João Pires (*)
Não há como negar que o ESG ganhou popularidade nos últimos anos. Entretanto, é preciso fazer uma pergunta: será que as organizações compreenderam, de fato, a real importância dessa agenda?
Isso é, levando em conta o atual cenário em que estamos inseridos, marcado por situações que vão desde conflitos entre nações, crises humanitárias e, principalmente, as alterações climáticas que já mostram os seus impactos, aplicar o conceito torna-se, ao mesmo tempo que uma necessidade, uma ação desafiadora.
Atualmente, vemos uma maior conscientização das organizações em prol de integrar a agenda nas estratégias dos negócios. Prova disso, de acordo com um levantamento feito pela Bloomberg Intelligence, os investimentos ESG já representam mais de um terço do total de ativos sob gestão e podem alcançar US$ 53 trilhões até 2025.
Muitos desses investimentos se dão ao fato de que organizações com boas pontuações em ESG tendem a mostrar uma imagem mais positiva para o público. Além disso, com as mudanças climáticas se acentuando de forma trágica, reforça-se a cobrança das empresas acerca das responsabilidades ambientais, sociais e de governança em prol da causa.
Isso traz à tona obstáculos que as companhias precisam ultrapassar não apenas para estarem em conformidade com os órgãos regulatórios, mas também para gerarem oportunidades frente a atual realidade. Diante disso, destaco aqui seis desafios para aplicação eficiente da agenda ESG nas empresas:
- – Atuar com múltiplas possibilidades – Embora o conceito seja altamente atrelado a causa ambiental, o ESG vai muito além. Deste modo, mais do que reduzir a utilização de materiais como, por exemplo, o papel, é preciso que a organização trabalhe dentro do conceito de transformação digital, buscando exercer uma gestão com transparência e compromisso com a verdade.
- – Identificar as barreiras internas e externas – O cenário que estamos enfrentando exige desenvolvimento de soluções no curto prazo, mas que durem a longo prazo. Certamente, essa não é uma tarefa fácil, ainda mais levando em conta o sistema burocrático brasileiro. No entanto, isso não deve ser utilizado como um motivo que impeça a inovação na organização, mas, uma vez identificado, cabe a empresa a missão de buscar métodos e alternativas que viabilizem os processos.
- – Economia circular – Complementando o primeiro tópico, a sustentabilidade é um pilar importante na agenda ESG. Diante disso, as organizações têm a missão de implementarem um modelo de negócio que desempenhe desde o melhor uso e reaproveitamento dos recursos naturais, até a redução de poluentes como o CO2.
Isso considerando que, no Brasil, segundo o estudo The Global Sustainability Barometer, realizado pela Kyndryl em colaboração com a Microsoft, para 60% das empresas, a demanda dos clientes por produtos sustentáveis continua sendo o principal impulsionador dos seus esforços de sustentabilidade.
- – Uso da tecnologia – Embora tenhamos cada vez mais a aplicação de uma gestão tecnológica, uma coisa é fato: vivemos uma desigualdade digital. De acordo com dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT), cerca de 37% da população mundial está desconectada da internet.
Além disso, ainda segundo o relatório da Kyndryl, apenas 33% das organizações aproveitam inovações tecnológicas para atingir metas de sustentabilidade. Deste modo, para que, de fato, haja o princípio de equidade, é essencial ultrapassar barreiras de acesso por meio da criação de infraestruturas que potencializem o alcance a regiões de difícil acesso.
- – Humanização – Observa-se um verdadeiro alvoroço e receios quanto à possível substituição de mão de obra devido à eficiência de tecnologias como a Inteligência Artificial. Contudo, é preciso ter em mente que, mais do que recursos, a presença humana é que ajuda a trazer resultados. No âmbito social, é essencial humanizar a equipe a fim de gerar engajamento e oportunidades.
- – Aplicar medidas em meio ao movimento de transformação – Não há um roteiro fixo a ser seguido; é necessário implementar ações na prática. Além disso, diversas empresas se encontram em diferentes estágios de maturidade em relação ao tema.
No Brasil, por exemplo, o estudo da Kyndryl mostrou que apenas 12% integraram a sustentabilidade em suas estratégias e dados. Assim, as organizações enfrentam o desafio de implementar ações em uma realidade em constante mudança, integrando todo o aprendizado adquirido durante o processo com agilidade e qualidade.
Todos os desafios têm um ponto em comum: para superá-los, é preciso implementar boas práticas de gestão. A agenda ESG impacta toda a organização, portanto, é necessário garantir que todas as áreas operem em conformidade com esses princípios na execução de suas atividades. E, para atingir esse objetivo, é necessário suporte na integração e execução dos programas.
Quanto a isso, contar com o apoio da tecnologia é fundamental, mas é crucial utilizá-la de forma correta, por meio de um sistema de gestão que viabilize uma administração assertiva e integrada, alinhada aos desafios enfrentados. Além disso, cabe enfatizar que essa não é, nem de longe, uma tarefa fácil.
Portanto, ter o auxílio de uma consultoria especializada é uma abordagem eficiente, uma vez que um time de especialistas pode ajudar na construção de um processo gerencial assertivo e na aplicação de metodologias eficientes.
A tendência é que o ESG ganhe cada vez mais relevância e importância no mundo empresarial, especialmente considerando a crise climática que estamos enfrentando, com efeitos irreversíveis que exigem empenho tanto de órgãos governamentais quanto das organizações privadas.
Mais do que uma sigla, é preciso enfatizar que o conceito visa implementar ações que integram sustentabilidade, governança e gestão, sempre com foco nas pessoas, que são e sempre serão o centro de todas as ações.
(*) – Formado em Marketing e Gestão Comercial pela UMESP, é executivo de vendas da SPS Group (https://spsgroup.com.br/).