Criação da moeda digital faz parte do processo de bancarização do país que conta atualmente com cerca de 188,3 milhões de brasileiros
O processo de bancarização da população brasileira e a digitalização de sistemas financeiros no país é um fator presente. Com o advento do Pix, em 2020, e a distribuição do auxílio emergencial, durante a pandemia, o crescimento da bancarização, ou seja, uma pessoa que tenha uma aplicação, uma conta corrente de qualquer modalidade ou algum tipo de empréstimo, tornou-se comum.
Segundo dados do Banco Central, pouco antes da pandemia, em 2019, o Brasil possuía 165,6 milhões de pessoas bancarizadas. Hoje, são mais de 188,3 milhões, representando um crescimento de quase 14%. Estima-se que o país possua apenas 16% da população adulta fora do sistema financeiro.
Dentre as inovações propostas pelo BC para esse avanço bancário e digitalização financeira é possível citar o Open Finance, Pix e, agora, o Real Digital. A última iniciativa vai de encontro com a total digitalização prevista por Roberto Campos Neto, presidente da instituição financeira.
Para Orli Machado, CEO da C&M Software, empresa PSTI (Provedores de Sistemas de Tecnologia da Informação) regulamentada pelo Banco Central a transacionar Pix no país, e uma das participantes disponíveis para o projeto do Real Digital; a iniciativa visa inovar a economia do país. “O Real Digital chega para modernizar o sistema financeiro e incrementar a digitalização da economia brasileira. Open finance e PIX foram os precursores para a digitalização e abriram caminho para o Real Digital, que terá uma vertente diferente de tudo que existe no mercado financeiro atual”, explica.
O que é o Real Digital?
O Real Digital será uma versão virtual da moeda física, com a mesma conversão e valor. Ele poderá ser utilizado para realizar transações comerciais, pagamentos, transferências e remessas, entre outras operações financeiras. A moeda digital terá paridade e será linear com o Real – um para um; podendo seu usuário decidir por qual moeda ele deseja transacionar.
“A ideia é criar uma forma de pagamento eletrônico, mais segura e eficiente, que possa ser utilizada por qualquer pessoa ou empresa que tenha acesso à internet. A expectativa é que sua circulação seja garantida pela autoridade monetária brasileira, assim como acontece com a moeda física atualmente. Além disso, especula-se que o Real Digital possa ser integrado a uma plataforma de blockchain, o que permitiria maior rastreabilidade e segurança nas transações realizadas utilizando a moeda digital”, comenta Machado.
Tokenização, Bitcoin e Real Digital são a mesma coisa?
Tokenização é o processo de conversão de informações confidenciais em um token, que é um valor único e aleatório que pode ser usado em vez dos dados originais. Essa técnica é frequentemente usada para proteger as informações do cliente durante transações financeiras ou outras operações que envolvam dados sensíveis.
Ela também pode ser usada em outros contextos além das transações financeiras, como para armazenar informações médicas, senhas e outras informações confidenciais. O processo de tokenização acontecerá com o Real Digital.
Diferentemente do Bitcoin, que são moedas digitais descentralizadas e funcionam em uma rede blockchain pública, o Real Digital deverá ter o controle e regulamentação de uma rede comandada pelo próprio Banco Central.
“As criptos são projetadas para serem usadas como um meio de troca, armazenamento de valor e investimento especulativo. No caso do Bitcoin, por exemplo, há um limite máximo de 21 milhões de moedas que podem ser criadas. Em resumo, enquanto as criptomoedas são uma forma de dinheiro digital, a tokenização é uma técnica para proteger informações confidenciais e permitir transações seguras e eficientes em vários domínios”, afirma o CEO.
Como operar o Real Digital?
Os processos sobre a efetivação e operação da nova moeda continuam especulativos. No entanto, esperasse que o Real Digital seja armazenado em carteiras digitais, assim como acontece com outras criptomoedas e tokens. As carteiras digitais são aplicativos que permitem aos usuários armazenar, enviar e receber tokens digitais de forma segura e privada.
Quanto aos bancos convencionais, é provável que eles ofereçam serviços relacionados ao Real Digital, como a compra e venda da moeda, bem como serviços de custódia e gerenciamento de carteiras digitais. Além de um possível sistema que permita a conversão da modalidade digital para a física e vice-versa, uma possibilidade seria a criação de uma rede de caixas eletrônicos ou casas de câmbio que permitam a troca do Real Digital por dinheiro em espécie. Outra opção seria a possibilidade de fazer saques em locais físicos, como bancos e lotéricas.
O projeto piloto do Real Digital será iniciado pelo Banco Central a partir da segunda quinzena do mês de abril e deverá acontecer em um ambiente simulado, sem envolver transações ou valores reais. Nessa etapa, o Banco Central avaliará os benefícios da programabilidade de uma plataforma de tecnologia de registro distribuído (Distributed Ledger Tecnology – DLT) multiativo para operações com ativos tokenizados.
“É válido lembrar que o Real Digital nascerá conectado ao SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), isto significa que ele terá ligação com TED, Pix e demais sistemas de liquidação existentes. Estão sendo estudados diversos mecanismos e tecnologias para garantir a segurança do Real Digital, incluindo a utilização de criptografia avançada e tecnologia blockchain. Além disso, é esperado que o BCB estabeleça protocolos rigorosos de segurança para as instituições financeiras que irão operar com a moeda digital”, finaliza Orli.