteceu.
Em nossos dias o grande malfeitor é o coronavírus, mas os cientistas haverão de vencê-lo em breve, assim se espera.
Na história do Brasil, a primeira grande epidemia aconteceu no século 17, por volta de 1685.
Um navio negreiro proveniente das Ilhas de São Tomé e Príncipe, trouxe a bordo pessoas febris.

Mosquito Aedes Aegiypti viajou para o Brasil em 1685 dentro de um navio trazendo escravos

Acreditava-se que o mal teria sido causado pela carne deteriorada servida como alimento aos escravos.
Na verdade, se tratava da febre amarela causada pela picada do mosquito Aedes Aegypti, cuja tradução do latim para o português significa:“Odioso do Egito”.Outros vetores de transmissão dessa febre são os mosquitos Haemagogus e Sabethes, presentes nas regiões silvestres, onde contaminam os macacos.
Estes, por sua vez, contagiam os seres humanos.
Hoje existem vacinas, mas naquele tempo não praticamente havia nenhum tipo de tratamento.
Com a febre as vítimas passavam a ter hemorragias internas, lançando para fora um vômito negro.

A bordo dos navios negreiros as pessoas viajavam aglomeradas, sem a mínima condição de higiene, facilitando o contágio

O livro História do Brasil – Espírito Colonial, de Pedro Calmon, publicado em 1935, conta que após o desembarque em Olinda, o maltrazido pelos escravos doentes se espalhou pelos arredores.
“Morriam de 20 a 30 todos os dias”, diz o autor, salientando que autoridades pediram ao reino português, em julho de 1686, mais de um ano depois dos primeiros casos, a vinda de um novo médico.
O único profissional existente em Pernambucano morrera de febre amarela logo no início da epidemia que depois se alastraria, fazendo mais vítimas na Bahia.
Outra publicação: História da Febre Amarela no Brasil, de Odair Franco, lançada em 1969, informa que o médico enviado ao Brasil deu início a uma campanha de “purificação das casas”.
As janelas passaram a ser abertas para a entrada do sol e ar, “esfoliando-setodas as impuridades e teias de aranha…”Outra determinação explicada no livro: “A moradia em que alguém tivesse morrido seria caiada de novo, lançando-se nela grande quantidade de cal virgem…”
“Para a noite, de portas fechadas, a determinação passou a ser o uso de defumadores…”
Quem não o fizesse ficaria sob pena de multa de dez tostões, dobrada nas reincidências.

Casas caiadas com cal virgem para evitar o contágio de doenças passou a ser uma obrigação no século 17

Tornou-se obrigatória a limpeza das ruas pelos moradores, cabendo também a eles a coleta do lixo.
O destino de toda a sujeira recolhida seria o rio mais próximo, ainda não se sabia que com esse procedimento apenas se transferia a doença de um lugar para o outro.
Houve também isolamento, não das pessoas sadias, mas dos infectados.
Segregados, os doentes eram levados a lugares distantes da povoação, onde o destino seria apenas o de se aguardar a hora da morte.
Entre as leis voltadas a se diminuir a quantidade de vítimas da febre amarela, no século 17, foi em relação aos sepultamentos.
Estes, passaram a ser feitos em covas que não poderiam ter menos de cinco palmos de profundidade.
Sobre os túmulos se acendiam fogueiras por três dias seguidos após o enterro.
Às custas do Senado foi pago o serviço para ladrilhar as lápides de modo que não pudessem “sair vapores delas”.

Corpos mesmo sepultados ainda serviam como focos de contágio, daí a necessidade de fogueiras sobre as covas

Depois de atingir seu ápice em 1687, a primeira epidemia brasileira, entrou em declínio a partir de 1691.
A febre amarela voltaria a atacar outras vezes, uma outra epidemia assolou o País no século 19, mais propriamente em 1850.
Nessa ocasião, as autoridades médicas exigiram que Dom Pedro II se recolhesse com a família em Petrópolis, para ficarem livres do contágio. 
Desde 1942, a febre amarela está sob controle no Brasil, graças à existência de uma vacina, entretanto, vez por outra reaparece.
Do início de 2017 até fevereiro de 2019, o Brasil registrou 326 casos confirmados de febre amarela, com 109 óbitos.

Para se evitar a febre amarela, basta se vacinar embora a doença ainda faça muitas vítimas na região amazônica

Quanto ao coronavírus, esperamos que em breve seja vencido, afinal a ciência hoje está bem mais avançada do que nos tempos do Brasil-Colônia.

Os males do coronavírus por enquanto só podem ser evitados com o isolamento das pessoas, aguarda-se por uma vacina