Marcelo Ricotta (*)
O movimento do novo ciclo das commodities está em andamento e parece irreversível, diante da retomada das atividades em alguns países, que deve impulsionar a demanda. A plena recuperação da China e o recente pacote econômico dos EUA, deverão ser os fatores cruciais que impulsionarão esse novo ciclo, e, com isso, muitos projetos engavetados há anos, especialmente no setor de mineração, começam a ser viabilizados e postos em prática no Brasil, na América Latina e em outros continentes.
Apesar desta excelente perspectiva no curto prazo no cenário global para o mercado e para empresas que trabalham para clientes do setor de commodities, a luz amarela está acesa. A atual crise econômica brasileira provocada pela pandemia inflacionou insumos básicos, e os projetos em fase de execução no Brasil estão sofrendo para se manterem de pé, além do impacto sobre os planos de investimento em novos projetos, que podem se tornar inviáveis em função dos custos.
Em pouco mais de um ano, o descontrole da pandemia causou sérios abalos nos preços dos insumos, dificultando a organização comercial das empresas do setor e provocando constantes reajustes em custos que já haviam sido planejados antes da execução dos projetos. Uma em cada quatro empresas da indústria de transformação apontou que, em abril deste ano, a escassez de matérias-primas é o principal fator que limita a expansão de seus negócios, segundo pesquisa do Ibre/FGV.
A desvalorização do real frente ao dólar inviabilizou compras de insumos no exterior e deixou mais rentável a exportação dos insumos nacionais, graças ao apetite voraz da China, que registrou incríveis 18,3% de crescimento, criando o cenário de escassez de oferta no mercado brasileiro, a partir de outubro de 2020, com rápido agravamento da situação nesses primeiros meses de 2021, e impacto sobre os projetos já em andamento, e cujos custos foram previamente fixados.
O aço é um dos itens que lidera essa pressão de custos. O seu preço médio começou a disparar no mercado brasileiro. Da cotação média de R$ 4,15 por quilo em julho/agosto, foi para R$ 6,40 em janeiro, alcançando R$ 7,81 por quilo em alguns estados, como o Pará. Já o alumínio registra aumento consecutivo nos últimos 12 meses. Em maio de 2020, a tonelada valia US$ 1.440. No final de abril de 2021 já estava em U$ 2.445 a tonelada, aumento de 69,79% em um ano. O preço do minério de ferro, por sua vez, disparou a partir de abril de 2020, chegando a custar US$ 150,84 em dezembro do ano passado.
Com o aumento dos preços destas e de outras matérias-primas, as siderúrgicas nacionais começaram a reajustar suas tabelas, atingindo em cheio a indústria, os mercados de distribuição varejista e o setor de construção. Este aumento dos insumos, não previsto antes da pandemia, está provocando no mercado revisões completas dos planos de negócios por parte de algumas empresas, cujo fluxo de caixa acaba por sentir maior abalo frente a necessidade de se arcar com custos maiores do que os projetados, e em face da necessidade de se completar um projeto em andamento, com prazos já estipulados.
Da mesma forma, planos para realização de novos projetos passam a requerer revisão, podendo comprometer a sua viabilidade. Nesse contexto, as empresas têm um importante papel para viabilizar grandes projetos em andamento no país. Ao apresentar uma oferta aos clientes, elas devem realizar cotações minuciosas junto aos fornecedores, buscando sempre o melhor custo-benefício, para mitigar o aumento junto aos clientes. É fundamental estimular parcerias com fabricantes e fornecedores, com o objetivo de equilibrar os custos.
Portanto, o momento atual, a esperança é que a pandemia possa vir a ser controlada o mais rápido possível e que o mercado volte à consciência de que é necessário puxar o freio nos custos para que o novo ciclo das commodities possa ser aproveitado por todos e contribua, efetivamente, para a realização de novos investimentos e a geração de emprego.
(*) – É diretor comercial da SKIC Brasil.