Os primeiros dois meses de 2020 têm se mostrado um período turbulento e imprevisível para o mercado internacional do trigo. A conjuntura regional afetou e afetará ainda mais os preços do trigo no Brasil, o que poderá ser rapidamente percebido pela sociedade.
Apesar do agronegócio ser uma força da economia nacional, o Brasil é dependente de trigo importado, numa demanda de 7 milhões de toneladas ao ano, o que representa 60% de suas necessidades de consumo.
A variação cambial teve um aumento de 9,5% nos primeiros 60 dias do ano, num patamar inimaginável em dezembro de 2019, forçando os moinhos brasileiros a rever a política de preço, com a necessidade de repasse dos custos adicionais. Além disso, a maior fonte de importação de trigo do Brasil, a Argentina, acelerou suas exportações da safra do grão colhida no final de 2019, movida pela abertura de novos mercados na Ásia e quebras de safra na Austrália e Rússia.
Desta forma, de uma safra recorde de 19 milhões de toneladas, a Argentina já comercializou 14,3 milhões de toneladas, tendo 12 milhões já registradas para exportação. Estes números indicam que o trigo remanescente no país será insuficiente para as suas necessidades de consumo doméstico. No último dia 26, a Argentina suspendeu as exportações de trigo. Como consequência, o preço do cereal argentino disparou, passando de US$ 190 para US$ 240 a tonelada em apenas 60 dias.
Seguindo a tendência, o trigo brasileiro também registrou aumento de preço numa escalada semelhante. Com estoques de cerca de três meses, os moinhos brasileiros vislumbram um cenário sombrio a partir de maio de 2020, pela necessidade de buscar abastecimento em outras fontes, como Estados Unidos e Rússia. Nisso reside o terceiro fator de aumento dos custos alavancados pelos valores dos fretes e pelos 10% da Tarifa Externa Comum – TEC (AI/Abitrigo).