Biometria adaptativa é novo modo de avaliar identidade
Pesquisa do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria, sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos, estuda a biometria em um contexto de fluxo de dados. No trabalho, o aluno de doutorado Paulo Henrique Pisani usa técnicas de computação para adaptar o cadastro biométrico a mudanças que o tempo provoca nas características biométricas.
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Agência USP de Notícias
Entre elas, por exemplo, estão o padrão de digitar, o jeito de caminhar e o tempo de intervalo entre uma tecla e outra na hora de inserir a senha bancária. A ideia é desenvolver algoritmos e modelos de avaliação para lidar com a adaptação a essas mudanças dos usuários. A biometria é considerada um dos métodos mais seguros de autenticação e vem sendo usada pela Justiça Eleitoral brasileira desde 2008 para evitar fraudes. No ano passado, 21 milhões de eleitores que compareceram às urnas foram autenticados pelas impressões digitais.
Uma assinatura ou uma senha pessoal são outras maneiras de reconhecer clientes de um banco, usuários de um computador, funcionários de uma empresa. Mas não com tanta precisão.
Pense numa senha que você usa há tempos. Tente determinar por quantas vezes você a digitou. Provavelmente a resposta será: inúmeras. Em se tratando de senhas, parte-se do princípio de que elas são apenas de conhecimento do dono. Na teoria, deveriam ser “secretas”, pra evitar que as informações do computador ou da sua conta bancária, por exemplo, não sejam compartilhadas.
Mas alguma vez você já prestou atenção na maneira como digita esses números? O tempo que leva entre um e outro dígito, se você troca de dedo pra apertar a tecla ou algo assim? Detalhes que passam despercebidos pra muitos de nós. Mas há quem trabalhe usando esse tipo de dado como base. Pra reforçar ainda mais a nossa segurança. Porque mesmo que outra pessoa saiba os números de uma senha sua, ela dificilmente será capaz de seguir os mesmos padrões que você ao tentar usá-la.
A pesquisa faz parte da área de Inteligência Computacional e Engenharia de Software. O interesse de Pisani pelo tema começou na graduação, quando trabalhava com a dinâmica da digitação. Mas a maioria das pesquisas na área não leva em conta essa mudança. “Mostro em artigos que há pessoas que mudam bastante ao longo do tempo — cada vez ficam mais distantes do modelo inicial — e se o modelo não é atualizado, o desempenho preditivo pode cair. Há outras pessoas que em um primeiro momento mudam bastante, mas depois ficam estáveis. E há outras que mudam e depois de algum tempo voltam ao comportamento que tinham no começo”.
O estudante começou a pós-graduação no ICMC em 2013 e desenvolve algoritmos e modelos de avaliação para lidar com a adaptação a essas mudanças dos usuários. “Sistemas para reconhecer o usuário pela dinâmica da digitação — que é o que mais temos trabalhado — já existem vários. Entretanto, são poucos aqueles que adaptam os modelos dos usuários ao longo do tempo”, conclui.
Os dados usados foram fornecidos por laboratórios de universidades de outros países, como França e Estados Unidos. “É fácil eu vir aqui, coletar 10 exemplos de digitação seus em um dia. Mas é mais complicado eu ficar por um ano coletando os seus dados de digitação. Há poucos conjuntos de dados disponíveis para este tipo de análise.”, explica. A previsão é de que o projeto esteja concluído em meados de 2016.
O trabalho é coordenado pelo pesquisador do CeMEAI, André Carlos Ponce De Leon Ferreira de Carvalho, que também comentou a importância do estudo. “O seu padrão de digitar e caminhar hoje é de um jeito e pode mudar porque você vai envelhecendo. Então a biometria registra o dado da pessoa agora e ‘guarda’. Quando a pessoa acessar um sistema, a máquina é programada para perceber se a pessoa é aquela que foi cadastrada ou não. Mas a ideia é dificultar ainda mais as ações de fraude, porque automaticamente você pode ajustar o modelo do usuário para acompanhar o envelhecimento da pessoa ou uma mudança de padrão de comportamento”, descreve Carvalho.
