Celson Hupfer (*)
Cada vez mais a ideia de competitividade dentro das empresas tem ficado para trás. As organizações do mundo todo já notaram a importância de humanizar os processos, assim como ajustar a comunicação e as relações interpessoais, tanto com clientes como com os próprios colaboradores. Historicamente, a sociedade tem se desenvolvido baseada em relações de abuso de poder, tanto o financeiro como o intelectual e o biológico.
Entretanto, finalmente, começamos a discutir a empatia, ou seja, a atitude de colocar-se no lugar do outro. Não há época mais propícia para colocarmos esta atitude em prática. Estamos atravessando um dos momentos mais frágeis do século. A crise, impulsionada pelo novo coronavírus, não escolheu gênero, classe ou região, ela veio e reconfigurou toda nossa vida, a rotina, a forma de trabalho e de nos relacionarmos. A saúde e a tecnologia ganharam a linha de frente do protagonismo positivo e atitudes voltadas ao outro passaram a ganhar mais espaço, inclusive, nas empresas.
O local de trabalho, mesmo que ainda tenha um potencial violento no ponto de vista psicológico, teve que quebrar as barreiras e dar espaço a empatia. Em um momento onde as pessoas têm acessado emoções até então nunca experimentadas, como medo, ansiedade, insônia, incertezas e vulnerabilidade, estar disposto ao outro virou sinônimo não só de gentileza, mas também de sobrevivência e bem estar no meio corporativo.
O que nos torna humano é justamente a capacidade de sentir, de gerar conexões e de nos importarmos com o outro. Por isso, agir com empatia aumenta nossos vínculos sociais e melhora nossa capacidade de regular emoções durante um período de estresse e ansiedade. Por outro lado, mesmo que de uma forma inconsciente, uma liderança empática significa segurança e confiança para colaboradores, além de ser uma atitude positiva para a inteligência emocional. A longo prazo, isso ainda pode significar a retenção de talentos dentro da empresa e a consolidação da cultura interna que é tão difícil de se criar.
Ser um líder e ter uma equipe que ouve, observa, busca manter o autocontrole e o equilíbrio é a chave para a sustentabilidade empresarial, quando a empatia entra em uma organização, ela abre espaço para uma série de valores e ainda, tem a capacidade de elevar resultados, assim como o engajamento e confiança para tomada de decisões. Os laços também ficam mais ricos e firmes o que é ótimo para o trabalho em equipe.
Por isso eu digo: a empatia tem um papel fundamental para o bem estar das empresas. Mesmo que sozinha ela não resolva todos os problemas e barreiras do universo corporativo, andar com sapatos alheios e colocar-se no lugar do outro, buscar diálogo, se colocar em um local de escuta vai contra a maré da violência, daquilo que nos ameaça psicologicamente e reforça aquilo que mais sentimos falta: a nossa humanidade, inclusive e principalmente, dentro do ambiente de trabalho.
(*) – Doutor em Psicologia Social pela USP e membro do conselho do mestrado profissional da Fundação Dom Cabral, é fundador e CEO da Connekt, plataforma inteligente de recrutamento digital.