A expansão das novas tecnologias de IA (Inteligência Artificial), a adesão a ecossistemas e arquiteturas descentralizadas e os experimentos com o metaverso são algumas das tendências que as empresas brasileiras devem acompanhar nos dois anos para tonar suas operações mais ágeis. A carência de mão de obra, por outro lado, é um desafio que essas organizações vão encarrar para a transformação digital de seus negócios.
É o que mostra o “Tech Trends 2023”, estudo anual da Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, que oferece percepções, insights e inspirações para a jornada digital, para apoiar os líderes de negócios na tomada de decisões estratégicas e na priorização dos investimentos em tecnologia.
“Um número crescente de organizações, em todos os setores, está buscando acelerar seus esforços de transformação digital para tornar suas operações mais ágeis e eficientes, assim como para responder a flutuações de grande impacto na rotina e nas expectativas dos clientes.
O relatório apresenta as estratégias e tecnologias que possivelmente conduzirão a novos planejamentos, a fim de promover a primazia dos negócios para a TI, minimizar riscos, otimizar o valor dos investimentos e trabalhar para construir confiança nos ecossistemas de negócios”, disse Ronaldo Fragoso, líder de alianças de negócios e do CIO Program da Deloitte.
O 14º relatório identifica as seis macro forças tecnológicas que, juntas, fornecem uma estrutura para a evolução contínua em direção a três estratégias: simplicidade, inteligência e abundância. Essas tendências revelam novas tecnologias e abordagens para oportunidades em áreas que valorizam a interação, informação, computação, negócios, cyber, trust e core modernization.
“Cada tendência oferece oportunidades para testar novas abordagens e aprender e transformar tanto a tecnologia quanto os modelos de negócios. A transformação deve ser liderada por negócios e missões, alimentada não só por tecnologias já consolidadas, mas também por tecnologias emergentes, com o objetivo de criar e moldar novos mercados.
O Tech Trends 2023 pode ajudar as organizações a nutrir o que temos agora enquanto navegamos para o que vem a seguir, construindo algo significativo, sustentável e favorável para o amanhã”, acrescenta Rodrigo Moreira de Oliveira, sócio de Technology Strategy & Transformation da Deloitte.
Confira as seis tendências e o impacto delas para as empresas brasileiras:
- – Abrindo caminhos para novas tecnologias de IA (Inteligência Artificial) — Enquanto ferramentas do IA crescem exponencialmente, poucas organizações ainda percebem o grande ganho que os algoritmos podem trazer. A maior ferramenta do IA é a confiança e as organizações estão aos poucos aprendendo a confiar nas novas tecnologias personalizadas.
A Inteligência Artificial já está presente em mais de 40% das organizações mundo afora. Em uma recente pesquisa da Tortoise Media, que analisou 140 indicadores e 62 países, e considerou pilares como implementação, inovação e investimento, o Brasil ficou posicionado em 39° lugar. O País lidera o ranking na América Latina, mas ainda há um grande caminho para avançar em direção aos países que utilizam amplamente a tecnologia, como Estados Unidos, Índia e Reino Unido.
Um indicador que demonstra um avanço, ainda tímido, é a disponibilidade de profissionais especializados no tema. Nesse ranking o Brasil figura em 31° lugar. Com o projeto de lei para o Marco Legal da Inteligência Artificial em tramitação, o País começa a pavimentar um importante caminho para princípios e diretrizes que irão dar a transparência e credibilidade necessárias para a universalização da tecnologia.
- – Além da nuvem: como controlar o caos do multiverso — Para driblar a complexidade do universo multicloud, algumas organizações estão começando a automatizar processos. Serviços de cloud promovem acesso a ferramentas e técnicas exclusivas para reduzir a complexidade desse tipo de operação. O Brasil é um dos líderes mundiais em uso de multiclouds.
A mais recente pesquisa de Enterprise Cloud Index da Nutanix aponta que 54% dos entrevistados utilizam duas ou mais nuvens, enquanto globalmente esse número é de 36%. A adoção desses sistemas trouxe também alguns desafios, como a capacitação de profissionais, além da própria complexidade de gerenciamento das nuvens.
Umas das abordagens que tem sido adotadas é o conceito de Site Reliability Engineering (SRE), que incorpora aspectos de engenharia de software a questões de infraestrutura, segurança e operação. Como complemento a esse controle, organizações estão adotando também plataformas de Infraestrutura Hiperconvergente, ou HCI, especializadas em trazer uma camada de abstração para gestão.