Ele também reforça o pioneirismo da pesquisa. “Existem poucos trabalhos assim. No Brasil eu acho que este é um dos primeiros, senão o primeiro trabalho de biometria adaptativa. Teve um professor da Universidade Federal de Sergipe que fez alguma coisa parecida, mas com outro propósito”, afirmou o professor. Além disso, o trabalho também conta com a colaboração da pesquisadora Ana Carolina Lorena, da Unifesp. Ana foi orientadora do aluno durante o mestrado na Universidade Federal do ABC.
O Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria, é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão financiados pela Fapesp. É adaptado e estruturado para promover o uso de ciências matemáticas (em particular matemática aplicada, estatística e ciência da computação) como um recurso industrial. As atividades do Centro são realizadas dentro de um ambiente interdisciplinar, enfatizando-se a transferência de tecnologia e a educação e difusão do conhecimento para as aplicações industriais e governamentais. As atividades são desenvolvidas nas áreas de Otimização Aplicada e Pesquisa Operacional, Mecânica de Fluidos Computacional, Modelagem de Risco, Inteligência Computacional e Engenharia de Software.
Exercício aeróbio reduz inflamação e sintomas de asma, segundo pesquisa
Estudo realizado no Hospital das Clínicas relaciona o exercício físico aeróbio à redução dos sintomas da asma. Utilizando-se de 58 pacientes com idades entre 30 e 50 anos e com asma moderada a grave, a pesquisa comprovou que o exercício aeróbio reduz a inflamação brônquica e gravidade dos sintomas, com melhora da qualidade de vida dos pacientes
Agência USP de Notícias
Pacientes asmáticos tem a hiperresponsividade brônquica (HB) como uma importante característica. Esta condição faz com que fatores gatilhos (ou alérgenos), os quais não ocasionam nenhuma reação em uma pessoa sem asma — tais como mudança de temperatura, poluição, ácaro, fumaça de cigarro, pelos de animais, mofo — causem irritação em asmáticos, ocasionando o fechamento de suas vias aéreas. A (HB) foi utilizada como comparação nos pacientes antes e depois dos exercícios físicos. Além disso, os níveis de proteínas inflamatórias — as citocinas — e de IgE, um anticorpo produzido pelo organismo de pessoas alérgicas, presentes nos paciente com asma também foram analisados.
Segundo o professor Celso Carvalho, coordenador do estudo, os participantes foram divididos em dois grupos. Enquanto um primeiro grupo realizou exercícios placebo respiratórios — os quais os pesquisadores já sabiam previamente não obter resultados positivos — um segundo realizou 35 minutos de exercícios aeróbios em esteira, duas vezes por semana, durante três meses, entre os anos de 2013 e 2014.
Os resultados surpreenderam. No grupo de exercício aeróbico, a hiperresponsividade reduziu em uma dupla dose, o que significa que os pacientes eram capazes de tolerar duas vezes os fatores gatilhos que desencadeiam sintomas. O grupo que realizou exercício placebo não apresentou benefício algum. Os níveis de proteínas inflamatórias (citocinas) presentes na asma e de IgE, um anticorpo produzido pelo organismo de pessoas alérgicas, também foram analisados.
Os níveis das citocinas inflamatórias também caíram significativamente no grupo de exercício aeróbio, diminuindo a inflamação, e o número de dias livres de sintomas da amas aumentou. Em decorrência dessas mudanças, a qualidade de vida dos pacientes melhorou significativamente em 70% do grupo que fez exercício aeróbio. Os efeitos foram mais acentuados em pessoas com níveis mais elevados de inflamação sistêmica.
O estudo foi realizado em parceria com as unidades de Fisioterapia, Pneumologia, Alergia e Clínica Geral do HC da FMUSP e com informações de Bete Subires, da Assessoria de Imprensa do Instituto Central do HC.