Ravi Gama (*)
Em uma sociedade movida por tecnologias, o acesso à rede 5G vem sendo cada vez mais comentado. As redes utilizadas pela maior parte do mundo atualmente são o 3G e o 4G. Com o objetivo de expandir as potencialidades, o 5G é a quinta geração das redes móveis e, há um tempo, vem sendo desenvolvida para elevar a banda larga móvel a um alto padrão de velocidade. Considerando o aumento constante de conexão entre dispositivos sem fios, o 5G passa a ser uma importante novidade para a nossa sociedade atual.
A nova rede está em ascensão e já foi, inclusive, adotada por alguns países. De acordo com a associação mundial das operadoras de redes móveis, a GSMA Association, países como Estados Unidos, Austrália, China, Finlândia, Reino Unido, Coreia do Sul e Áustria já contam com a tecnologia. E as expectativas para os próximos anos são altas. A estimativa é que, até 2025, haja 1,2 bilhão de conexões 5G no mundo inteiro.
Seria o Brasil um desses países a aderir à rede nos próximos anos? Bom, o que sabemos é que, atualmente, o governo brasileiro se encontra em um complexo dilema, motivado por uma divergência entre duas grandes potências mundiais. Por um lado, temos a China, com a empresa Huawei, responsável pela implantação do 5G. Por outro, temos os Estados Unidos, que, recentemente, baniram a empresa chinesa de negociar com as companhias do país. O governo norte-americano alega que a tecnologia da empresa representa uma ameaça à segurança nacional das nações que virem adotá-la. E, por fim, a AT&T é quem se tornou responsável pelo lançamento do 5G nos EUA.
O problema é que, agora, o governo norte-americano tem pressionado outros países a proibirem a atuação da Huawei. Em julho, os EUA chegaram a impor sanções contra funcionários da empresa chinesa. Vários países, como o Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Índia e Japão, já cederam à pressão e barraram os contratos com a Huawei. No entanto, diante dessa guerra comercial e política, o Brasil segue sem uma decisão final.
Para pressionar o governo brasileiro, recentemente, as lideranças americanas anunciaram que, caso o Brasil negocie com o “5G chinês”, as empresas americanas poderão deixar o país. Um dos assuntos mais comentados dentro da política brasileira, inclusive, é que essa disputa essa sendo mais geopolítica do que técnica em sua essência. Essa definitivamente tem sido a realidade do 5G. A briga entre as duas maiores potências mundiais têm afetado não só a relação entre elas, como a relação delas com todos os demais países.
Diante de tudo isso, o Brasil segue sem um posicionamento sobre o assunto. Aparentemente, o Presidente da República ainda não decidiu se irá negociar com a Huawei ou a AT&T, fato que qualquer decisão coloca em risco os acordos com uma das maiores economias mundiais. Desagradar a China ou os Estados Unidos? Qualquer decisão acarretará inúmeras consequências para o governo brasileiro no âmbito político e econômico. É por isso que a verdadeira ‘Guerra Fria’ que se formou, impõe barreiras para a chegada do 5G ao Brasil assim como em outros países do mundo. Como se já não bastasse o impasse comercial, temos outro relevante entrave para a disseminação do 5G no mundo.
Uma das principais características da nova rede é a possibilidade de promover uma “economia digital avançada e intensiva em dados”, além de ser uma peça-chave essencial para a implantação das “Cidades Inteligentes” e a “Internet das coisas”. Isso porque a rede não vai permitir somente a conexão entre usuários, mas também entre todos os objetos (automóveis, maquinários, lavadoras, câmeras de vigilância, etc), possibilitando assim um intenso desenvolvimento de serviços, como, por exemplo, um sistema de segurança que evitem acidentes ou até mesmo a realização de cirurgias remotas utilizando-se robôs.
A partir daí, surge então a questão ética que envolve o 5G. Uma vez que temos um veículo autônomo, como ele reagiria a algumas situações que só o ser humano consegue resolver? É indiscutível que ainda não existe uma tecnologia que substitua o cérebro humano. Nenhum objeto é capaz de pensar racionalmente, de reagir a reflexos, entre outras ações que só nós conseguimos fazer. Então, como se daria a aplicação do 5G na prática?
Como exemplo, supomos que um carro autônomo estivesse transitando por uma pista quando, de repente, uma criança desatenta começa a atravessar a rua. Qual seria a reação do veículo? Desviar e correr o risco de bater em outro carro que vem na pista contrária? Atropelar o pequeno pedestre? São muitas perguntas sem respostas para um problema que permanece sem solução.
