Países ricos e pobres devem redesenhar suas trajetórias de progresso e diminuir a pressão humana sobre o planeta, sinaliza relatório lançado ontem (15) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O documento inclui um novo índice experimental sobre o progresso humano. Ele reúne informações sobre as emissões de dióxido de carbono e a pegada material dos países (medida de extração de matéria-prima no mundo para atender à demanda nacional).
“O poder que nós, humanos, exercemos sobre o planeta não tem precedentes. Diante da covid-19, de temperaturas que quebram recordes históricos e de uma desigualdade que vem se reproduzindo, é chegado o momento de usar esse poder para redefinir o que entendemos como progresso, para que nossas pegadas de carbono e consumo não permaneçam ocultas”, disse Achim Steiner, chefe mundial do PNUD. O relatório considera que as pessoas e o planeta estão entrando em uma era geológica inteiramente nova, o Antropoceno ou era dos humanos.
O documento apresenta uma variante experimental do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O novo índice mostra a transformação que pode ocorrer no campo do desenvolvimento se o bem-estar das pessoas e a integridade do planeta forem considerados conjuntamente para definição do progresso humano. O levantamento se refere ao ano de 2019 e, portanto, ainda não avalia os impactos da pandemi . Entretanto, já projeta uma quebra na curva ascendente dos países nas dimensões humanas para o próximo relatório, o que pode indicar que a atual pandemia é resultado do desequilíbrio ambiental.
Atualmente, o Brasil está na 84ª posição no ranking, com IDH em 0,765, entre 189 nações e se encontra no grupo dos considerados com alto desenvolvimento humano. Entretanto, o Brasil caiu cinco posições em relação ao índice medido em 2019. Se houver ajustes ao considerar as pressões ao planeta (IDHP), o Brasil fica na 74ª posição. No caso da Noruega, que lidera a lista com IDH em 0,957, ao fazer o ajuste para o IDHP, o país perde 15 posições.
O relatório indica, ainda, que essas desigualdades poderiam ser enfrentadas com ações do setor público e oferece exemplos que vão desde a aplicação de regimes fiscais mais progressivos à proteção das comunidades costeiras por meio de investimentos preventivos e mecanismos de seguro, medidas que poderiam proteger até 840 milhões de pessoas nas regiões costeiras do mundo. Para o Pnud, no entanto, esforços devem ser feitos de forma articulada para que as medidas adotadas não contribuam ainda mais para o confronto das pessoas com o planeta (ABr).