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Estado tem que ser o necessário para induzir desenvolvimento, diz Lula

em Economia
quinta-feira, 06 de julho de 2023

O governo federal prevê investir, em quatro anos, R$ 106,16 bilhões para impulsionar a nova política industrial do Brasil. O anúncio foi feito durante a 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), no Palácio do Planalto, em ato do qual participou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O principal financiador da política será o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com R$ 65,1 bilhões em recursos. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), as duas últimas vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), farão os demais aportes.

O presidente Lula destacou que o governo vai colocar recursos no BNDES e criar as condições para os investimentos em inovação. “Acabou aquela bobagem de que o Estado tem que ser forte ou tem que ser fraco. O Estado tem que ser o Estado necessário para poder dirigir e induzir o crescimento econômico do país”, disse. “Vamos parar com essa questão de dizer quem é melhor e quem é pior, o Brasil precisa dos dois, precisa do Estado e precisa do setor privado. E precisa formar profissionais mais qualificados se a quiser verdadeiramente voltar a ser um país industrializado”, acrescentou.

Lula reafirmou que a economia vai crescer quando o dinheiro circular na mão da população e que os investimentos em educação não podem ser considerados gastos.

“Pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, significa menos pobreza, mais poder de consumo, significa melhorar a vida da sociedade, que é o que nós precisamos fazer. Com as medidas que já tomamos aqui, o dinheiro está circulando. Se o dinheiro chega lá embaixo, ele não vai ser aplicado na bolsa, não vai comprar dólar; ele vai voltar para o comércio. Quando volta para o comércio, ganha o comércio, ganha a indústria, ganha o emprego, ganha todo mundo, não precisa ser doutor honoris causa para saber disso”, afirmou.

Para o presidente, o Brasil tem uma janela de oportunidades e potencialidades para atrair novos investimentos. Ele citou a transição energética, a indústria de gás e os modais de transporte.

“O Brasil tem a chance que jamais teve. O fato de o Brasil ter ficado exilado do mundo durante os últimos seis anos deu ao mundo uma sede, uma necessidade do Brasil. E nós precisamos tirar proveito que o Brasil não tem contencioso com ninguém, o Brasil gosta de todo mundo e todo mundo gosta do Brasil”, ressaltou Lula, argumentando que esta é uma das razões para que o país mantenha a neutralidade em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.

Desindustrialização
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin destacou que o país enfrenta um processo de desindustrialização precoce. Alckmin apresentou dados que mostram que, na década de 1970, a indústria de manufatura representava mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB – soma dos bens e serviços produzidos no país) brasileiro e hoje caiu para cerca de 10%.

“É o tamanho do desafio que temos pela frente”, disse Alckmin, ao abrir a reunião.

O CNDI é vinculado à Presidência da República e presidido pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Criado em 2004, o colegiado fez a última reunião em 2015. Ele é composto por 20 ministros de Estado e pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje Aloízio Mercadante, e 21 conselheiros representantes da sociedade civil.

Segundo a Presidência da República, o conselho volta com a missão de construir uma nova política industrial para o Brasil, “de caráter inovador, sustentável e inclusivo socialmente”.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, destacou que, nos últimos anos, os principais países e os mais industrializados, como Estados Unidos, China, Alemanha e França, decidiram investir maciçamente no desenvolvimento industrial dos seus países já industrializados.

“[Eles] perceberam que, para enfrentar esse novo momento que a gente vive no mundo, de inflação, de, principalmente, desemprego, da necessidade de geração de emprego de qualidade, de conhecimento e de tecnologia, só a indústria realmente é que seria capaz de prover tais necessidades para esses países”, disse, citando marcos da indústria brasileira e a importância dos novos investimentos no setor.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sergio Nobre, afirmou que a classe trabalhadora sempre lutou por uma política industrial, mas lembrou que a indústria instalada precisa ter a mesma atenção.

“Tem regiões importantes, regiões tradicionais, e é essa indústria que mata um leão por dia, luta contra toda tipo de adversidade, para continuar sobrevivendo e mantém regiões importantes do país”, ressaltou Nobre. “É uma indústria que ainda não chegou na neoindústria, está lutando para sair da segunda Revolução Industrial e ir para terceira”, enfatizou (ABr).