Uma “Cidade Inteligente”, mais do que tudo, precisa ser organizada com ética. Caso o contrário, de nada vale. E, nesse cenário do 5G, não sabemos como os conceitos éticos poderão ser inseridos. Não há uma diretriz que dita como os objetos devem ou não agir diante de diferentes situações. E nem existem ideias de como poderíamos resolver esse problema. O que sabemos é que a discussão sobre a ética da nova tecnologia é extensa e merece atenção, pois deve ser levada em consideração antes da implantação do 5G.
Outro empecilho para a instalação da nova rede no Brasil é a falta de infraestrutura do país. Atualmente, não temos infraestrutura suficiente para receber uma rede que se baseia em uma imensa velocidade de dados. Antes de mais nada, as prestadoras precisam ir atrás de recursos para conseguirem ofertar o melhor serviço possível aos consumidores. Dessa forma, os provedores serão obrigados a investir em equipamentos mais eficientes e inovadores, que consigam suportar as velocidades necessárias.
É justamente por isso que a Anatel terá um papel fundamental nos próximos meses de acelerar as condições do desenvolvimento dessa infraestrutura no Brasil. E, sabendo disso, uma coisa é certa. As empresas de telecomunicação que não conseguirem se preparar para atender as demandas que o 5G exigirá tendem a desaparecer do mercado. O investimento para a implantação da tecnologia é muito alto e nem todos terão suporte e recursos para suprir essas necessidades. Por isso, torna-se muito importante a participação ativa de todas as empresas do setor nessa fase de discussão e de adaptação.
É fundamental que todos os provedores estejam alinhados para encontrarem a melhor forma de receber essa mais nova tecnologia no Brasil. Além desses desafios para a chegada do 5G, existem ainda outros riscos que precisam ser avaliados: as graves consequências que podem refletir diretamente na saúde do nosso planeta. O ponto inicial dessa discussão é de que as tecnologias do 5G formarão um campo eletromagnético de grande potência, que, por sua vez, afetará a vida de todos os seres vivos.
Essa radiação poderá atingir, por exemplo, desde as fracas ondas eletromagnéticas dos voos dos insetos até a saúde dos seres humanos.
Cerca de mais de 10 mil pesquisas apontam que algumas doenças cardíacas e outras enfermidades, como o câncer, estão fortemente associadas à contaminação eletromagnética. Por isso, a extensa exposição de organismos vivos à níveis de radiação de radiofrequências, bem maiores que às atuais do 4G, poderá provocar graves consequências.
Sabendo disso, cientistas afirmam que a vida de todos os seres vivos, incluindo a nossa, corre perigo. Mas, aparentemente, esses riscos têm sido ignorados pelas grandes potências econômicas. O que acontece é que, até então, os interesses privados, geradores da tecnologia 5G, vêm prevalecendo sobre os interesses coletivos. Se, por um lado, a rede 5G carrega consigo inúmeros riscos e entraves, por outro, a tecnologia também promete oferecer interessantes benefícios e vantagens.
Basicamente, a nova tecnologia garante uma cobertura mais eficiente e mais ampla, além de maiores transferências de dados e um aumento significativo de conexões simultâneas. Já é possível, inclusive, fazermos algumas comparações: as redes da 4ª geração conseguem entregar uma velocidade de conexão de, em média, 33 Mbps. A expectativa é de que o 5G entregue velocidades 50 a 100 vezes maiores, chegando até 10Gbps. Ademais, o atual sistema comporta até 2.000 equipamentos ativos por quilômetro quadrado enquanto a rede 5G comporta 50 vezes mais, o que resulta em até 100.000.
A rede 5G vai permitir um maior consumo de serviços (transferência de arquivos, comunicação em tempo real, streaming, jogos on-line, etc) e com mais agilidade. Também vai diminuir a resposta da conexão (latência) e terá maior capacidade de banda. Não há dúvidas de que o 5G realmente é uma tecnologia de ponta, que trará muitas facilidades para o nosso dia a dia. Entretanto, não podemos ignorar os diversos dilemas que permeiam esse assunto.
Afinal, todos os riscos se tornam relevantes a partir do momento em que eles impactam a economia de um país, além da vida de todo cidadão. O futuro certamente é nebuloso. Mas precisamos acompanhar quais serão os próximos passos do governo brasileiro mediante a tantos entraves. E, principalmente, ficarmos atentos às medidas que serão tomadas para receber, talvez em breve, essa tecnologia revolucionária no nosso país.
(*) – É filiado do LIDE FUTURO e fundador da 2Find.