Beto Assad (*)
Os setores de turismo e de companhias aéreas foram duramente afetados pela pandemia. Um estudo feito pela World Travel and Tourism Council (WTTC) estima que 53% dos empregos gerados no setor tenham sido afetados a nível mundial. E diferente de outras áreas que possuem maior facilidade para a retomada do crescimento, este setor enfrenta grandes desafios para voltar aos níveis pré-pandêmicos.
Entre eles se destacam a aceleração da vacinação, retomada do nível de renda e emprego, implementação de protocolos nacionais e internacionais de mobilidade para viajar com segurança, além de amplo auxílio governamental.
Estima-se que o turismo volte a níveis iguais aos da pandemia apenas no início de 2023.
No entanto, para quem acompanha o mercado financeiro e deseja investir na retomada do setor, deve se atentar que o mercado costuma antecipar os fatos na busca de melhores rentabilidades. Assim, já é possível observar muitas empresas ligadas à área de turismo mostrando algum tipo de reação. Com isso em vista, vamos olhar o que esperar das três empresas mais famosas do setor para o segundo semestre:
• CVC – No início de fevereiro, antes da explosão da pandemia no Brasil, a CVC divulgou que havia encontrado indícios de erros contábeis nos repasses aos operadores turísticos entre os anos de 2015 e 2019, causando um impacto de mais de R$ 360 milhões aos cofres da empresa. Com a chegada da pandemia e o fechamento de fronteiras e economias inteiras, as ações da empresa se desvalorizaram de forma acelerada, passando de R$ 32,2, em fevereiro de 2020, para R$ 4,38 no auge da crise em março.
Isso representou, naquele momento, uma queda anual de 88%. Desde então, as ações da empresa vêm mostrando uma lenta recuperação, contabilizando uma alta anual de 40% no fechamento de junho. Para o segundo semestre, a empresa tem tudo para continuar com a sua recuperação. A CVC aprovou um aumento mínimo de capital na casa de R$ 384 milhões no fim de junho para ajudar a melhorar a situação de suas contas.
Seus números no primeiro trimestre do ano, apesar de ainda mostrarem um prejuízo de R$ 81 milhões, indicam uma queda de quase 93% no prejuízo em relação ao mesmo trimestre de 2020. Com isso em mente, é consenso entre as equipes de research que as ações da empresa possuem potencial de valorização para o segundo semestre. Na opinião da equipe do BTG Pactual digital, por exemplo, o preço-alvo para o fim do ano é de R$ 33,00. Já para o JP Morgan, o preço-alvo é de R$ 29,00.
• Azul – O ano de 2020 foi considerado o pior da história da aviação comercial depois da Segunda Guerra Mundial, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Os dados apontam uma queda de 65,9% do tráfego global de passageiros em comparação com 2019. No Brasil, as duas principais empresas não escaparam do problema. Após marcar sua máxima histórica no início de 2020 aos R$ 62,87, os papéis da Azul despencaram entre fevereiro e março, chegando a bater o valor mínimo de R$ 8,74. Comparando estes extremos, a queda foi de aproximadamente 86%.
Desde então, as ações da Azul vêm mostrando boa recuperação, mas ainda afastadas da máxima histórica. Os papéis fecharam em junho valendo R$ 43,89, com valorização no ano de aproximadamente 11%, mas ainda 30% abaixo do seu topo em 2020. Em relação aos números, o prejuízo da empresa foi de R$ 2,6 bilhões no primeiro trimestre, contra um prejuízo de R$ 6,3 bilhões no mesmo período de 2020.
Apesar de extremamente negativos, os números já mostram uma queda no tamanho do prejuízo. E com esse aumento da demanda previsto, a empresa possui boas possibilidades de voltar a apresentar números mais positivos.
Para a equipe do BTG Pactual digital, o primeiro preço-alvo das ações da aérea é de R$ 47,00 e um segundo alvo mais longo de R$ 50,34 até o fim de 2021.
• GOL – Após marcar sua máxima de 2020 ainda em janeiro, na faixa de R$ 39,26 por ação, a Gol entrou em queda livre entre fevereiro e março, chegando a bater a mínima no valor de R$ 4,81. Se o mês de junho foi levemente positivo para a Azul, com alta de 2,07%, o mesmo não se pode dizer para a Gol, que amargou a pior queda entre as ações que fazem parte do Índice Bovespa, com desvalorização de 14,36% no mês.
No ano, as ações da Gol também têm pior desempenho do que a Azul, com uma queda de 8,42% no semestre contra uma alta de 11,68% da concorrente.
No âmbito das aquisições, a Gol comprou a empresa aérea MAP, a quinta maior do país. Também incorporou o programa de milhagem Smiles, numa negociação que se estendeu por alguns meses. No primeiro trimestre a Gol, que continua sendo a maior companhia aérea do Brasil, teve um prejuízo de R$ 2,5 bilhões, resultado pior do que os R$ 2,3 bilhões de prejuízo no mesmo período de 2020.
Mesmo com panorama favorável ao setor, a empresa vem dividindo opiniões quanto ao seu potencial de valorização no segundo semestre. Enquanto a equipe do BTG Pactual digital manteve seu preço-alvo em R$31,00 até o fim do ano, o Goldman Sachs cravou o preço em R$ 28,60 (preço inferior à máxima do ativo em junho) e o Banco Safra colocou o valor esperado pelas ações até o fim do ano sob revisão.
(*) – É analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar (www.kinvo.com.br).