Silvia Queiroz (*)
Parece que virou moda falarmos sobre alta performance profissional. Quantos filmes, séries e livros são lançados todos os anos, no mundo inteiro, sobre o assunto? Inúmeros! Afinal, num mundo competitivo e globalizado, faz todo o sentido ter diferenciais, incluindo os resultados obtidos. Ter uma boa performance profissional, de fato, é algo importante.
Na verdade, eu acredito que a boa performance é essencial para a vida como um todo, porque uma vida organizada e na qual tudo funciona, é uma vida feliz. Mas, há algo que precisamos pensar quando falamos em produtividade: entender que a alta performance é o resultado de uma vida integralmente bem vivida e saudável e não apenas fruto de se estabelecer e alcançar metas.
Desassociar a alta produtividade de uma vida equilibrada é um erro grave. Vejo muitas pessoas dando total atenção às suas carreiras, suas produções e seus objetivos de crescimento profissional. Pessoas com metas ousadas, que geralmente envolvem muitas cobranças pela tal alta performance. Mas, eu não vejo essas mesmas pessoas dando valor algum à saúde, à família, aos momentos de lazer, à espiritualidade e, principalmente, às emoções.
Muitos nem mesmo parecem acreditar no quanto emoções equilibradas podem favorecer o bom desempenho em qualquer área da vida. Se você é uma daquelas que não acredita que as emoções ditam o compasso de nossa produtividade, tente lembrar dos inúmeros exemplos de vestibulandos que não passaram nos concursos porque, de tão nervosos, tiveram “um branco” na mente. São inúmeros os relatos de pessoas que conseguiram identificar o poder negativo da ansiedade, do medo e dos pensamentos desgovernados em exames como o vestibular e demais concursos.
As emoções influem na nossa capacidade produtiva sim podendo, por vezes, nos incapacitar. Tanto é assim que um dos fatores que profissionais da saúde consideram para diagnosticar transtornos de ansiedade, depressão e Burnout é justamente o quanto os sintomas apresentados tornam a pessoa disfuncional, ou seja, incapaz (ou capaz, mas com muita dificuldade) de exercer suas atividades corriqueiras, sejam estas de trabalho ou não.
Num momento histórico no qual o nosso país é considerado o mais ansioso do mundo, não há como negar a necessidade de se repensar algumas coisas. Precisamos quebrar tabus e paradigmas! Precisamos encarar a realidade de que a vida psíquica é parte de nossa existência. Temos um corpo que abriga uma mente e ponto. Isso é real! Há uma vida psíquica acontecendo em cada um de nós a todo instante. Então, é necessário valorizar essa mente e cuidar dela assim como cuidamos (ou pelo menos devemos!) de nosso corpo.
Somos uma espécie de “máquina”, um mecanismo engenhoso e perfeitamente arquitetado para funcionar em harmonia. Eu sei que é difícil pensar nas emoções, sentimentos, na nossa mente de modo geral. Porque nós não “vemos” o que sentimos. Apenas sentimos. Se eu perguntar para você como é um computador, é muito provável que, num primeiro momento, você tente descrever a aparência física dele, de seu hardware.
Mas, o computador não é apenas um conjunto formado por monitor, teclado e afins. A parte mais importante dele é seu software, onde tudo se processa. É aí que a mágica acontece. Essa é a alma de um computador, sua “psique”, por assim dizer. Pois bem, se um computador tem uma “psique” posso afirmar que nós, humanos, também temos um “HD interno” e este, assim como o melhor aparelho eletrônico do mundo, tem limites sim, e sem o devido cuidado pode ficar sobrecarregado e mesmo pifar.
Assim como um computador, nossa performance cai se não nos atentarmos para a sobrecarga em nosso sistema. O problema é que muitos não acreditam nisso e tentam esticar essa “capacidade de processamento” que temos, confundindo isso com desenvolvimento e aprimoramento pessoal. Não é triste pensarmos que conseguimos entender que um computador pode ficar mais lento com o passar do tempo, mas forçarmos nosso organismo a suportar tudo e o tempo todo?
É exatamente essa falta de cuidado com a mente que tem levado pessoas ao adoecimento. Se queremos que nossa “maquininha” funcione bem, precisamos cuidar dela tanto quanto cuidamos de nossos dispositivos eletrônicos. Precisamos ser pacientes e generosos conosco, entendendo e aceitando os nossos limites. Não apenas para manter uma vida harmônica e saudável, mas para ter alta produtividade em tudo que quisermos e fizermos.
Se cuidem e contem comigo sempre!
(*) – É Psicóloga Clínica, especialista em Gestão Estratégica de Pessoas, Mestre em Teologia, coach e analista DISC pela SLAC, escritora, palestrante e Membro Toastmasters Internacional (www.silviaqueiroz.com.br).