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Será que os líderes fizeram tudo na pandemia frente à transformação digital?

em Destaques
quinta-feira, 03 de junho de 2021

Carlos Baptista (*)

A pandemia da Covid-19 provocou um conjunto de mudanças em nossa sociedade, tanto no nível pessoal quanto no aspecto profissional. Para muitos, questões como o trabalho home office, as compras por meio das plataformas de delivery, o uso da telemedicina e as aulas através do ensino remoto passaram a fazer parte do cotidiano.

Entretanto, dentro desse cenário, fica a provocação: houve uma disrupção no modelo organizacional das corporações ou as empresas simplesmente se digitalizaram? Em meio a essa situação caótica logo no seu início, há mais de um ano, não havia uma solução imediata para conter o avanço do coronavírus. Dessa maneira, a principal medida adotada pelas autoridades foi o isolamento social como uma maneira de travar a expansão do contágio.

Devido a esse movimento, todos os tipos de negócios no Brasil e no mundo sofreram sérios impactos que ocorreram em um grau menor ou maior nas corporações conforme o nível de maturidade da sua respectiva organização interna ou mesmo da área de atuação.

É necessário reconhecer que muitos deram o seu melhor, e mesmo assim é difícil identificar alguém que escapou ileso desta pandemia. Enquanto alguns sequer tiveram chance de se reinventar, muitos negócios apostaram na tecnologia como uma forma de manter as operações em dia.

O investimento nesse quesito permitiu às lideranças manterem as equipes de colaboradores à distância, os seus canais de venda e de distribuição ativos mesmo com o distanciamento social junto aos consumidores. Com isso, muitas empresas conseguiram sobreviver até o momento.

Esse movimento é claramente percebido por meio da pesquisa elaborada pela Economist Intelligence Unit (EIU) e encomendada pela Microsoft, que mostra como a pandemia ajudou as organizações a se adaptarem à Covid-19 em relação à tecnologia. Divulgado em maio, o levantamento aponta que todos os setores aceleraram as iniciativas de transformação. Ainda de acordo com o estudo, as empresas passaram a depender muito mais das ferramentas digitais.

A tecnologia de nuvem ficou na frente, pois 50% das organizações destacaram que esse item desempenhou um papel importante e crítico nas operações. Em seguida, vêm as tecnologias que permitem o trabalho remoto (40%), inteligência artificial e machine learning (33%) e Internet das Coisas (31%).

Mas e daqui para frente? Será que a disrupção digital se afunilou, esgotando alternativas a serem usadas pelos líderes dentro das corporações? De fato, essa pandemia acelerou todo o processo de transformação digital, mas essa onda não pode mais parar porque é irreversível. Para isso, as apostas não podem se restringir ao universo da tecnologia. Por essas e outras, existem outros aspectos que precisam ser abordados e considerados pelas corporações e lideranças:

A evolução tecnológica vai continuar num crescimento em ritmo exponencial e não irá mais parar. Exemplos dessa tendência são a computação quântica e a inteligência artificial na tomada de decisões. Ou seja, as atividades rotineiras serão automatizadas. Como consequência, essa situação irá gerar excesso de profissionais em algumas áreas.

Por outro lado, esses colaboradores precisam ser requalificados e o importante é que essa requalificação foque tanto em soft skills quanto em hard skills. Nesse último caso, a principal complexidade está no fato da constante e exponencial evolução da tecnologia.

Então o grande foco nessa requalificação deverá ser nas soft skills ou no que é informalmente conhecido como “human skils”, cujas habilidades são chamadas de não-técnicas. Esse desenvolvimento permitirá mais versatilidade e flexibilidade ajudando a focar mais na eficácia ao invés da eficiência.

. Liderança e cultura organizacional – A liderança precisa ter um novo olhar nesse processo de transformação digital seja internamente como em relação ao “mundo” exterior à organização. E para isso precisa empoderar a equipe e se relacionar com a estrutura de um modo diferente. A comunicação junto ao colaborador não pode ser feita como antes, quando toda a equipe recebia a mesma informação do mesmo modo.

O líder precisa lidar com o profissional de forma individualizada para ele sentir que também tem uma experiência única em relação à empresa ao invés de simplesmente pertencer a uma área. Com essa nova organização, “a empresa” e o líder entraram na casa dos profissionais sem serem convidados, por meio de reuniões e conversas via videoconferências. Esse tema é algo a ser tratado com muita atenção porque é muito intrusivo.

Nesse pós pandemia, as novas lideranças precisam ser mais respeitosas e inclusivas. Além disso, devem incentivar a criatividade para que toda a equipe contribua com a transformação digital. A cultura organizacional mudou e passou a entender o erro como uma etapa no processo de crescimento.

. Foco no cliente – Com a transformação digital, as organizações e os profissionais precisam repensar seus modelos de negócio. O objetivo é sair do foco no produto para direcionar essa atenção para o cliente e na experiência que ele tem. Devido à pandemia, todos os consumidores e colaboradores descobriram novas maneiras de viver.

No pós pandemia, esses públicos vão exigir que esse conforto e experiência obtida ao consumir algo melhorem ainda mais. Assim, as empresas que focam nesse ponto vão se sobressair e terão uma retomada mais fácil para se recuperar economicamente.

A pandemia acelerou a digitalização e gerou uma nova consciência nas pessoas, dentro e fora das organizações. Por esse motivo, os líderes precisam ficar muito mais atentos para manter essa onda de transformação e incentivar os colaboradores a contribuírem com novas ideias e soluções.

As novas lideranças devem ser mais empáticas e inclusivas para que os resultados internos sejam potencializados e a onda de transformação digital seja alimentada. E você, já fez de tudo mesmo pela sua equipe?

(*) – É professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da FIAP. Especialista em transformação digital, atua como diretor da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano e é co-criador do Modelo Ágil Comportamental.