- – Nós confiamos em nós mesmos: ecossistemas e arquiteturas descentralizadas — Blockchains-powered não estão sendo só valorizados, mas estão criando confiança digital. Considerando a complexidade na gestão dos ecossistemas, a segurança cibernética tem cada vez mais sido prioritária nas organizações. A Web3 traz o conceito da descentralização e novos modelos de propriedade, comunidades e, claro, oportunidades de negócio.
Utilizando-se de tecnologias como blockchain, NFT e do metaverso, algumas startups brasileiras já estão se inserindo nesse mercado que, segundo o Gartner, deve movimentar R$ 14 trilhões no mundo até 2030. No foco dessas startups e organizações está a democratização da Web3, o fomento e ampliação da cultura e do uso de NFTs, e a experimentação, popularização e comercialização no mundo dos games, que tem se mostrado uma excelente porta de entrada para o tema.
Assim como globalmente a segurança da informação ainda segue sendo uma das preocupações, mesmo com o blockchain, existem outros temas sobre privacidade de dados, propriedade intelectual que ainda estão em discussão.
- – Conectar e expandir: a modernização da realidade salta a passos largos — Mais do que substituir os mainframes, as organizações procuram aprimorá-los, conectando e estendendo a tecnologias modernas.
Diante das dificuldades de integração com plataformas legadas, agilidade limitada no desenvolvimento de novas soluções e dificuldade em encontrar ou reter talentos para manutenção dos mainframes, muitas organizações ainda seguem migrando ou com planos para migrar seus workloads para nuvem no Brasil. No entanto, conforme aponta o relatório global da Deloitte, percebe-se um novo movimento para complementar essas plataformas e dar a agilidade ou extensão necessária às suas funcionalidades, sem aposentá-las.
Isso se deve, em parte, pelo receio de disrupção dos negócios com a migração, assim como as dificuldades técnicas e também de talentos, novas abordagens que se utilizam de API’s e camadas de integração que incorporam AI e tecnologias mais recentes estão surgindo para se conectar aos mainframes e criar essa nova camada de serviços flexível. É provável que esse pêndulo entre nuvem pública e mainframes indique outro ponto de equilíbrio, no País, nos próximos anos.
- – Flexibilidade, a melhor habilidade: reimaginando a força de trabalho — Nos últimos anos, as empresas têm se comprometido com as novas ferramentas tecnológicas. Já não é novidade que existe um grande déficit de profissionais de tecnologia no mundo e, no Brasil, não é diferente. Um estudo da Brasscom mostra que esse déficit pode chegar a quase 800 mil profissionais até 2025.
A transformação digital, acelerada pela pandemia, expôs esse grave problema. Para evitar disrupção em seus planos de negócio, as organizações já perceberam a importância da formação e capacitação de profissionais de tecnologia, buscando não somente profissionais com formação na área, mas também de outras carreiras.
A flexibilidade nas habilidades, ou o reskilling (requalificação profissional) e o upskilling (atualização profissional constante), passam a ser fundamentais para complementar a oferta acadêmica no país.
- – Imersão na internet para empresas — Por muitos anos, a internet foi conhecida como um meio a ser acessado por telas retangulares. Atualmente, especialistas em tecnologia reconhecem que a internet não pode continuar reduzindo sua complexidade, pois usuários estão utilizando interfaces conhecidas como metaverso.
No Brasil e no mundo, o metaverso é um tema em expansão. Uma pesquisa realizada pela Toluna, em 2022, apontou que mais de 80% dos brasileiros ainda não tiveram nenhum contato com o metaverso, mas 33% gostariam de ter essa experiência para compras, jogos ou shows virtuais.
O crescimento moderado no mercado nacional já mostra algumas experiências. Enquanto algumas organizações utilizam a tecnologia para promover ou posicionar suas marcas estrategicamente, ainda sem mirar novas fontes de geração de receita, outras já caminham nessa direção e lançam plataformas para extensão de seus negócios físicos e geração de receita adicional.
Por exemplo, recentemente, uma Feira de Negócios criou um mundo onde seu público pudesse não só fazer networking, reuniões, mas também fechar negócios por meio brokers e produtores. Uma imobiliária no Sul do país lançou um empreendimento no metaverso para complementar suas vendas. Ou seja, é uma ferramenta ainda em fase experimentações e descobertas. – Fonte e outras informações: AC/Deloitte (Hill+Knowlton Strategies) – (https://www.deloitte.com).