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Bacalhau do Batata levou trabalhadores e foliões para as ruas de Olinda

em Especial
quarta-feira, 01 de março de 2017
Fotos: Sumaia Villela/ABr

Bacalhau do Batata levou trabalhadores e foliões para as ruas de Olinda

Há 55 anos, o garçom Izaías Pereira da Silva, o Batata, inconformado com o fato de trabalhar no carnaval e não conseguir brincar na folia, criou o próprio bloco para reunir pessoas na mesma situação que a dele. Nascia o Bacalhau do Batata, que caiu no gosto dos foliões mais resistentes e foi o destaque da programação da quarta-feira de cinzas, ontem (1º), em Olinda

Fotos: Sumaia Villela/ABr

O Bacalhau do Batata foi o destaque da programação da quarta-feira de cinzas, ontem (1º), em Olinda.

Ao som do frevo e também de músicas do Reginaldo Rossi – que eternizou a profissão de garçom em uma de suas músicas mais famosas – o estandarte enfeitado com alimentos dançou junto a multidão. “De brincadeira até fundamos um bloco que são os carimbados, estas pessoas que vem todo ano com a mesma fantasia”, diz Ricardo Gusmão, de 53 anos. Desde 1987 ele comparece vestido de bruxo, de sobretudo preto, rosto pintado de branco, coturno nos pés e um crânio na mão. “O Batata era amigo do meu pai, então tenho um carinho especial pelo bloco”.

Outro personagem chega para fechar a programação do período: José Flaviano Fonseca, de 53 anos, o Tampa do Carnaval. De estandarte próprio e macacão repleto de tampinhas de todos os tamanhos, o auxiliar de serviços gerais sempre brinca com a mesma fantasia. Mas se depender dele, os festejos ficam abertos por muito tempo. “Eu só paro no domingo, no Camburão”, promete, se referindo a um bloco formado por policiais e bombeiros que sai pela primeira vez em Olinda este ano. Tradicionalmente o grupo brinca no Recife.

Os garçons também aproveitam o bloco, representantes da profissão do fundador Batata. José Philipe de Lima Neto seguiu a tradição de Izaías e trabalhou durante o carnaval, folgando na quarta-feira de cinzas. Foi vestido a caráter, levando caranguejos e cachaça na bandeja. “Se não fosse o Batata a gente não tinha isto”, elogia. Já Severino da Paz, 51 anos, folga no carnaval e brinca o período completo. Para todos os lugares, e principalmente para o bacalhau, leva um banner em homenagem a Reginaldo Rossi.

Dona Eurídice do Nascimento Santana, de 88 anos, avançava devagar entre o povo.Ele jura que, junto com um colega de trabalho, deu a ideia para o cantor fazer a música famosa. “Eu estava trabalhando no Mar Hotel no dia que ele fez show. A gente chamou ele e falou: Reginaldo, faz uma música para os garçons, somos trabalhadores da noite, você também. Aí ele fez”, afirma, cantando um trecho.

Batata faleceu em 1993. Há sete anos, quem está na presidência do bloco é sua sobrinha, Fátima Araújo. Professora, inicialmente não teria relação com a profissão do tio. Mas à frente do bloco, acaba virando uma trabalhadora do carnaval, na organização pré-bloco. Além disso, não deixa as aulas de lado durante os festejos de Momo. “Para mim é emocionante. Eu não era nem nascida ainda, mas consigo manter o bloco. Trabalhando e pulando, mantenho firme e forte como vocês vêem aí”, conta.

Outra representante dessa história caminhava com vagareza, mas experiência, pelas pedras do Alto da Sé. Com a ajuda de uma bengala, de alpercatas e vestida de mendiga do carnaval, dona Eurídice do Nascimento Santana, de 88 anos, avançava devagar entre o povo. Ela faz parte da história do bloco, e hoje acompanha a concentração do grupo. “Sou uma das fundadoras do Bacalhau do Batata. Este bloco foi criado lá em casa, depois fui pro Rio de Janeiro, mamãe foi pra lá e eles tomaram conta. Aí trabalhando mandava fantasia para eles”, lembra. “É a maior alegria que tenho. Nasci e me criei aqui”.

De estandarte próprio e macacão repleto de tampinhas de todos os tamanhos, o auxiliar de serviços gerais José Flaviano Fonseca.E ainda tem gente no carnaval que está trabalhando sem trégua. Taxistas, ambulantes e catadores aproveitam o período de grande demanda para aumentar a renda. Até outros profissionais se aventuram nestas funções para ganhar um dinheiro na folia, como o encanador Erivaldo da Silva Filho. “Tô aqui catando latinha, fazendo um extra, na tranquilidade”, diz.

Embora dedicado à função, Valdo, como é conhecido o morador de Olinda, fez questão de entrar no clima do carnaval. Usava um capacete de obras amarelo com um óculos feito de espuma. “Ainda estou trabalhando, é uma pena… mas é trabalho e brincadeira, tudo junto”, conclui, gargalhando. O Bacalhau do Batata dispersa por volta de 14h00 (ABr).

O esforço e dedicação de quem carrega os bonecos gigantes de Olinda

Todos os anos, no carnaval, Kleber da Silva, de 32 anos, deixa de equilibrar caixas e vai equilibrar o boneco que abre o Encontro dos Bonecos Gigantes de Olinda, realizado ontem (28). Durante o festejo, ele não se apresenta como estoquista, seu trabalho regular. Nas ladeiras carnavalescas da cidade histórica ele se veste com seu melhor uniforme e vira o “bonequeiro”, o homem por baixo do gigante.

Bonequeiro carrega o Palhaço Chocolate, o homenageado deste ano.Sem esses profissionais, o boneco fica sem vida, uma estátua sorridente como uma lembrança de outros carnavais. Ao colocar o gigante na cabeça, o personagem toma o espaço, ganha a altura de 3 a 4 metros, rodando seus braços livres e dançando com a multidão. O trabalho, segundo Kleber, exige talento e dedicação. “Dançar com o boneco tem que ter muito equilíbrio e força de vontade. Porque botar na cabeça não é todos, não. Tem que ser bom. Precisa de segurança e gostar mesmo do coração”, ensina.

O olindense, morador no bairro de Guadalupe, começou a lida de bonequeiro ainda criança. Há 25 anos que lida com esses personagens. Posteriormente, foi trabalhar com Sílvio Botelho, artista plástico que organiza o encontro e construiu muitos dos ícones dos bonecos gigantes, como o Menino da Tarde. Ele faz dupla com o leiturista José Nelson de Assis dos Santos, de 28 anos.

“Ambos levam o boneco homenageado do encontro, a cada ano. Nesta edição é o Palhaço Chocolate. No desfile do último domingo, o leiturista apoiou o colega como guia, por causa do campo de visão limitado. “Quando estou do lado de fora, fico pegando água, dando resistência, guiando, abanando por causa do calor”, segundo Nelson.

E haja resistência. Em duas a três horas de trajeto, os 15 quilos do início do trajeto se transformam em 30/50 quilos, segundo a dupla. Apesar disso, os bonequeiros consideram uma honra realizar a proeza. “Não tem como explicar o que eu sinto”, diz Kleber. O trabalho é sério, mas não precisa ser chato. É o que ensina o estoquista bonequeiro abre alas do Encontro dos Bonecos Gigantes de Olinda: “Eu levo na diversão”, ri, antes de sair dançando ladeira abaixo (ABr).