As chuvas intensas que atingiram os municípios gaúchos, provocando mortes e destruições, reforçam o atraso das cidades brasileiras no enfrentamento dos impactos causados pelas mudanças climáticas.
“O Brasil precisa urgentemente adotar o planejamento como forma de reduzir os danos causados por esses períodos de chuvas extremas e estiagem. Caso contrário, os prejuízos se multiplicarão”, alerta o engenheiro Luiz Pladevall, vice-presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e presidente da Abes-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).
O dirigente explica que as ações são complexas, dependendo da realidade de cada município: “A ocupação adequada do solo precisa ser uma das primeiras iniciativas e deve seguir critérios técnicos rigorosos. Não é possível tolerar mais tanta ocupação irregular. Precisamos inibir essa iniciativa e acelerar a oferta de moradias em localidades seguras”.
O crescimento urbano desordenado nas últimas décadas e a falta de planejamento têm impactos diretos no escoamento das chuvas. Assentamentos e ocupações irregulares em Áreas de Preservação Permanente (APP) e em Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM) são exemplos de uso inadequado do solo. “O despreparo dessas localidades é evidente. Apenas 42,5% das cidades brasileiras têm dados cadastrados no sistema de drenagem e manejo de água pluviais, o DMAPU, fornecido pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o SNIS”, detalha Pladevall.
Outro importante passo para os municípios é o equilíbrio entre áreas verdes e as regiões ocupadas. “A oferta de parques e áreas verdes ajuda na permeabilidade do solo, mas as administrações municipais podem ir além e incentivar a construção de moradias com áreas permeáveis com incentivos fiscais e a redução do IPTU, por exemplo”, avalia Pladevall.
O engenheiro destaca ainda a importância das Soluções Baseadas na Natureza (SBN, ou Nature-based Solutions – NBS, em inglês), que são iniciativas inspiradas, apoiadas ou até mesmo copiadas da natureza, que podem ajudar a enfrentar os desafios de forma eficaz e de baixo custo, alcançando benefícios ambientais, sociais e econômicos. “Os exemplos de uso dessas técnicas já são aplicados em diversas cidades pelo mundo com resultados muito animadores, inclusive reduzindo em até 36% os alagamentos”.
Para o engenheiro, não há uma solução única no enfrentamento das mudanças climáticas: “A engenharia consultiva pode oferecer soluções integradas, inclusive com tecnologias de menor impacto e sustentável. Investir em cidades mais resilientes é o único caminho para reduzir eventuais prejuízos futuros, precisamos diagnosticar os problemas, planejar e implementar as ações previstas nesses planejamentos”. – Fonte: (https://apecsbrasil.com.br).