Eduardo Tardelli (*)
Nos últimos dias, fomos impactados por notícias sobre o que promete ser o escândalo de espionagem da década
O caso Pegasus aponta que 50 mil pessoas foram possíveis alvos de espionagem pelos clientes de uma empresa israelense desde 2016, de acordo com informações obtidas pela Anistia Internacional e pela Forbidden Stories.
Compartilhada com um consórcio de 17 veículos de imprensa, a história chamou atenção por se tratar de um spyware capaz se infiltrar em smartphones extraindo dados pessoais e controlando secretamente microfones e câmeras do aparelho – tudo isso a partir do clique zero, ou seja, basicamente não há como o usuário impedir que o spyware invada o celular.
E ninguém está seguro de ter seus dados roubados: de acordo com o jornal Le Monde, o presidente francês Emmanuel Macron foi um dos um dos alvos do Pegasus, assim como o rei do Marrocos, o primeiro-ministro do Paquistão e mais 180 jornalistas do mundo todo.
Talvez nunca saibamos quem realmente foi espionado pelo Pegasus, afinal a empresa israelense afirmou não divulgar o nome dos seus clientes, mas é de conhecimento de todos que há o apoio do governo de Israel, já que a empresa alega vender sua tecnologia apenas para governos aprovados por Israel e com a intenção de acabar com o terrorismo e outros tipos de redes criminosas.
A situação só deixa em evidência o quanto a proteção de dados e o direito à privacidade desses dados é algo frágil ao redor do globo. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) está em vigor desde 2020, no entanto, a partir de 1º de agosto, empresas privadas e órgãos públicos que não garantirem a proteção dos dados que possuem, são punidas.
Segundo a PSafe, empresa de cyber segurança, 4,6 bilhões de dados foram vazados apenas em 2021, e a estimativa é que até o final do ano o número ultrapasse os 10 bilhões. As consequências do vazamento de dados e o uso indevido destes são completamente imprevisíveis.
Empresas de big data enfrentam um grande desafio para garantir segurança de dados e estarem em sinergia com a LGPD, o caminho é sempre garantir que o uso dos dados será inofensivo e seguro. O futuro do uso de dados ainda é incerto, o que permite insegurança de consumidores, com toda razão.
Há um grande paradoxo que envolve o assunto: o fornecimento de dados personaliza toda nossa experiência de compra, consumo de entretenimento e facilita nossa interação com conteúdos compatíveis com a nossa realidade. Mas essa facilidade não vem de graça.
Tudo isso é feito para que fiquemos cada vez mais conectados e, com o nosso consentimento, todos esses dados fornecidos têm um caminho ainda incerto, sem a garantia de que serão usados com ética ou até mesmo se haverá punição caso sejamos violados.
(*) – É CEO da upLexis, empresa de software que desenvolve soluções de busca e estruturação de informações extraídas de Big Data da internet e outras bases de conhecimento.