José Alves Trigo (*)
A nossa mensagem disposta nas redes sociais torna-se um discurso público, uma mensagem que é transmitida para a comunidade. Para o mundo, em alguns casos.
O escritor e sociólogo canadense Ervin Goffman (1922-1982) estabelece uma metáfora interessante quanto à representação que desenvolvemos em diversos papéis sociais, como se fosse uma performance teatral. Dessa forma, coloca que o sujeito busca se apresentar de forma compatível com as expectativas sociais daqueles com quem interage, buscando assim uma aceitação social.
Talvez não se trate da necessidade que temos de buscar uma aceitação social, mas o fato de que somos um ser, por natureza social, e como bem defendeu Clarice Lispector em um dos seus poemas, já nascemos com a necessidade de pertencer. O problema é que temos algumas comunidades às quais pertencemos por opção ou necessidade, como trabalho, igreja ou faculdade.
Cada post que você publica em uma rede social vai ajudar a compor o seu “eu” que é um personagem, como se você se transformasse em um ator, na visão de Goffman. Em alguns casos, as postagens conflitam com os interesses das diferentes comunidades a que você pertence. São conhecidos os casos de pessoas que entram em licença-doença e postam fotos na praia. Seu pastor, padre, professor ou chefe muitas vezes também está nas redes sociais e acessará suas informações, comprometendo seu personagem.
As postagens sobre questões políticas e religiosas também estão nesse contexto. Em princípio, vivemos em um país de ampla liberdade, mas que exige ponderação e equilíbrio. Afinal, quando você emite sua opinião, está se expondo ao mundo que acessa as redes sociais, ou seja, a quase todos.
A cada mensagem contundente é provável que você agrade a alguns setores mais sectários, mas desagrade a outros. Será que isto vale a pena? É algo que você deve ponderar. Não se trata de censura. É possível dizer quase tudo desde com equilíbrio.
Vimos há pouco tempo uma repórter de televisão que foi demitida após comentar as suas condições de trabalho nas redes sociais. E recentemente uma decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de Minas Gerais considerou que as postagens de empregados, mesmo que fora do horário de trabalho, podem ser alvo de punição desde que isto afete a imagem da empresa.
Parece que estamos apenas no começo dessa discussão e é provável que em breve as empresas desenvolvam ou aprimorem seus códigos de ética para preverem esse tipo de atitude por parte dos funcionários.
Mas até lá deve prevalecer o bom senso.
(*) É Professor de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Análise do Discurso. Atuou como jornalista no Jornal Folha de S. Paulo e A Tribuna, de Santos.