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Startups e pequenas empresas de tecnologia desafiam os maiores

em Destaques
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Luiz Maldonado (*)

No mundo corporativo, a moral da história bíblica do Antigo Testamento de “David e Golias” nunca foi tão bem ilustrado quanto agora. Empresas gigantes dominam mercados globais, mas uma nova geração de startups e pequenas empresas quebra esse padrão, com poucos recursos e ideias ousadas. Elas desafiam marcas mundialmente conhecidas, em espaços que a estrutura tradicional de grandes empresas tem dificuldade de se encaixar. E a história bíblica resume bem essa realidade: um pequeno pastor, sem armas de grande porte, vence um gigante guerreiro. O segredo? Inteligência, adaptação e aproveitamento das fraquezas do oponente.

Muitas gigantes do mercado, como Nike, Apple, Coca-Cola e McDonald’s, dominam setores e geram receitas astronômicas. Porém, os modelos de negócios que as fizeram gigantes podem não ser mais tão eficazes nos dias atuais. As gigantes que acreditavam estar no topo do mundo começam a ser incomodadas por empresas menores, mais rápidas e criativas. A inovação não exige orçamentos bilionários. A verdadeira força de uma startup está na sua capacidade de ser ágil, de criar soluções novas onde os grandes ainda se apegam a fórmulas tradicionais.

Elas começam a perceber que um modelo de negócios que funcionava por décadas já não basta. Empresas como Amazon e Revolut provaram isso. A Amazon, ao escolher não competir com o Walmart pelos preços mais baixos, mas sim pela experiência do cliente, inovou na logística e na rapidez das entregas. Isso forçou até os maiores a repensarem seus processos. Por outro lado, o Revolut, um banco digital do Reino Unido, desafiou os bancos tradicionais, cujos processos “cautelosos” e burocráticos eram considerados parte de seu prestígio. Ao oferecer transações rápidas e simples, sem a lentidão dos bancos antigos, o Revolut conquistou o mercado e criou uma nova expectativa para serviços financeiros.

Esse espírito pioneiro é o coração das startups, que buscam crescimento rápido e impacto positivo na vida das pessoas. Startups não têm a obrigação de serem lucrativas desde o início. Elas buscam uma escalabilidade agressiva e, frequentemente, dependem de sequências de financiamento até alcançarem a maturidade. Pequenas empresas, por outro lado, tendem a ser mais conservadoras, ao buscar um retorno estável e menos arriscado, com fontes de receita confiáveis e um crescimento gradual e sustentável.

Ainda assim, startups e pequenas empresas enfrentam os mesmos desafios ao competir com as grandes marcas. O primeiro é a inovação. Não se trata apenas de lançar novos produtos ou serviços, mas de identificar um ponto cego das grandes empresas e agir de forma diferenciada. As grandes marcas muitas vezes estão presas a modelos promissores para elas se tornarem o que são hoje, mas ainda que atualmente se tornam antiquados, enquanto as pequenas empresas têm a flexibilidade de lançar algo novo de maneira mais ágil, sem o peso de processos que as gigantes precisam manter.

O segredo está em explorar fraquezas. Assim como na Bíblia, 1 Samuel 17, o jovem pastor David derrotou o gigante guerreiro Golias com um estilingue e uma pedra, confiando em Deus. Apesar de ser inexperiente e subestimado, ele venceu o poderoso inimigo com coragem e fé.

O exemplo da Tesla, que não se limitou a construir carros elétricos, mas também criou uma rede de estações de carregamento, demonstra isso por outra perspectiva. A empresa não competia apenas no mercado automotivo, a empresa forçou concorrentes a repensarem a infraestrutura necessária para seus próprios carros. Criou, assim, uma vantagem competitiva tão forte que ficou difícil para seus concorrentes simplesmente ignorá-la. Os veículos de outras marcas passaram a depender das estações de carregamento da Tesla, e isso se tornou um ponto de decisão para os consumidores. O que parecia um movimento arriscado – e no mínimo, fora da curva – reconfigurou toda a indústria.

Além disso, a inovação não se resume a lançar um produto novo. Ela envolve transformar processos e relações. Isso vale para setores como o de graxas e lubrificantes, onde pequenas empresas também podem se destacar com tecnologias que tornam os processos mais eficientes, sustentáveis ou até inovar no modelo de negócio. Pequenas empresas têm a capacidade de repensar até os produtos mais tradicionais, introduzir soluções mais econômicas e ecológicas, como o uso de energias renováveis na produção ou a criação de fórmulas mais ecológicas.

Porém, para ser competitivo, um pequeno negócio não pode se esquecer de cuidar do relacionamento com seus clientes. Em mercados saturados, as grandes marcas muitas vezes deixam de lado o atendimento ao cliente, ao priorizar a eficiência operacional. São os pequenos negócios que conseguem se destacar com experiências personalizadas, com um atendimento mais próximo e, muitas vezes, mais ágil.

O caminho das startups e pequenas empresas para desafiar gigantes não é fácil, mas é possível. Elas precisam agir de forma diferente, não simplesmente trilhar o mesmo caminho. Elas têm que se diferenciar pela inovação, pela agilidade e pela compreensão dos pontos fracos das grandes. Como David, elas devem ser inteligentes, estratégicas e, principalmente, estar dispostas a fazer o que os gigantes não imaginam. Assim poderão conquistar um espaço no mercado e transformar suas ideias em negócios poderosos.

(*) Fundador e CEO da Lubvap Special Lubrificants, empresa brasileira de distribuição com mais de 15 anos no mercado de soluções em lubrificação industrial, que atende o país inteiro e também a América do Sul.