Allan Conti (*)
A saúde mental dos médicos tem preocupado os profissionais do setor e vem sendo discutida com frequência durante os últimos anos. Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Carlos (USFCAR), que acompanhou trabalhadores de saúde entre 2021 e 2022, revelou que 86% dos entrevistados sofriam com burnout, enquanto 81% apresentavam níveis elevados de estresse.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que, em 2022, aproximadamente um em cada quatro profissionais de saúde apresentou sintomas de ansiedade, depressão e esgotamento, derivados dos desafios diários e crescentes da profissão, como carga de trabalho elevada, pressão emocional, falta de recursos, entre outros.
Neste contexto, torna-se essencial para as instituições de saúde a adoção de estratégias e ferramentas capazes de aliviar a sobrecarga e otimizar o fluxo nos ambientes de trabalho. Diante disto, a tecnologia surge como uma alternativa efetiva para aprimorar as experiências e os sistemas de trabalho destes profissionais, sobretudo as soluções de suporte à decisão clínica, que garantem impactos positivos para a melhoria na qualidade do cuidado ao paciente.
. O uso das soluções de suporte à decisão clínica na prática – Segundo levantamento realizado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do estado de São Paulo, com 228 profissionais de saúde, 54% dos participantes apontaram que o desenvolvimento tecnológico é a tendência que vai proporcionar o maior impacto sobre o setor entre 5 e 10 anos.
Entre os principais agentes desse desenvolvimento estão as soluções de suporte à decisão clínica (SDC), que ao auxiliarem os médicos na tomada de decisões, fornecendo informações baseadas em evidências no ponto de atendimento, promovem maior eficiência, precisão e qualidade aos cuidados prestados ao paciente.
A partir disto, estas ferramentas contam com um alto potencial quando o assunto é burnout entre os profissionais de saúde. Isto porque, além do aprimoramento da qualidade do cuidado, as soluções de suporte à decisão clínica oferecem outros benefícios relacionados à redução de carga de trabalho, aumento da confiança com decisões mais assertivas, personalização do cuidado e consequente redução do estresse gerado pelo alto volume de decisões complexas.
Entretanto, à medida que a conexão entre a utilização da tecnologia e a redução do esgotamento dos profissionais de saúde torna-se mais evidente, as lideranças de tecnologia das instituições precisam se adaptar a esse novo cenário.
. O papel das equipes de tecnologia na implementação das soluções – No segmento de saúde, os Diretores de Tecnologia da Informação (TI) desempenham um papel essencial no desenvolvimento de estratégias para enfrentar os desafios da transformação digital. Esses líderes têm a responsabilidade de evitar a sobrecarga dos profissionais através da modernização e simplificação dos fluxos de trabalho clínico.
No entanto, a estratégia do time de TI não pode ser planejada verticalmente, especialmente quando se trata da abordagem relacionada ao burnout. É fundamental que essa estratégia se conecte às operações clínicas, envolvendo equipes multidisciplinares em todas as etapas, desde a aquisição de equipamentos e soluções, até o desenvolvimento de caminhos para aprimorar a jornada do paciente.
Esse alinhamento requer a participação ativa da liderança clínica e a incorporação das perspectivas dos médicos, visando criar uma estratégia que não apenas reduza, mas também previna o burnout.
Assim, para uma implementação efetiva das ferramentas de suporte à decisão clínica, é essencial o envolvimento direto dos médicos, que possuem um conhecimento da dinâmica médico-paciente, contribuindo em todas as etapas, inclusive na implementação da tecnologia na rotina de trabalho.
Diante disto, o combate ao esgotamento dos profissionais de saúde requer um esforço conjunto, envolvendo diferentes áreas e estabelecendo uma consolidação estratégica e uma governança de TI alinhada às necessidades do corpo clínico.
Por fim, é crucial adotar soluções que, em sinergia com as demandas do mundo digital, melhorem a experiência dos médicos, minimizem a carga de trabalho excessiva e incentivem uma rotina mais equilibrada e saudável.
(*) – É Diretor Comercial da Wolters Kluwer Health no Brasil (https://www.wolterskluwer.com/pt-br).